SISTEMA FECOMÉRCIO CEARÁ

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SISTEMA FECOMÉRCIO CEARÁ 75 ANOS

quinta-feira, 30 de abril de 2020

CAMPOS SALES EM MOVIMENTO


KARIRIOESTE
Prefeitura começa a nivelar a travessa Jacó Cortez para a sua pavimentação.

A prefeitura primeiro pediu uma conversa dos Secretários Genival(Governo) e Nenzão(Obras) fazendo um levantamento para superar algumas dificuldades que na rua tem.

É que foram construídas no passado algumas casas abaixo do nível da rua. Nenzão tenta corrigir o terreno e segundo ele, consegue superar os problemas revelados no local.
Agora é torcer pra dar certo.







quarta-feira, 29 de abril de 2020

CORONAVÍRUS: ENTREVISTA DO RADIALISTA M FILHO COM O PREFEITO MOÉSIO LOIOLA


Pauta: Transmissão comunitária
Vídeo abaixo:


CALDEIRÃO GRANDE DO PIAUÍ ANIVERSARIA E PREFEITO, EM RESPEITO Á DATA, REALIZA HASTEAMENTO DOS PAVILHÕES

Na manhã desta quarta-feira, 29 de abril, dia do aniversário de emancipação política de Caldeirão Grande do Piauí, em um ato de respeito e civismo, realizamos a cerimônia de hasteamento das bandeiras em frente a sede do Poder Executivo Municipal.

Hoje foi diferente de todos os anos anteriores, com a participação de poucas pessoas, respeitando o distanciamento e o isolamento social, conforme recomendado pelos órgãos de Saúde, como forma de prevenção e enfrentamento ao coronavírus.

COLABORAÇÃO: Prefeito João Vianey













segunda-feira, 27 de abril de 2020

ENQUETE FOME NA ESCOLAS, POR PAULO CATANAN


Caros amigos: hoje resolvi escrever esse texto mas  vou fechá-lo secamente com uma pergunta. Leiam o texto.

    Estudei até o terceiro ano primário no Grupo Escolar de Csales. Na época tinha dois campinhos de futebol: um ao lado do correio e outro lá nos fundos, à direita. Creio que eram apenas 8 salas de aula.

   No período 1962/63 chegou no grupo a ajuda americana para alguns países latino-americanos, intitulada "ALIANÇA PARA O PROGRESSO". Diminuir a fome nesses países, acabar com o analfabetismo até 1970, entre outros. Estávamos em plena GUERRA FRIA.

    No recreio, a merenda escolar consistia de cuscuz com manteiga e leite em pó integral. Você podia repetir apenas o leite. Esse era tão forte que deu caganeira geral. Nos primeiros dias era merda prá todo canto. Mais alguém ainda se lembra?

    Barriga acostumada, mais de 80% dos alunos aguardavam ansiosos a hora do recreio. Encher o bucho com a MERENDA ESCOLAR.

    Este último parágrafo já serve para a pergunta que avisei lá no primeiro(mesmo pq esse tema rende um belo conto).

   Desde 1962/63(Séc.XX) até 2020(Séc. XXI) diminuíram as bocas famintas nas nossas escolas públicas?

QUATRO MESES DE WEB RÁDIO NOVA ROMA DE CAMPOS SALES, NO AR

A web rádio Nova Roma de Campos Sales, está no seu quarto mês de funcionamento, como pioneira na modalidade web, em Campos Sales e região.

Na sua programação, muita música e informação, 24 horas por dia pela internet, sendo acessada pelo site: www.novaromafm.com.br, aplicativo RádiosNet e no seu próprio aplicativo.

PROGRAMAÇÃO:

De segunda a sexta:

6 da manhã - PLANTÃO DA PLUS;
7 da manhã - CAFÉ COM NOTÍCIAS;
9 da manhã - PROGRAMAÇÃO MUSICAL;
12 horas - CONECTADO COM A NOTÍCIA;
13 horas - PROGRAMAÇÃO MUSICAL;
18 horas - PROGRAMA PARECE QUE FOI ONTEM, com Moésio Loiola;
22 horas - PROGRAMAÇÃO MUSICAL.

Sábado:

06 da manhã - PROGRAMAÇÃO MUSICAL;
18 horas - PROGRAMA TERÇO DOS HOMENS;
19 horas - PROGRAMA PARECE QUE FOI ONTEM,  com Moésio Loiola;
22 horas - PROGRAMAÇÃO MUSICAL.

Domingo:

PROGRAMAÇÃO MUSICAL 24 HORAS.








domingo, 26 de abril de 2020

LUIS CARLOS FEITOSA, O EMBAIXADOR DO PAPAGAIO-PARAMBU, A SENSAÇÃO DO BREGA\ROMÂNTICO, VEM AÍ!


Surge no mundo da música brega\romântica um novo nome que arrebata corações por onde se apresenta: Luis Carlos Feitosa, já conhecido pelo fãs como O Embaixador do Papagaio- Parambu, na região dos Inhamuns.

Para conquistar o Nordeste e o Brasil, Luis Carlos Feitosa, o Embaixador do Papagaio-Parambu, conta com empresárias do roma e de peso no mundo musical: Beniguinha, Santinha e Adelina Morais.


Prepare seu coração, breve na sua cidade: Luis Carlos Feitosa, o Embaixador do Papagaio-Parambu...Muita emoção musical pra você.



quarta-feira, 22 de abril de 2020

Uma comparação entre a pandemia de Gripe Espanhola e a pandemia de Coronavírus





Em entrevista do hotsite Coronacrise, do IFCH, a graduada em História pela UFRGS e mestre em História pela PUCRS Gabrielle Werenicz Alves realiza a comparação entre a chamada Gripe Espanhola, dos fins da década de 1910, com a pandemia atual do novo coronavírus. Confira

Quais as semelhanças entre a Gripe Espanhola e o Coronavírus?

Existem inúmeras semelhanças entre a pandemia de Gripe ocorrida no início do século XX e a situação que estamos enfrentando atualmente, apesar dos 100 anos que as separam. Mas para entendermos essas similaridades, é preciso lembrar o que foi aquele surto.

A pandemia ocorrida em 1918 e 1919, conhecida como “Influenza Hespanhola”, tem sido considerada uma das mais devastadoras e letais da história. Esta enfermidade alastrou-se por todas as regiões do planeta e deixou o maior número de infectados e mortos, se comparada com as pandemias ocorridas até então. Ela teria vitimado 20 milhões de pessoas em todo o mundo (mas alguns estudiosos falam em 50 milhões de mortos). Em relação ao número de doentes, as dificuldades para o cálculo são ainda maiores e os números, mais assustadores: supõe-se que teriam adoecido pelo menos 600 milhões de pessoas.

Existem várias teorias sobre a origem daquela pandemia. O certo é que ela foi propagada, e talvez gerada, pela queda dos padrões sanitários e pelos efeitos da escassez alimentar decorrentes da Primeira Guerra Mundial (conflito bélico ocorrido entre 1914 e 1918). Como consequência dessa situação calamitosa, a pandemia de gripe deixou, em alguns meses, um número maior de mortos do que a própria guerra.

A denominação dada ao surto de 1918 vem do fato de que na Espanha não era segredo os estragos feitos pela gripe. As notícias sobre a pandemia eram publicadas livremente pelos jornais, o que dava a impressão de que lá havia muito mais doentes do que em outras regiões. Outros países preferiram suavizar o impacto causado pela enfermidade ou até mesmo censurar a imprensa a respeito do assunto. A ideia de esconder os estragos da epidemia foi defendida inclusive por instituições de prestígio como a Royal Academy of Medicine de Londres.

“Espanhola” foi a denominação que chegou ao Brasil. Mas na verdade, esta enfermidade acabou recebendo inúmeros nomes diferentes. Os países afetados atribuíam uns aos outros a culpabilidade pela doença. Na Rússia, a doença recebeu o nome de Febre Siberiana; na Sibéria, Febre Chinesa; na França, Catarro Espanhol ou Peste da Senhora Espanhola; na Espanha, foi batizada com o nome de Febre Russa…

Rapidamente, a doença expandiu-se pelo mundo. Provavelmente a rapidez com que se alastrou, em 1918 e no ano seguinte, deveu-se aos deslocamentos e contatos de grandes contingentes de tropas naquele período, devido à guerra e a volta desses soldados para seus países de origem. Mas também, pelo fato do vírus ser altamente transmissível.

Na época, não faltavam notícias dizendo que a doença havia sido uma criação dos alemães. Muita gente acreditava que a moléstia era engarrafada na Alemanha e depois distribuída por seus submarinos, que se encarregavam de espalhar as ditas garrafas perto das costas dos países inimigos. Apanhadas nas praias por gente inocente, espalhava-se assim aquela terrível enfermidade.

A comunidade médica daquele período não conseguiu explicar como uma moléstia branda e tão familiar pudesse estar matando tanto. Desconhecia-se seu agente causador e a forma de contágio (as certezas a respeito de como a gripe é transmitida só vieram à tona na década de 1930). Assim, os médicos puderam fazer pouco para salvar a vida dos doentes. Tudo era feito na base da experimentação.

Um dos remédios utilizados na tentativa de evitar a doença ou curar os doentes foi o quinino (medicamento utilizado originalmente para o combate da malária). Houve uma corrida às farmácias em busca desta substância, seu preço aumentou assustadoramente e o produto acabou se esgotando (situação parecida está sendo vivida atualmente em relação à busca por álcool gel e por máscaras, produtos que não são mais encontrados no comércio).

Considerada até aquele momento uma doença comum e corriqueira, que atacava especialmente idosos (chamada na época popularmente de “limpa-velhos”), a pandemia de 1918 acabou alterando a idade da população afetada. Morreram principalmente homens adultos, entre 20 e 40 anos (pessoas em idade de participarem do mundo do trabalho), o que causou surpresa entre a classe médica. As vítimas provavelmente precisavam sair de casa para trabalhar, e acabavam assim sendo infectadas.

Quanto ao Covid-19, esse novo vírus também se alastrou por todas as regiões do planeta e está deixando igualmente um número muito grande de infectados e mortos. Assim como a Gripe Espanhola, o Coronavírus está causando pânico, paralização da vida cotidiana de boa parte do planeta, vem deixando transparecer antigos problemas sociais e de saúde pública. Esse novo vírus é facilmente transmissível, assim como a gripe, o que facilita sua rápida propagação.

Apesar dos 100 anos que as separam, Gripe Espanhola e Coronavírus tem também em comum a dificuldade dos poderes públicos em lidar com a quantidade muito grande de óbitos, ao não conseguirem dar um destino rápido aos corpos das pessoas mortas e ao terem que realizar sepultamentos em covas coletivas, situações presentes há um século e que já são observadas novamente nos países mais afetados pela pandemia.

Em relação à idade das pessoas que faleceram em função deste novo surto pandêmico, é comum a fala de que o coronavírus é mais letal em pessoas idosas ou que já possuem algum problema de saúde. Entretanto, também existem inúmeros casos de pessoas jovens e saudáveis que vieram a óbito por Covid-19. Tenta-se passar a imagem que ele também é um “limpa-velhos” como a gripe era vista antigamente, mas os dados têm mostrado que a situação real não é exatamente essa.

Se a Gripe de 1918 foi vista como sendo uma moléstia criada artificialmente pelos alemães, o mesmo boato foi espalhado em relação ao coronavírus. Há quem acredite que essa doença seria uma arma biológica, criada em laboratório ou um vírus propositalmente manipulado. Inúmeros boatos circularam na imprensa e nas redes sociais justificando tal teoria. Nos Estados Unidos, há quem acredite que a China foi quem produziu o vírus. Já os chineses acreditam que poderiam ter sido os Estados Unidos que levaram o vírus para seu país. Entretanto, os cientistas confirmaram tratar-se de um vírus que sofreu mutações naturais, transmitido aos humanos provavelmente a partir de algum animal na cidade de Wuhan, na China.

Ainda sobre a Gripe Espanhola cabe destacar que, naquela época, as autoridades brasileiras ouviram com descaso as notícias vindas da Europa. Acreditava-se que o oceano impediria a chegada da doença ao Brasil, o que não aconteceu. A doença chegou ao país a bordo do navio inglês “SS Demerara” (uma espécie de Correios britânicos), no dia 17 de setembro de 1918. Esse navio chegou com a tripulação contaminada e passou livremente pelos portos de Recife, Salvador e Rio de Janeiro, repleto de doentes.

De início, não foram tomadas providências enérgicas para combater a epidemia, pois o Diretor Geral da Saúde Pública, Carlos Seidl, insistia que a gripe tinha um caráter benigno (não era a “espanhola” que estava atacando a Europa, e sim uma “gripezinha”). Seidl julgou que era desnecessário tomar qualquer medida preventiva contra o mal, mesmo com a quantidade de óbitos subindo a cada dia.

Conforme a situação foi piorando, os jornais e parte da população da capital federal passaram a reivindicar o retorno das quarentenas e isolamentos. Porém, Carlos Seidl insistia que quarentenas e isolamentos não eram “nem possíveis, nem legais, nem científicos”. Ele pediu a censura dos jornais, pois acreditava que estes acabavam por incutir crescente pânico na sociedade e ameaçavam a preservação da ordem pública. Segundo ele, o sensacionalismo histérico da imprensa estaria espalhando o pânico de uma epidemia. Em muitas regiões do país, os jornais foram censurados e proibidos de divulgar determinadas notícias a respeito da doença (como, por exemplo, o número de infectados e de mortos).

Conforme a situação foi piorando, Carlos Seidl acabou sendo demitido do cargo e o sanitarista Carlos Chagas passou a chefiar o combate à pandemia, mudando o discurso sobre a doença dado pelo governo federal e tomando medidas mais enérgicas para o combate à enfermidade. Naquele contexto, a vítima brasileira mais ilustre foi o presidente Rodrigues Alves, que morreu em janeiro de 1919, antes de assumir o cargo para o qual havia sido eleito meses antes.

Nos dias atuais, novamente se culpam os meios de comunicação por espalharem a sensação de pânico entre a população, ao anunciarem o grande número de vítimas em outros países. Novamente a imprensa é acusada de ser causadora de uma histeria desnecessária. Além disso, aqui no Brasil inúmeras pessoas passaram a negar a existência da pandemia. Muitos afirmaram que era uma mentira da imprensa, que nada daquilo era verdade.

No dia 24 de março, nosso atual presidente da República deu um pronunciamento em rede nacional, no mesmo tom usado por Carlos Seidl há 102 anos atrás. Insistiu que o Coronavírus não passaria de uma “gripezinha”, que alguns governadores estariam equivocados ao decretar isolamento social, que o pânico gerado pela doença foi fruto do sensacionalismo da imprensa. Além disso, o presidente pediu que as pessoas retornassem ao trabalho, voltassem a normalidade assim como as pessoas que viveram em 1918 tentaram fazer no início daquele surto epidêmico.

Enfim, as duas pandemias possuem inúmeras semelhanças, mas vale ressaltar também suas diferenças. Ao contrário da Gripe Espanhola, o atual surto tem sua origem já estabelecida, suas formas de propagação bem conhecidos e maneiras de evitar a contaminação. A situação está gerando uma corrida contra o tempo na busca por um remédio para curar os doentes e por uma vacina para tentar evitar novos casos. Não há comparação entre o conhecimento científico de um século atrás e o atual. Vale destacar aqui o importante papel que a Fundação Oswaldo Cruz vem desempenhando neste contexto.

Esta instituição centenária já existia na época da epidemia de Gripe. Ela foi criada em 1900, com o nome de Instituto Soroterápico Federal, na distante Fazenda de Manguinhos, Rio de Janeiro. Seu intuito original era fabricar soros e vacinas contra a peste bubônica. Em 1909 mudou seu nome para Instituto Oswaldo Cruz, em homenagem àquele grande sanitarista, diretor da instituição. Aos poucos, foi ampliando suas atividades e seu papel dentro do cenário científico brasileiro.

A atual Fundação Oswaldo Cruz se tornou uma referência em termos de pesquisa e orientação sobre a pandemia que estamos vivendo. Além disso, há poucos dias, a Organização Mundial de Saúde oficializou a Fiocruz como laboratório de referência para o combate ao novo coronavírus nas Américas. O que significa que a instituição poderá receber amostras do Covid-19 de outros países da região, para realizar o sequenciamento genético, localizar mutações e seguir os estudos que possam levar ao desenvolvimento de uma vacina ou medicamentos. É um título conferido a poucos laboratórios no mundo.

O espalhamento da doença por causa da dificuldade de medidas de isolamento social, devido à falta de amparo ao trabalhador.

Em 1918, não houve essa preocupação em relação ao isolamento social. Era recomendado evitar aglomerações desnecessárias, mas não se impôs nada tão rígido à população como as medidas que estão sendo colocadas em prática atualmente. Foi a quantidade de pessoas doentes ao mesmo tempo que acabou gerando a paralização não intencional do cotidiano das cidades.

Minha pesquisa sobre a Gripe Espanhola se centrou na cidade de Porto Alegre. A partir do dia 18 de outubro de 1918, começaram a ser verificados casos da doença entre os habitantes daquele município, a partir da chegada de alguns navios com pessoas infectadas. A partir daí, o número de doentes aumentou a cada dia. O auge da epidemia foi o período entre os dias 26 de outubro e 23 de novembro.

Na pesquisa que desenvolvi, utilizei como fonte principal a imprensa daquele momento. Os jornais porto-alegrenses transmitiam o pânico que a doença estava causando. Rapidamente começaram a apontar a situação como tomando o aspecto de uma das maiores epidemias que já havia assolado Porto Alegre. Segundo os jornalistas, subiam a alguns milhares os casos de gripe na cidade. Havia casas em que todas as pessoas se achavam atacadas da moléstia. O êxodo das famílias era notável, apresentando o centro da capital desolador aspecto. Raro era o pedestre que caminhava pelas ruas. O comércio fechado deu a capital a forma de uma cidade morta e sem vida. Um século depois, pelos relatos que se tem da situação atual, é assim que Porto Alegre voltou a ficar com a nova pandemia. Mas agora, o esvaziamento das ruas e a ausência de circulação de pessoas foram atos impostos pelos governantes, antes que o número de doentes se agrave de forma descontrolada, numa tentativa de desacelerar a curva de ascensão do surto.

Os jornais de 1918 nos mostram que os serviços básicos da cidade não conseguiram ser realizados com a regularidade de antes. A entrega dos jornais era feita de forma irregular e o mesmo ocorria com as correspondências. Entre os funcionários dos correios e os carteiros, os tipógrafos e os entregadores de jornal, muitos estavam doentes.

Nos estabelecimentos comerciais e industriais, o número de funcionários doentes aumentava a cada dia. Com dificuldades para funcionar devido à enfermidade dos funcionários, e ressentindo-se pela falta de movimento devido à enfermidade dos clientes, muitas lojas fecharam as portas. Apenas as farmácias continuaram abertas, e passaram a estar sempre lotadas. Os médicos, por sua vez, não davam conta de atender o elevado número de doentes, e acabavam eles mesmos adoecendo.

De acordo com o médico e escritor Pedro Nava, que presenciou os acontecimentos de 1918 no Rio de Janeiro, nenhuma outra doença chegou aos pés daquela pandemia. Segundo ele, espantoso já não era a quantidade de enfermos, mas o fato de estarem quase todos doentes, a impossibilidade de ajudar, tratar, transportar comida, vender gêneros, exercer, em suma, as atividades indispensáveis à vida cotidiana. O assustador já não era o número de mortos, mas o fato de não haver quem fabricasse caixões, que os levasse ao cemitério, que abrisse covas e os enterrasse. Estima-se que 66% da população carioca tenha adoecido naquela ocasião (as estimativas para outras regiões do país não devem ser muito diferentes). E foi a quantidade imensa de doentes que acabou criando uma situação de um isolamento não intencional.

A falta de direitos trabalhistas na época e a atual precarização das leis trabalhistas.

Uma questão que ajudou a agravar a situação dos trabalhadores pobres em 1918 foi a inexistência de uma legislação trabalhista que obrigasse os patrões a pagar o salário dos funcionários que não fossem trabalhar, por estarem doentes. Durante a epidemia, algumas empresas não realizaram o pagamento dos salários dos trabalhadores infectados pela enfermidade, o que ocasionou o agravamento da situação de miséria em que estes se encontravam. Em algumas ocasiões, esses empregados doentes acabaram voltando ao trabalho por precisarem de dinheiro, o que provavelmente ajudou a espalhar ainda mais a doença.

Os jornais da época passaram a tornar público os casos em que algumas empresas passaram a não pagar o salário dos funcionários que estavam afastados do trabalho por estarem doentes. Por outro lado, paralelamente à publicação dessa notícia, a imprensa passou a divulgar o nome das empresas que estavam pagando normalmente o ordenado de seus trabalhadores, como um bom exemplo a ser dado.

A Gripe Espanhola assolou o mundo em um contexto de liberalismo econômico; o Coronavírus apareceu num contexto de neoliberalismo. As relações trabalhistas, consequentemente, vão ser fruto deste contexto mais amplo. Neste sentido, para amenizar o prejuízo dos empresários em função do isolamento social decretado, presenciamos a flexibilização das demissões e a redução dos salários nesse período de pandemia. Há alguns anos o Brasil está tendo sua legislação trabalhista modificada e a atual pandemia acaba por piorar este cenário de precarização das leis que regulamentam o mundo do trabalho.

Quais foram as medidas adotadas pelos governantes na época da Gripe Espanhola?

No início do século XX o Brasil era um país federalista. Cada “presidente de estado” (esse era o nome dado aos governadores naquele momento histórico) tinha plena autonomia para tomar as providências que achassem necessárias para combater a pandemia. Na época, as medidas foram muito peculiares para cada região do país. Hoje em dia, observamos novamente essa descentralização de ações para o combate ao coronavírus: o presidente da nação dá uma orientação sobre o assunto; por sua vez, os governadores acabam agindo autonomamente e tomando decisões contrárias as indicadas pelo governo federal.

No caso específico do Rio Grande do Sul, em 1918 o governo do estado criou algumas estratégias e ações para tentar combater a pandemia, concentrando-se na capital Porto Alegre: ordenou a realização de inspeções e desinfecções de locais suspeitos de estarem contaminados; criou enfermarias (instaladas em escolas e batalhões da Brigada Militar); dividiu a cidade em quarteirões sanitários, com cada quarteirão possuindo um médico auxiliado por alunos da Faculdade de Medicina…

O governo gaúcho da época não decretou isolamento como estamos vivendo no momento atual. Ele apenas suspendeu as aulas, e temos que levar em consideração que o número de escolas naquela época era muito menor do que o atual, pois ainda não vigorava a ideia de ensino público gratuito e obrigatório (portanto, escola era coisa para poucos privilegiados). Também foram fechadas casas de diversões, como teatros, cinemas, cafés…

Nos documentos que consultei, não encontrei nenhuma referência relacionada a proibições em relação ao comércio ou indústria. Entretanto, como o número de empregados doentes era muito grande, muitos estabelecimentos comerciais ou industriais fecharam as portas, por falta de trabalhadores ou de clientes.

Além disso, naquele momento o Governo criou um órgão de caráter assistencialista, chamado de Comissariado de Abastecimento e Socorros Alimentícios, para prestar socorro aos domicílios das pessoas mais pobres, que estivessem passando por necessidades.

Por sua vez, a Intendência Municipal de Porto Alegre, tentando minimizar o problema da carência no abastecimento da cidade e da especulação em torno dos preços dos gêneros de primeira necessidade, estabeleceu o preço máximo de venda de alimentos e de medicamentos.

Entretanto, apesar de todos os esforços do Governo do Estado e da Intendência Municipal, suas ações não foram suficientes para melhorar a situação das camadas pobres da população, que padeciam em função da doença em si e devido à falta de comida. A pandemia acabou agravando a miséria de parte da população, e foram exatamente essas pessoas que mais sofreram com toda a situação provocada pela pandemia.

A tua pesquisa apresenta ações realizadas pela sociedade porto-alegrense para auxiliar a população no período da Gripe Espanhola. Quais são as atitudes que podem servir para o contexto atual?

Para tentar ajudar, a sociedade da época tomou para si a tarefa de minorar a crise vivida pelas camadas mais pobres da população. Alimentos, medicamentos e contribuições em dinheiro foram arrecadados por diversos setores da sociedade (Maçonaria, grupos operários, entidades médicas), a fim de socorrer o contingente cada vez maior de pessoas atingidas pela doença e pela fome. Cada grupo que participou desta mobilização desenvolveu a sua maneira de ajudar ou de pedir ajuda.

Na pesquisa que desenvolvi, consegui acompanhar nos jornais as notícias de comerciantes fazendo doação de produtos, pessoas da sociedade doando dinheiro para os grupos mobilizados, oferecimento de atendimento médico gratuito no domicílio das pessoas doentes (naquela época era comum o médico ir até o doente, e não o contrário). Tudo acabava sendo divulgado na imprensa. Essas ações foram sempre noticiadas como sendo atitudes louváveis, de grandeza, e que deveriam ser copiadas por quem tivesse condições.

Atualmente, além da doença em si, estamos enfrentando igualmente uma crise econômica gerada pelo isolamento, que se somou aos problemas econômicos que o país já possuía. Muitos defendem que é preciso pensar na economia; já os especialistas advertem que a economia se recupera, mas as vidas perdidas não. Neste sentido, a paralização do cotidiano, o fechamento do comércio e da indústria, a paralização das relações econômicas acaba por gerar crise, desemprego, e consequentemente já está aumentando a miséria no nosso país. Mesmo que o governo crie mecanismos para tentar minimizar esses problemas, cabe a sociedade tentar copiar o exemplo de 1918, se mobilizar e tentar ajudar quem necessita, seja em função da doença, seja em função dos problemas econômicos gerados pela pandemia, seja pelos históricos problemas de desigualdade social presentes no Brasil há séculos que estão sendo piorados pela atual situação.

Hoje em dia estamos acostumados a ver como dever do Estado esse tipo de ação. Mas acabamos esquecendo que o Estado não consegue chegar a todos os lugares do Brasil. Esquecemos que nossa tradicional burocracia acaba dificultando tais ações. Enquanto isso, uma infinidade de famílias no nosso país já está passando fome. Cabe a nossa sociedade aprender com a solidariedade do passado, tentar se mobilizar e buscar amenizar de alguma forma os problemas derivados da pandemia, seja com a doação de alimentos ou cestas básicas, seja com a doação de dinheiro para grupos que já estejam mobilizados para esse fim. O importante é cada um ajudar como pode.

Gabrielle Werenicz Alves Graduada em História pela UFRGS. Mestre em História pela PUCRS, com bolsa do CNPq. Autora do livro “Os Caminhos da Saúde Pública Rio-Grandense: Continuidades e transformações na Era Vargas” (Curitiba: Editora Prismas, 2015) e do artigo “Os braços da salvação: a mobilização de auxílio aos infectados pela Gripe Espanhola” (Porto Alegre: Corag, 2007), dentre outros. Coautora de “Hospital Psiquiátrico São Pedro: 125 anos de história” (Porto Alegre: Edipucrs, 2009) e “Instituições de Saúde de Porto Alegre” (Porto Alegre: Ideograf, 2008). Foi bolsista da Fundação Oswaldo Cruz no projeto “REDE BRASIL: Inventário nacional do patrimônio cultural da saúde – bens edificados e acervos”. Foi professora colaboradora da UFES. Atualmente, é professora efetiva da rede estadual de ensino do Espírito Santo.

Leia mais artigos e entrevistas e análises em: https://www.ufrgs.br/ifch/index.php/br/coronacrise

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

ABRÃO, Janete Silveira. Banalização da morte na cidade calada: a hespanhola em Porto Alegre, 1918. Porto Alegre: EDIPUCRS, 1998.

ALVES, Gabrielle Werenicz. Os braços da salvação: a mobilização de auxílio aos infectados pela Gripe Espanhola – Porto Alegre (1918). In: V Mostra de Pesquisa do Arquivo Público do Estado do Rio Grande do Sul: Produzindo História a partir de fontes primárias. Porto Alegre: Corag, 2007. p. 227-245. Disponível em: <https://drive.google.com/file/d/17t5FzHHeipdTvTE7nr91k5iyRKDDjvd9/view>.

________________. Um novo cotidiano na cidade: A Gripe Espanhola e a mobilização de auxílio aos infectados (Porto Alegre – 1918). In: II Congresso Internacional UFES / Université de Paris-Est, XVII Simpósio de História da UFES: Cidade, Cotidiano e Poder / La ville, le quotidien et le pouvoir, 2009, Vitória. Anais eletrônicos do II Congresso Internacional UFES / Université de Paris-Est, XVII Simpósio de História da UFES. Vitória: GM Editora, 2009.

BERTOLLI FILHO, Claudio. A gripe espanhola em São Paulo: epidemia e sociedade. São Paulo: Paz e Terra, 2003.

BERTUCCI, Liane Maria. Influenza, a medicina enferma: ciência e práticas de cura na época da gripe espanhola em São Paulo. Campinas: Editora da UNICAMP, 2004.

BRITO, Nara Azevedo de. La dansarina: a gripe espanhola e o cotidiano na cidade do Rio de Janeiro. História, Ciências, Saúde – Manguinhos, v.4, n.1, p.11-30, mar.-jun., 1997.

FERREIRA, Renata Brauner. Epidemia e Drama: A Gripe Espanhola em Pelotas – 1918. Porto Alegre: UFRG, 2002. Dissertação (Mestrado em História), IFCH, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 2002.

GOULART, Adriana da Costa. Revisitando a espanhola: a gripe pandêmica de 1918 no Rio de Janeiro. História, Ciências, Saúde – Manguinhos, v.12, n.1, p.101-142, 2005.








kariri oeste

O Prefeito Municipal Moésio Loiola de Melo decreta ponto facultativo a partir de 22 de Abril até o dia 05 de Maio de 2020.




























Gripe espanhola: caipirinha é inventada como remédio, morte do presidente do Brasil e de 50 milhões






(imagem: A primeira página da Gazeta de Notícias mostra o caos no Rio de Janeiro dominado pela gripe espanhola - Biblioteca Nacional)
Em 1918, a pandemia por gripe espanhola espalhou morte e pânico, matou o presidente, fez escolas aprovarem todos os alunos e levou à criação da caipirinha.




Parece filme de terror. Cadáveres jazem na porta das casas, atraindo urubus. O ar é fétido. Os raros transeuntes andam a passos ligeiros, como se fugissem da misteriosa doença. Carroças surgem de tempos em tempos para, sem cuidado ou deferência, recolher os corpos, que seguem em pilhas para o cemitério.

— Por toda parte, o pânico, o assombro, o horror! — exclama o deputado Sólon de Lucena (PB).





Nota do jornal A Noite critica a prefeitura do Rio por forçar cidadãos comuns a enterrar cadáveres durante a epidemia de 1918 (imagem: Biblioteca Nacional)



Como os coveiros, em grande parte, estão acamados ou morreram, a polícia sai às ruas capturando os homens mais robustos, que são forçados a abrir covas e sepultar os cadáveres. Os mortos são tantos que não há caixões suficientes, os corpos são despejados em valas coletivas e o trabalho se estende pela madrugada adentro.


— Esse grande flagelo parece zombar da fortaleza física do homem e deixa como rastro um número extraordinário de mortos e um exército de combalidos entregues à fraqueza, ao depauperamento, à quase invalidez — afirma o senador Jeronymo Monteiro (ES).

O filme de terror ocorreu em 1918, quando a gripe espanhola invadiu o Brasil. A violenta mutação do vírus da gripe veio a bordo do navio Demerara, procedente da Europa. Em setembro desse ano, sem saber que trazia o vírus, o transatlântico desembarcou passageiros infectados no Recife, em Salvador e no Rio de Janeiro.





Jornal do Recife noticia a chegada do Demerara à capital pernambucana em 9 de setembro de 1918: sem saber, navio carrega o vírus da gripe espanhola (imagem: Biblioteca Nacional)



No mês seguinte, o país inteiro já está submerso naquela que até hoje é a mais devastadora epidemia da sua história.


A gripe espanhola, como indicam os discursos acima, domina os debates do Congresso Nacional. As falas dos parlamentares integram o acervo histórico do Arquivo do Senado e do Arquivo da Câmara, em Brasília, e mostram como o Brasil de 1918 se comportou diante da doença.

Assim como outros prédios públicos do país, o Senado e a Câmara, no Rio (que tem o status de Distrito Federal), passam vários dias fechados. Não há funcionários suficientes para tocar as atividades burocráticas no auge da epidemia. Muitos convalescem e outros tantos morreram.





Documento histórico do Arquivo do Senado mostra que dois funcionários da Casa morreram em dezembro de 1918 em decorrência da gripe espanhola (imagem: Arquivo do Senado)



Após vários dias combalido, o senador Paulo de Frontin (DF) é recebido com festa na volta ao Senado.


— Tendo sido também vítima da espanhola e seriamente, Sua Excelência está aí rijo, cumprindo seus deveres com aquela atividade rara que todos lhe reconhecemos — diz, num discurso de boas-vindas, o senador Victorino Monteiro (RS).

Nem mesmo o presidente da República é poupado. Rodrigues Alves, eleito em março de 1918 para o segundo mandato, cai de cama “espanholado” e não toma posse. O vice, Delfim Moreira, assume interinamente em novembro, à espera da cura do titular. Rodrigues Alves, porém, morre em janeiro de 1919, e uma eleição fora de época é convocada.

Entre as vítimas ilustres, também figura Olympio Nogueira, estrela do teatro e da música no Rio, bem no auge da carreira.



"O presidente eleito Rodrigues Alves e o galã Olympio Nogueira foram algumas das vítimas ilustres da gripe espanhola"



— Todas as classes, desde os humildes trabalhadores até aqueles que gozam do maior conforto na vida, foram alcançados pelo flagelo terrível, que bem parece universal — constata o deputado Sólon de Lucena. — Dir-se-ia que a morte, não satisfeita com a larga messe de vidas ceifadas nos campos de batalha europeus, quis, na sua ânsia de domínio, estender até nós os seus tentáculos.

Lucena (avô de Humberto Lucena, que seria senador nas décadas de 1980 e 1990) se refere à Primeira Guerra Mundial. Em outubro e novembro de 1918, as manchetes dos jornais brasileiros se alternam entre a gripe espanhola no país e as negociações de paz na Europa. É justamente o vaivém de soldados que faz o vírus mortal tocar todos os cantos do planeta.











Em todo o Brasil, os hospitais estão abarrotados. As escolas mandaram os alunos para casa. Os bondes trafegam quase vazios. Das alfaiatarias às quitandas, das lojas de tecido às barbearias, o comércio todo baixou as portas — à exceção das farmácias, onde os fregueses disputam a tapa pílulas e tônicos que prometem curar as vítimas da doença mortal.

— Nos subúrbios do Rio de Janeiro, as ruas ficam cheias de cadáveres porque as famílias ficam com medo de serem infectadas pelos mortos dentro de casa. Além disso, a medida facilita o trabalho de remoção das carroças da limpeza pública — explica a médica e historiadora Dilene do Nascimento, da Casa de Oswaldo Cruz.





Nos jornais do Rio, são frequentes as notícias de mortos em putrefação dentro de casa (imagem: A Noite/Biblioteca Nacional)



Os parlamentares apresentam uma série de projetos de lei com o objetivo de, em diferentes frentes, combater a doença e amenizar seus efeitos. Uma das propostas determina a aprovação automática de todos os estudantes brasileiros, sem a necessidade dos exames finais.


Citando sua própria experiência como professor da Escola Politécnica (atual escola de engenharia da UFRJ), o senador Paulo de Frontin defende o projeto:

— O momento em que se exige do estudante o máximo esforço são os últimos três meses do ano letivo, quando ele se prepara para o exame final. Exatamente nessa época, grande parte dos alunos foi atacada pela epidemia reinante e muitos falecerem. Na Escola Politécnica, choramos a perda de mais de um. Aqueles que se salvaram estão em uma convalescença que se pode considerar longe de ser completa.

O senador Mendes de Almeida (MA), dono da Escola Técnica de Comércio Cândido Mendes (hoje Universidade Cândido Mendes), no Rio, acrescenta:

— Só na minha escola, mais de 35 professores não têm podido dar as suas aulas por motivo de saúde.

Como 1918 já está chegando ao fim, o presidente interino Delfim Moreira acha mais prudente não esperar as votações do Senado e da Câmara e baixa em dezembro um decreto batendo o martelo de uma vez: aluno nenhum repetirá o ano letivo.





Em anúncio de jornal, importadora de carros aproveita epidemia e alerta sobre os riscos de viajar de bonde (imagem: O Paiz/Biblioteca Nacional)



Em outra linha, o deputado Celso Bayma (SC) redige um projeto de lei ampliando em 15 dias o prazo para o pagamento das dívidas que vencem em plena epidemia. De acordo com ele, a moratória é necessária porque muitos comerciantes baixaram as portas, deixaram de lucrar e, por tabela, ficaram impossibilitados de honrar seus compromissos com bancos e outros credores.


— Os que vivem estes dias angustiosos sabem que a capital do país [Rio] tem necessidade de feriados, o mesmo sucedendo com a praça de São Paulo. Por esse meio, poderão os negociantes encobrir a situação aflitiva em que se encontram — acrescenta Bayma, sem, contudo, conseguir a aprovação do projeto.

Faltam estatísticas confiáveis a respeito das vítimas no Brasil. Mesmo assim, não há dúvidas de que a epidemia é avassaladora. O gráfico de óbitos anuais da cidade de São Paulo mostra um salto gritante quando chega 1918. Num único dia, o Rio chega a registrar mil mortes.

A devastação também pode ser dimensionada pelas ausências na eleição para o Senado ocorrida apenas na cidade do Rio em novembro de 1918. A capital tem 36 mil eleitores registrados, mas apenas 5 mil vão às urnas. Na eleição presidencial de oito meses antes, como comparação, 22 mil cariocas votaram.

— A eleição de senador foi uma eleição sem eleitorado. Tanto vale dizer, não foi uma eleição — critica o senador Francisco Sá (CE), tentando, sem sucesso, anular a votação.





Órfã da epidemia: jornal A Noite conta história de menina de 3 anos que foi deixada na Santa Casa do Rio para adoção, após seus pais terem morrido de gripe espanhola (imagem: Biblioteca Nacional)



O Governo proíbe as aglomerações públicas. Os teatros e os cinemas, além de lacrados, são lavados com desinfetante. Pela primeira vez, as pessoas ficam proibidas de ir aos cemitérios no Dia de Finados — não só para evitar as multidões, mas também para impedir que se veja o estoque de corpos insepultos.


— O que vemos são acontecimentos funestos, uma verdadeira hecatombe — resume o deputado Azevedo Sodré (RJ).

Os jornais estão repletos de anúncios de remédios milagrosos que se dizem capazes de prevenir e de curar a gripe. A oferta vai de água tônica de quinino a balas à base de ervas, de purgantes a fórmulas com canela. A procura é tão grande que as farmácias se aproveitam da situação e levam os preços às alturas. No Rio, a prefeitura reage tabelando o preço dos remédios.





De xaropes a supositórios: charge da revista Fon Fon critica oferta de remédios que prometem milagres contra a gripe espanhola (imagem: Biblioteca Nacional)



Na cidade de São Paulo, a população em peso recorre a um remédio caseiro: cachaça com limão e mel. Em consequência, o preço do limão dispara, e a fruta some das mercearias. De acordo com o Instituto Brasileiro da Cachaça, foi dessa receita supostamente terapêutica que nasceu a caipirinha. Coincidência ou não, uma das peças de maior sucesso em São Paulo em 1918 se chama A Caipirinha.

— A verdade é que a gripe não tem cura — diz o médico Lybio Martire Junior, presidente da Sociedade Brasileira de História da Medicina. — Diante de uma doença mortal nova e da falta de informação, a população fica apavorada e acredita em qualquer promessa de salvação. Até hoje é assim. Basta lembrar os primórdios da Aids.

A epidemia escancara uma deficiência grave do Brasil: em termos de saúde, os pobres estão ao deus-dará. Não há hospitais públicos. Não é raro que as pessoas, assim que se descubram “espanholadas”, busquem socorro nas delegacias de polícia. Quem, aos trancos e barrancos, presta alguma assistência à população carente são instituições de caridade, como as santas casas e a Cruz Vermelha.

— As famílias ricas são menos atingidas do que as famílias pobres porque se refugiam em fazendas no interior do país, mantendo distância do vírus — conta o historiador Leandro Carvalho, professor do Instituto Federal de Goiás e autor de dois estudos sobre a epidemia de 1918.

Dada a multidão que morre todos os dias, começa a correr no Rio a história de que a Santa Casa de Misericórdia, para abrir novos leitos, acelera a morte dos doentes em estado terminal. Isso se daria por meio de um chá envenenado administrado aos pacientes na calada da noite. Nasce, assim, a lenda do “chá da meia-noite”. Os jornais apelidam o hospital de “Casa do Diabo”.

O deputado Azevedo Sodré fica indignado com a campanha de difamação:

— O povo, não sabendo a quem incriminar pela desgraça que o ferira e pelo abandono em que se achou, revoltou-se contra a Santa Casa de Misericórdia, que representa quase toda a assistência pública desta capital. O povo parece não saber que a Santa Casa, afora um subsídio pequeno que lhe concede o governo, vive do favor do público, desse espírito de filantropia tão vivo no seio da nossa população.

No auge da crise, prefeitos e governadores se dão conta de que não podem permanecer de braços cruzados. Com certo atraso, distribuem remédios e alimentos, improvisam enfermarias em escolas, clubes e igrejas e convocam médicos particulares e estudantes de medicina.

No âmbito federal, o que existe é a Diretoria-Geral de Saúde Pública, subordinada ao Ministério da Justiça, mas com atuação bastante tímida, cuidando apenas da barreira sanitária dos portos e da higiene da capital do país.

O deputado Sodré afirma que a culpa da epidemia não é da Santa Casa, mas sim da Diretoria-Geral da Saúde Pública, por ter subestimado as notícias da gripe espanhola no exterior e não ter imposto quarentena aos navios vindos de fora, como o Demerara.

— Mesmo dias depois, ao irromperem os primeiros casos no Brasil, reinava em nossa repartição sanitária a mesma ignorância máxima. Presenciamos uma quase falência dos nossos serviços de higiene e assistência públicas.

Sodré, então, apresenta um projeto de lei que promoveria a diretoria a Ministério da Saúde Pública.

— Salvemos ao menos as aparências. Se ao Governo não sorri a ideia de um Ministério da Saúde Pública, que nos diga o que pretende fazer, para que nós, o Congresso Nacional, inteirados do seu desejo, nos movamos, discutamos e resolvamos consoante as nossas funções no sistema representativo que rege o país.

Apesar dos apelos, o projeto não avança. De qualquer forma, o susto da gripe espanhola faz o Governo se mexer. Um ano mais tarde, na virada de 1919 para 1920, o Congresso Nacional aprova e o presidente Epitácio Pessoa sanciona uma decisiva reforma na estrutura federal de saúde.

A acanhada diretoria cresce, ganha responsabilidades e é rebatizada de Departamento Nacional de Saúde Pública. O novo departamento atua no combate à lepra, à tuberculose, à malária e às doenças venéreas. O escopo agora é nacional.

Assim, de forma indireta, a gripe espanhola planta tanto a semente do Ministério da Saúde, que surgirá em 1930 (como Ministério dos Negócios da Saúde e da Educação Pública), quanto a do Sistema Único de Saúde (SUS), que será previsto na Constituição de 1988.

Do mesmo modo abrupto com que chega ao Brasil, a gripe espanhola desaparece repentinamente. Em dezembro, já são raros os contágios. Foram tantas as pessoas infectadas entre setembro e novembro que o vírus praticamente não tem mais a quem atacar.

Enfim terminado o filme de terror, os cariocas usam o Carnaval de 1919 como forma de exorcizar o fantasma da gripe espanhola. O Rio assiste, nos bailes e nos blocos de rua, àquela que talvez seja a folia mais desenfreada de que se tem notícia na cidade. Das marchinhas aos carros alegóricos, o tema da festa é um só: o “chá da meia-noite” — que não bota medo em mais ninguém



Reportagem por Arquivo S
Ricardo Westin, da Agência Senado
Com pesquisa do Arquivo do Senado

Gripe espanhola






A gripe espanhola foi uma pandemia que aconteceu entre 1918 e 1919, atingindo todos os continentes e deixando um saldo de, no mínimo, 50 milhões de mortos. Não se sabe o local de origem dela, mas sabe-se que ela se iniciou de uma mutação do vírus Influenza. Os primeiros casos foram registrados nos Estados Unidos.

A gripe espanhola espalhou-se pelo mundo, principalmente, por conta da movimentação de tropas no período da Primeira Guerra Mundial, tendo um impacto direto nos países que participavam desse conflito. Aqui no Brasil, ela chegou em setembro de 1918, espalhando-se por todas as regiões do país e causando a morte de 35 mil brasileiros.

Acesse também: Cinco doenças que marcaram a história da humanidade
Onde surgiu?
Os primeiros casos de gripe espanhola foram registrados entre militares nos Estados Unidos.

Uma série de estudos foram conduzidos ao longo dos séculos XX e XXI sobre a gripe espanhola, e a origem da doença permanece um mistério. Existem duas teorias que sugerem que ela pode ter surgido na China ou nos Estados Unidos, mas não há provas que possam confirmar em qual dos dois lugares ela tenha de fato aparecido pela primeira vez.

O que se sabe é que, provavelmente, a gripe espanhola foi uma mutação do vírus Influenza que passou de aves para os seres humanos. Além disso, sabemos que os primeiros casos que se tem conhecimento aconteceram nos Estados Unidos e foram registrados no Fort Riley, uma instalação militar localizada no estado do Kansas.

O primeiro paciente foi o soldado Albert Gitchell, o qual foi internado, com sintomas de gripe, na enfermaria de Fort Riley, em 11 de março de 1918. Nas semanas seguintes, mais de 1100 outros soldados desse local foram internados com os mesmos sintomas. Acredita-se que por meio das tropas norte-americanas que participavam da Primeira Guerra Mundial é que a doença espalhou-se pelo mundo.


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Por que é chamada de gripe espanhola?

Se a gripe espanhola surgiu ou nos Estados Unidos ou na Chima, por que a chamamos de gripe espanhola? O termo “espanhola” não faz referência à suposta origem da doença, mas sim ao fato de que a imprensa espanhola ficou conhecida por divulgar as notícias dela pelo mundo. A explicação para isso tem relação direta com a Primeira Guerra Mundial.

A gripe espanhola afetou todos os continentes do mundo e teve um impacto muito grande nos países que lutavam na Primeira Guerra Mundial. Por conta desse conflito, era necessário que as informações da doença fossem escondidas de forma a não prejudicar o moral dos soldados, não criar pânico na população e nem passar imagem de fraqueza para o adversário.

Assim, as notícias dessa gripe letal eram censuradas em grande parte dos países europeus. A Espanha, no entanto, não participava da guerra, e sua imprensa tinha liberdade para falar da doença. Isso fez com que a cobertura espanhola ficasse conhecida no mundo, e a pandemia passou a ser nomeada como “gripe espanhola”.

Acesse também: O Brasil na Primeira Guerra Mundial
Difusão da doença

A gripe espanhola alastrou-se pelo mundo em três ondas:


Primeira onda: iniciada em março de 1918;


Segunda onda: iniciada em agosto de 1918;


Terceira onda: iniciada em janeiro de 1919.

Entre essas três ondas, a segunda ficou conhecida por ser a mais contagiosa e por possuir os maiores índices de mortalidade. A tese aceita é a de que a doença inicialmente se espalhou pelo mundo por meio das tropas norte-americanas enviadas para a Europa para participarem da Primeira Guerra Mundial.

Uma vez estabelecida no continente europeu, a doença foi levada para o restante do mundo pelo deslocamento de pessoas por meio de viagens ou do sistema de transporte internacional de mercadorias. Aqui no Brasil, por exemplo, ela chegou, em setembro de 1918, por uma embarcação que veio da Inglaterra e passou por Lisboa, Recife, Salvador e Rio de Janeiro.

Todos os continentes habitados foram afetados pela gripe espanhola, e o historiador J. N. Hays alega que pouquíssimos locais, como áreas do norte da Islândia e algumas ilhas da Samoa Americana, não foram afetadas|1|. Isso significa que somente locais remotos conseguiram escapar da gripe espanhola.
Tratamento

O uso de máscaras foi comum em alguns locais dos Estados Unidos como forma de diminuir o contágio da gripe espanhola.

À medida que a gripe espanhola ganhou espaço, o efeito era o mesmo em diferentes locais: o sistema de saúde entrou em colapso devido à grande quantidade de pessoas doentes. A princípio muitos cientistas acreditavam que o causador da doença tinha sido uma bactéria conhecida na época como bacilo de Pfeiffer, mas atualmente sabemos que essa teoria não estava correta.

Os médicos da época não sabiam como tratar adequadamente a doença, primeiro, por ela ser nova, e segundo, porque a medicina até então não tinha conhecimento suficiente para tal ação. Uma série de medicamentos começaram a ser administrados nos pacientes como tentativa de combatê-la, mas mostraram-se ineficazes.

Os tratamentos dedicaram-se, dessa forma, a aliviar o sofrimento dos pacientes, e, assim, o papel das enfermeiras foi essencial, pois elas mantinham os cuidados diários com aqueles que adoeciam. No entanto, como mencionado, o colapso dos sistemas de saúde ocorreu em diferentes locais onde a doença chegou, e nem todos tiveram acesso ao tratamento devido.

Isso forçou a tomada de medidas emergenciais, como a improvisação de hospitais e de leitos para atender as pessoas que adoeciam. Outro ponto é que os pacientes mais graves e que desenvolviam infecções sofriam consideravelmente, pois, naquela época, não existiam antibióticos para realizar o tratamento deles.

Como se identificou que a doença era contagiosa, muitos locais adotaram medidas de isolamento social. Assim, foram decretados o fechamento de escolas, igrejas, comércio e repartições públicas em diferentes locais, inclusive no Brasil. Em alguns deles, como nos Estados Unidos, adotou-se o uso de máscaras para reduzir-se o contágio. Muitos locais incentivaram a população a entrar em quarentena.

J. N. Hays afirma que a quarentena em alguns lugares, como na Austrália, teve grande sucesso, uma vez que o país foi atingido pela primeira onda da gripe, mas não foi afetado pela segunda|2|. O combate contra a gripe espanhola presenciado em locais como a Europa e a América do Norte não o foi em locais como a Ásia e a África, em grande parte ainda colonizados pelos europeus, o que fez com que milhões de pessoas morressem neles.

Isso fez com que surgissem algumas teorias que tentaram explicar a mortalidade da doença pela classe social. Em alguns locais, como a Índia, ela pode ser aplicada (em outros, não); entre os milhões de mortos de gripe espanhola no país (fala-se que entre 18 e 20 milhões de pessoas morreram só na Índia), a maioria pertencia às castas mais baixas. Outra questão que permanece sem explicação é o porquê da doença ser mais mortal em jovens de 20 a 30 anos.

Acesse também: Baixa Idade Média – período da história marcado pela peste negra
Consequências

A gripe espanhola foi uma das piores pandemias da história da humanidade. Mostrou-se como uma doença com grande capacidade de contágio e altamente letal. Os especialistas do assunto falam que 25% de toda a população norte-americana foram afetados pela doença, o que corresponde de 25 a 30 milhões de pessoas|3|.

No caso do Brasil, por exemplo, a cidade de São Paulo foi uma das mais afetadas, e, embora tenham sido notificados 116.777 casos nela (22,32% da população), acredita-se que o total de pessoas infectadas pela gripe espanhola tenha sido de 350 mil, o que corresponde a cerca de 2/3 da sua população naquele período|4|.

Ao todo, os especialistas do assunto apontam que a quantidade mínima de pessoas que morreram de gripe espanhola, entre 1918 e 1919, tenha sido de 50 milhões, mas algumas estatísticas elevam esse total para até 100 milhões de pessoas. Um dos locais mais afetados, como mencionado, foi a Índia, que registrou, no mínimo, 18 milhões de mortos. Aqui no Brasil foi registrado, oficialmente, o total de 35 mil mortos.

Notas

|1| HAYS, J. N. Epidemics and pandemics. Their impacts on human history. Austin, Texas: Fundação Kahle, 2005. p. 386.

|2| Idem, p. 391.

|3| Idem, p. 385.

|4| BARATA, Rita Barradas. Cem anos de endemias e epidemias. Para acessar, clique aqui.


Por Daniel Neves Silva

terça-feira, 21 de abril de 2020

CORONAVÍRUS: ÁGUA PARA LAVAR AS MÃOS NAS PRAÇAS DO MUNICÍPIO


karirioeste
A Prefeitura Municipal através da Secretaria de Obras está realizando a construção de lavatórios de mãos em todas as praças da sede do município.


CAMPOS SALES EM MOVIMENTO

karirioeste
Mais material chegando para as obras em andamento no município.
"Mesmo com todas as dificuldades estamos trabalhando" disse o prefeito Moésio.

Na rua Genezaré (já terminando a pavimentação, parabéns para o mestre Luizinho e sua equipe).
No Mirante e no novo hospital as obras seguem dia a dia, mantendo a distância (respeitando as normas e a saúde dos outros e pensando no bem estar da cidade).


O Prefeito destacou a seguinte frase: No Hospital e Mirante e como diz o Martinho da vila: Devagar devagarinho mas indo


E no final da tarde nossa equipe acompanhou a chegada do material que vai ser utilizado na pavimentação do centro antigo da cidade.


O novo calçadão será na rua da lotérica (travessa do amigo Raimundo Cabeludo). O mesmo será todo no piso intertravado.










Crédito Rural: prazo para produtores renegociarem dívidas acaba no dia 31 de maio

Produtores rurais têm pouco mais de um mês para renegociarem dívidas Foto: Marcello Casal Jr./Agência Brasil Medida aprovada pelo CMN mira ...