Crato-CE: Restaurante Guanabara completa 53 anos sem as portas e é destaque em revista estadual.

Seu Neném, como é conhecido Francisco Alves Feitosa, tinha apenas 29 anos quando montou o seu restaurante com um ousado desafio: mantê-lo aberto 24 horas. Para fazer valer a inovação o primeiro passo foi não dotá-lo de portas e 53 anos depois o Restaurante Guanabara permanece assim com o seu proprietário já vivenciando seus 82 anos. A idade não é problema para que o mesmo chegue por volta das 22 horas e enverede madrugada adentro acompanhando o entre e sai dos clientes com um diferencial: todos o cumprimentam como uma figura conhecidíssima no seio da sociedade cratense.

O estabelecimento funciona na Rua Monsenhor Esmeraldo, 853, no centro de Crato, e é destaque na edição deste mês de agosto da Revista Costumes ligada ao Mercadinho São Luiz que possui uma filial instalada na Avenida Padre Cícero daquele município. Filho daquela cidade e casado com Maria Alvanita Maia Feitosa, de 83 anos, ele foi alfaiate e vendeu jóias antes de abrir o restaurante o qual se tornou ponto de encontro da sociedade e refugio dos boêmios, principalmente nas madrugadas.

Um dos pratos mais apreciados é o file à parmegiana e um dos cinco filhos de Seu Neném, a Jairiosmides Maia Feitosa, que o auxilia no gerenciamento do estabelecimento, se orgulha ao contar de um cliente residente no Rio de Janeiro o qual manda buscar periodicamente. Ela cita outro que é auditor fiscal da Receita Estadual em Fortaleza e procede da mesma forma.

Todavia a preferência pelo caldo com ovo domina no decorrer da madrugada especialmente quando está na hora de encerrar a noite de aperitivos ou curar a ressaca no momento em que esta chega. Outro fato positivo comemorado por Seu Neném é a tranqüilidade, pois o local jamais foi manchado pela violência urbana que toma contas das cidades. Ele se orgulha ao mencionar a passagem em seu estabelecimento de clientes como os saudosos cantores Altemar Dutra, Luiz Gonzaga e Gonzaguinha, dentre outros.

O dono do Restaurante Guanabara é seresteiro e confessa sua paixão pelas músicas de Altemar Dutra, de quem era amigo. Seu Neném foi um dos mais exímios dançarinos do Crato e até chamado “pé de ouro”, que varava as madrugadas nos bailes de antigamente. Para não perder o hábito boêmio, a solução foi arrancar as portas e montar o estabelecimento para tê-lo como meio de sobrevivência e as noites como companheiras.

Assim, enquanto a maioria da população dorme acalentada pelo silêncio da madrugada, Crato se movimenta sob a vigília daqueles que trocam a noite pelo dia. Boêmios, seresteiros e notívagos vagueiam, durante a noite, à procura de um local para afogar suas mágoas ou extravasar suas alegrias. Além destes, o viajante que vai matar a fome ou o operário noturno que precisa de uma refeição.

Miséria.