CARLOS ALBERTO ALBUQUERQUERESPONSÁVEL PELO BLOG CONEXÃO REGIONAL

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terça-feira, 8 de dezembro de 2015

Em carta, Temer diz que governo não confia nele

DESABAFO
Em carta, Temer diz que governo não confia nele
No texto, direcionado a Dilma, o peemedebista rememorou fatos, mas a Vice-Presidência diz que não é um rompimento
No texto "pessoal", Michel Temer diz que se manteve leal ao Palácio do Planalto e em nenhum momento criou dificuldades para o governo. Sobre a postura tímida atual, afirma que precisa trabalhar para manter a unidade do PMDB ( FOTO: REUTERS )
Brasília. Em tom de desabafo e de críticas à presidente Dilma Rousseff, o vice-presidente Michel Temer (PMDB), incomodado com as declarações de Dilma de que confia nele, enviou, ontem, carta "pessoal e confidencial" à petista em que diz textualmente que ela dá demonstrações de que "não confia nem em mim nem no PMDB".
>Dilma Rousseff defende que Congresso cancele recesso>Brasil elege democracia como melhor sistema>Padilha nega haver conspiraçãoAo justificar o texto por escrito, entregue por sua chefe de gabinete à presidente, a carta começa com a seguinte expressão: "as palavras voam, o escrito permanece". Em seguida, Temer diz que o PMDB e ele sempre foram "extremamente leais a senhora", lembrando as disputas na convenção que levaram à aliança dele com Dilma para a disputa de sua primeira eleição.
Logo depois, Temer diz que apesar de, nos últimos dias, a presidente fazer comentários de que espera ter a confiança do vice-presidente, os fatos durante o primeiro e segundo mandato da petista mostram que "a senhora não confia nem em mim nem no PMDB".
O peemedebista passa a relatar, então, cerca de dez episódios em que diz ter sentido que a presidente nunca confiou nele. Um deles envolve o vice-presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, que esteve no Brasil. Temer reclama que, na época, não foi chamado para as audiências e que assessores do próprio vice norte-americano perguntaram para sua equipe porque ele não participou do encontro.
Ao final do relato, Temer volta a dizer que "tenho quase certeza", depois destes exemplos, "que a senhora continua não confiando em mim". O peemedebista diz que, no primeiro mandato, foi um "vice decorativo", mas que em nenhum momento criou dificuldades para o governo dela, sendo leal ao Palácio do Planalto. Depois, Temer passa a explicar sua postura atual, de evitar comentários públicos em defesa da presidente Dilma. Ele destaca que é o presidente do PMDB, precisa trabalhar pela unidade do partido e não pode perder o apoio do PMDB.
Em nota, a Vice-Presidência da República disse que a carta não propôs rompimento entre partidos ou com o governo. "Ele rememorou fatos ocorridos nestes últimos cinco anos, mas somente sob a ótica do debate da confiança que deve permear a relação entre agentes públicos responsáveis pelo país", afirmou. Até o fechamento desta edição, a secretaria de imprensa da Presidência não havia confirmado o recebimento da carta pelo gabinete de Dilma.
Temer mantinha um silêncio público desde que o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), aceitou pedido de abertura de impeachment contra Dilma na quarta-feira. Ele ficou incomodado com as versões de que havia pregado o rompimento entre o PMDB e o governo e decidiu divulgar sua versão sobre a carta nas redes sociais. Segundo aliados, o vice "se surpreendeu" ao ver que a carta escrita "em caráter pessoal" para a presidente foi "vazada" pelo Planalto. Pessoas próximas à petista atribuem a divulgação do documento ao PMDB.
EsclarecimentoA reportagem apurou que Temer, ao falar sobre o assunto, esclarecerá que "não deu publicidade" à carta e que, "surpreendido" com sua divulgação, resolveu fazer esclarecimentos. "Diante da informação de que a presidente o procuraria para conversar, Michel Temer resolveu apontar por escrito fatores reveladores da desconfiança que o governo tem em relação a ele e ao PMDB", dirá o texto do vice. "Não propôs rompimento entre partidos ou com o governo. Exortou, pelo contrário, a reunificação do país, como já fez em outros pronunciamentos", afirmará o texto. A mensagem, por fim, sustentará que a discussão deve ser mantida como o proposto inicialmente: "Pessoal e privada".
Sessão adiadaTambém ontem, Eduardo Cunha decidiu adiar para hoje à tarde a definição dos nomes que irão compor a comissão especial para decidir a abertura ou prosseguimento do processo de impeachment da presidente Dilma. A medida foi tomada em razão da decisão de partidos de oposição e de dissidentes de lançar uma chapa avulsa para a composição do colegiado parlamentar. A estratégia é contrapor a indicações de líderes partidários consideradas governistas em partidos com bancadas rachadas, como o PMDB e o PSD.
Líderes do DEM, PSDB e Solidariedade na Câmara também confirmaram que só indicarão membros para a chapa "avulsa" da comissão especial do impeachment, articulada por parlamentares da ala do PMDB insatisfeita com o perfil "moderado" das nomeações do líder da sigla, Leonardo Picciani (RJ).
O argumento de integrantes da oposição é de que, com uma chapa concorrente, não haveria tempo ontem para preparar as cédulas e promover uma eleição. Na tentativa de esvaziar a chapa dos líderes, partidos de oposição retiraram nomes indicados anteriormente. O regimento interno da Câmara determina que a comissão para analisar a abertura ou arquivamento do pedido de impeachment deve ser eleita em plenário. O líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE), criticou a decisão do adiamento e classificou a iniciativa de lançar uma chapa avulsa como "coisa de perdedor".
A sessão para composição da comissão especial deve ser realizada às 14h, mesmo horário em que o Conselho de Ética pretende discutir a admissibilidade do pedido de cassação do mandato do presidente da Casa Legislativa, o que pode inviabilizar a votação do processo. A ideia inicial era que ontem os partidos indicassem os membros da comissão especial e, hoje, o colegiado seria instalado oficialmente, quando haveria a escolha de seu presidente e relator. Com o adiamento, a eleição de ambos deve ficar para amanhã (9).
Leia abaixo a íntegra da carta do vice-presidente Michel Temer a Dilma:
São Paulo, 07 de Dezembro de 2.015.
Senhora Presidente,
"Verba volant, scripta manent".
Por isso lhe escrevo. Muito a propósito do intenso noticiário destes últimos dias e de tudo que me chega aos ouvidos das conversas no Palácio.
Esta é uma carta pessoal. É um desabafo que já deveria ter feito há muito tempo.
Desde logo lhe digo que não é preciso alardear publicamente a necessidade da minha lealdade. Tenho-a revelado ao longo destes cinco anos.
Lealdade institucional pautada pelo art. 79 da Constituição Federal. Sei quais são as funções do Vice. À minha natural discrição conectei aquela derivada daquele dispositivo constitucional.
Entretanto, sempre tive ciência da absoluta desconfiança da senhora e do seu entorno em relação a mim e ao PMDB. Desconfiança incompatível com o que fizemos para manter o apoio pessoal e partidário ao seu governo.
Basta ressaltar que na última convenção apenas 59,9% votaram pela aliança.
E só o fizeram, ouso registrar, por que era eu o candidato à reeleição à Vice.
Tenho mantido a unidade do PMDB apoiando seu governo usando o prestígio político que tenho advindo da credibilidade e do respeito que granjeei no partido.
Isso tudo não gerou confiança em mim, Gera desconfiança e menosprezo do governo.
Vamos aos fatos. Exemplifico alguns deles.
1. passei os quatro primeiros anos de governo como vice decorativo. a senhora sabe disso. perdi todo protagonismo político que tivera no passado e que poderia ter sido usado pelo governo. só era chamado para resolver as votações do pmdb e as crises políticas.
2. Jamais eu ou o PMDB fomos chamados para discutir formulações econômicas ou políticas do país; éramos meros acessórios, secundários, subsidiários.
3. A senhora, no segundo mandato, à última hora, não renovou o Ministério da Aviação Civil onde o Moreira Franco fez belíssimo trabalho elogiado durante a Copa do Mundo. Sabia que ele era uma indicação minha. Quis, portanto, desvalorizar-me. Cheguei a registrar este fato no dia seguinte, ao telefone.
4. No episódio Eliseu Padilha, mais recente, ele deixou o Ministério em razão de muitas "desfeitas", culminando com o que o governo fez a ele, Ministro, retirando sem nenhum aviso prévio, nome com perfil técnico que ele, Ministro da área, indicara para a ANAC.
Alardeou-se a) que fora retaliação a mim; b) que ele saiu porque faz parte de uma suposta "conspiração".
5. Quando a senhora fez um apelo para que eu assumisse a coordenação política, no momento em que o governo estava muito desprestigiado, atendi e fizemos, eu e o Padilha, aprovar o ajuste fiscal.
Tema difícil porque dizia respeito aos trabalhadores e aos empresários.
Não titubeamos. Estava em jogo o país. Quando se aprovou o ajuste, nada mais do que fazíamos tinha sequencia no governo. Os acordos assumidos no Parlamento não foram cumpridos. Realizamos mais de 60 reuniões de lideres e bancadas ao longo do tempo solicitando apoio com a nossa credibilidade. Fomos obrigados a deixar aquela coordenação.
6. De qualquer forma, sou Presidente do PMDB e a senhora resolveu ignorar-me chamando o líder Picciani e seu pai para fazer um acordo sem nenhuma comunicação ao seu Vice e Presidente do Partido.
Os dois ministros, sabe a senhora, foram nomeados por ele. E a senhora não teve a menor preocupação em eliminar do governo o Deputado Edinho Araújo, deputado de São Paulo e a mim ligado.
7. Democrata que sou, converso, sim, senhora Presidente, com a oposição. Sempre o fiz, pelos 24 anos que passei no Parlamento.
Aliás, a primeira medida provisória do ajuste foi aprovada graças aos 8 (oito) votos do DEM, 6 (seis) do PSB e 3 do PV, recordando que foi aprovado por apenas 22 votos. Sou criticado por isso, numa visão equivocada do nosso sistema. E não foi sem razão que em duas oportunidades ressaltei que deveríamos reunificar o país. O Palácio resolveu difundir e criticar.
8. Recordo, ainda, que a senhora, na posse, manteve reunião de duas horas com o Vice Presidente Joe Biden - com quem construí boa amizade - sem convidar-me o que gerou em seus assessores a pergunta: o que é que houve que numa reunião com o Vice Presidente dos Estados Unidos, o do Brasil não se faz presente? Antes, no episódio da "espionagem" americana, quando as conversar começaram a ser retomadas, a senhora mandava o Ministro da Justiça, para conversar com o Vice Presidente dos Estados Unidos. Tudo isso tem significado absoluta falta de confiança.
9. Mais recentemente, conversa nossa (das duas maiores autoridades do país) foi divulgada e de maneira inverídica sem nenhuma conexão com o teor da conversa.
10. Até o programa "Uma Ponte para o Futuro", aplaudido pela sociedade, cujas propostas poderiam ser utilizadas para recuperar a economia e resgatar a confiança foi tido como manobra desleal.
11. PMDB tem ciência de que o governo busca promover a sua divisão, o que já tentou no passado, sem sucesso.
A senhora sabe que, como Presidente do PMDB, devo manter cauteloso silencio com o objetivo de procurar o que sempre fiz: a unidade partidária.
Passados estes momentos críticos, tenho certeza de que o País terá tranquilidade para crescer e consolidar as conquistas sociais.
Finalmente, sei que a senhora não tem confiança em mim e no PMDB, hoje, e não terá amanhã.
Lamento, mas esta é a minha convicção.
Respeitosamente, \ L TEMER
A Sua Excelência a Senhora
Doutora DILMA ROUSSEFF
DO. Presidente da República do Brasil
Palácio do Planalto
Brasília, D.F.

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