CRÔNICA

VOU-ME EMBORA PARA GLIESE.

Antonio Hélio da Silva – Poeta e Cronista.
Membro Fundador da Soc. dos Poetas de Araripe.
Sócio Correspondente do ICVC – Instituto Cultural do Vale Caririense.


Antes de concluir minha geringonça mijatória e publicar Meu Pé de Juazeiro, vou arrumar as malas e partir para Gliese.
Independente de Jose Rousseff ou Dilma Serra ganhar as eleições presidentiais de 2010 e ter ou não ter água da Cagece nas torneiras de minha Araripe, tenho que ir. E logo! Pois a distância é motivo de muita pressa. Não é que Gliese seja no fim do mundo – se é que existe o fim do mundo. ...E também com a modernidade, nada é longe. Afinal, há 70 anos, três dos nossos foram à lua. Claro que a lua é bem ali. E daqui a gliese é 180 trilhões de quilômetros. E mais: não sou uma criança.
Quando eu sair daqui, vou conferir direitinho essa quilometragem. A diferença da lua pra lá será compensada pela evolução tecnológica de hoje. O que a NASA acha? Não importa. Quero é ir para Gliese.
Escala ou conexão lunar vai depender da minha vontade. No momento estou grilado, com medo de demorar por lá e os glieseanos me tacharem de lelé da cuca. E quero chegar sem resquício negativo de nada.
A minha aterrissagem vertical a Gliese será um “deus nos acuda”. A capsula na qual descerei, ficará no mesmo local. E será o marco histórico do primeiro extraglieseano a pisar naquele chão. Se não me verem ainda voando ou pousando, vão me classificar de uma anomalia de lá mesmo. So quero que não me confundam com nenhum mundico glieseano. Pois eu serei real de outro mundo entre aqueles que poderão ser bolhas gigantes ou pequenas, falantes ou mudas. Trípedes com várias cabeças pensantes ou não, enchergando sem olhos. Animais do nosso protótipo, grande ou minúsculo, blindados com uma resina de aço, atingindo tal condição na fase adulta. Ou ainda quadrúpedes deformados – na minha visão, com a base sem pés nem dedos, pois a gravidade de La é mais intensa. O QI desses seres pode ser mais evoluído que o nosso, mandando ver nas ciências diversas, e quem sabe na forma organizacional quadrupiana. Ou ainda, gente com uma cabeça oca, com dois braços e duas pernas, sendo comandados sem humilhação pelos quadrúpedes ou pelos tríples. Ou quem sabe, gente ao modelo próprio de Gliese, voadores, com asas embutidas ou postiças, para irem dormir na parte escura do planeta (lado oposto da estrela anã vermelha), uma vez por mês. O voo sendo três vezes mais que a velocidade do voo rasante da águia brasileira. Ou em missões especiais pelos buracos negros do universo, no intuito de descobrir outras civilizações.
E os albinos, irem à parte clara escurecer a pele. Esses da parte escura, enxergando sem necessidade de luzes.
E eu em Gliese! Com tudo diferente daqui!
Minha equipe mando logo de volta, ao me remeterem na cápsula. Ficarei sozinho. Eles já me confessaram que são radicais apenas em questões técnicas. Emocionalmente, não teem a mínima condição de permanecerem lá em Gliese nenhum minuto.
Se já existir Tele-transporte e o destino for até onde vai à imaginação deles, transfiro minha imaginação para a eles. E nesta junção coordenada pelos quadrúpedes, trípedes ou bolharudos, volto convidar a MOÇA que vi num ônibus em Fortaleza, sentido APEOC Rodoviária, para morar comigo em Gliese.
Enquanto não chego, fico vendo daqui a panorâmica de uma cidade surpreendente de Gliese, com tudo diferente...

Araripe-(CE.) Brasil, Continente Sul Americano, Sistema Solar 27 de outubro de 2010. Horário de verão: (07h23minhs.)