IGOR GIELOW
DE SÃO PAULO
16/04/2017 02h00
Adriano Vizoni/Folhapress
O cientista político Leandro Machado, 39, fundador do Movimento Agora!, de viés liberal
A implosão da política tradicional pela Operação Lava Jato estimulou a proliferação de grupos suprapartidários que procuram influenciar o debate público –e, talvez, achar o nome de um candidato a presidente para chamar de seu em 2018.
Essas "start ups" políticas, geralmente com 50 ou 100 membros, têm em alguns casos apoio empresarial e a presença de poucas figuras com ligações partidárias. A maioria adota um discurso que flutua no espectro do liberalismo econômico e o autointitulado progressismo social.
"Este é um momento rico para o debate. O mundo político caiu", diz o cientista político Leandro Machado, 39, um dos criadores do Agora!, que reúne 50 membros de perfis diversos, como a especialista em segurança pública Ilona Szabó e Hussein Kalout, secretário de Assuntos Estratégicos do governo Michel Temer.
O Agora! lançará seu programa em junho, e as linhas gerais apontam para a defesa de um equilíbrio entre Estado e iniciativa privada e liberdade individual. "Não seremos um partido político, mas vamos apoiar candidatos", afirma Machado.
A tática é a mesma adotada pelo MBL (Movimento Brasil Livre), que ajudou a organizar as manifestações pelo impeachment de Dilma Rousseff e virou paradigma de estratégia digital entre ativistas –embora seja considerado muito à direita pela maioria dos novos grupos.
O MBL não virou partido, mas viu políticos associados a seu nome se elegerem em 2016, como o vereador paulistano Fernando Holiday (DEM).
Em linha com o Agora! há o Meu Rio, o Acredito! e o Livres, uma dissidência do partido nanico PSL que adotou discurso libertário e teve como padrinho de lançamento no Rio o ex-presidente do Banco Central Gustavo Franco –que continua filiado ao PSDB.
"Esperamos poder crescer dentro do partido", diz o presidente do PSL no Rio, Paulo Gontijo, 36. Suas bandeiras vão do Estado mínimo à legalização da maconha.
Outro grupo, o Nova Democracia, está focado em formular uma proposta de reforma política que permita a ascensão de novas lideranças. A discussão ora no Congresso dificulta isso, por prever cláusula de barreira e lista fechada.
Contra a tendência de não formar agremiações, há o exemplo solitário do Partido Novo. "O momento é único para todos nós", diz o seu presidente, o executivo João Dionísio Amoêdo. Criado como "start up" em 2010, o Novo virou sigla e disputou sua primeira eleição no ano passado, elegendo vereadores em quatro capitais.
Além de alergia aos mecanismos da política tradicional, os movimentos temem ter o mesmo fim da Rede da ex-senadora Marina Silva.
Após ficar em terceiro lugar na eleição presidencial de 2010 pelo PV, Marina tentou viabilizar sua sigla para disputar em 2014.
Não deu certo, mesmo com o apoio de pesos-pesados como o banco Itaú e a indústria de cosméticos Natura, e ela virou vice de Eduardo Campos pelo PSB, assumindo a vaga de presidenciável após a morte do candidato.
Abalada pela campanha negativa que sofreu por parte do PT, que ajudou a tirá-la do segundo turno, Marina até conseguiu formar a Rede, mas o partido não tem capilaridade e a liderança da ex-senadora é questionada. Empresários simpáticos a ela começaram a olhar para os lados.
O exemplo mais notório é o de um dos fundadores da Natura, Guilherme Leal. Ele foi vice de Marina em 2010 e montou a Rede de Ação Política pela Sustentabilidade, uma incubadora de "start ups" políticas que gestou o Acredito! e o Brasil 21.
O debate fora dos partidos ocorre também em entidades como o Instituto Millennium (RJ) e o Centro de Liderança Pública (SP), além de agremiações da área econômica, como a Casa das Garças (RJ).
Em 2018, apenas o Novo deverá ter um candidato próprio. "Vamos focar na Presidência e na formação da bancada", diz Amoêdo.
O partido tem nos quadros o ex-técnico de vôlei Bernardinho e já sondou, há algum tempo, o apresentador de TV Luciano Huck, que em entrevista recente à Folha defendeu a necessidade de ter sua geração ouvida.
Contra as intenções há a realidade. Participar da vida política hoje é tarefa para partidos estruturados.
Assim, quase todas as conversas giram sobre a viabilidade de nomes dentro de siglas tradicionais e, por exclusão dos tempos de Lava Jato, o prefeito paulistano João Doria (PSDB) é sempre citado.
"É ótimo nome", afirma Amoêdo. Apesar de uma rusga entre Holiday e o secretário de Educação paulistano, o MBL apoia abertamente Doria à Presidência.
Bem avaliado até aqui, Doria hoje espera o destino de seu padrinho e também presidenciável, o governador Geraldo Alckmin (PSDB), envolvido na delação da Odebrecht
Nenhum comentário:
Postar um comentário