CARLOS ALBERTO ALBUQUERQUERESPONSÁVEL PELO BLOG CONEXÃO REGIONAL

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quarta-feira, 1 de março de 2017

MEIO AMBIENTE Campanha da Fraternidade foca na preservação de biomas



A celebração de abertura será presidida pelo arcebispo de Fortaleza, dom José Antonio Aparecido Tosi

O trabalho das dioceses e paróquias é chegar às comunidades, escolas e instituições com palestras sobre os biomas, especificamente sobre a Caatinga ( Foto: Cid Barbosa )
No Ceará, há ainda uma região de Mata Atlântica. Na Serra de Guaramiranga, é possível encontrar espécies características do bioma ( Foto: Cid Barbosa )

"Não derrube o mato, nem mesmo um só pé de pau. Não toque fogo no roçado nem na caatinga". Há mais de um século, os dez mandamentos de Padre Cícero (1844-1934) pareciam falar direto do futuro ou para ele, antecipando a preocupação da Igreja com o meio ambiente reforçada pela Campanha da Fraternidade de 2017, lançada hoje (1º) pela Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) com o tema "Fraternidade: biomas brasileiros e defesa da vida". A celebração de abertura será presidida, nesta noite, pelo arcebispo de Fortaleza, Dom José Antonio Aparecido Tosi, na Catedral Metropolitana, às 18h30.

Assim como o "padim" de Juazeiro do Norte fez, a Campanha da Fraternidade deste ano no Ceará volta as atenções à proteção das matas e dos animais da Caatinga, bioma que cobre cerca de 95% do território do Estado e tem como principal característica o período pequeno de chuvas e grande de seca.

Segundo a coordenadora da campanha na CNBB, Mônica Pimentel, as ações devem gerar grande engajamento na Igreja e na sociedade. "A vida de todos os seres está integrada. Falar de natureza não é falar só de ecologia, mas de humanidade e do meio social. Nós somos cuidadores da criação", avalia, lembrando do lema da CF deste ano, "Cultivar e guardar a criação", lido no 15º versículo do segundo capítulo do livro de Gênesis.

Além desse, outro motivo para a boa recepção das atividades da campanha, como explica Mônica, é justamente o fato de o tema ter sido escolhido a partir de sugestões da população. Todo ano, os três assuntos mais pedidos são discutidos em reunião nacional da CNBB, e uma comissão de pesquisa é montada para elaborar o texto-base e o lema da Campanha da Fraternidade. "Quem grita o tema é a população", salienta a coordenadora Mônica Pimentel.

Atividades

Na prática, a CF deste ano tem a missão de integrar ciência, religião e sociedade em ações de preservação da natureza cearense, uma continuidade do tema de 2016, "Casa comum, nossa responsabilidade". "O trabalho das dioceses e paróquias é chegar às comunidades, escolas e outras instituições com palestras sobre todos os biomas brasileiros, depois especificamente sobre a Caatinga e todos os povos e culturas do nosso Estado", esclarece a coordenadora.

Outra atividade comum da Igreja que deve ser intensificada durante todo o período da campanha, iniciada na quarta de cinzas e estendida por todo o ano, é a distribuição de mudas para arborização de casas e de espaços públicos. Para a professora do Departamento de Biologia da Universidade Federal do Ceará (UFC), Francisca Soares, é fundamental focar no plantio de árvores nativas, a fim de restaurar a Caatinga.

"Árvores exóticas em praças não contribuem para a preservação do bioma, até porque a população não conhece e não valoriza. É importante conservar plantas como o ipê-roxo, a imburana de espinho e o pau-branco, típicas da nossa Caatinga", explica a bióloga, que alerta ainda para a avançada degradação de três áreas do Ceará: o Sertão dos Inhamuns, o Médio Jaguaribe e o município de Irauçuba, a 150km de Fortaleza. "Isso reflete na agricultura, na pecuária e na nossa qualidade de vida, além de agravar o problema da seca", disse a professora.

Esperança

"Ainda é possível fazer alguma coisa", infla-se de fé a coordenadora da Campanha da Fraternidade, afirmando que a condição para isso é que se aprenda "a olhar para a natureza como antigamente". A degradação da Caatinga é decorrente do manejo historicamente errado. As queimadas realizadas para "preparar o plantio" e o fato de servir de pasto para animais de grande porte são dois dos principais fatores responsáveis pela destruição da terra. Em muitos locais, há sinais de salinização de grandes áreas em consequência da prática da monocultura.

Se o padim Ciço estivesse por aqui, por certo concordaria com Mônica, e talvez até recitasse o décimo e último mandamento que escreveu: "Se obedecer esses preceitos, a seca vai se acabando aos poucos. O gado vai melhorando e o povo terá sempre o que comer. Se não obedecer, dentro de pouco tempo o sertão todo vai virar um deserto só". (Colaborou Theyse Viana)

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