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sexta-feira, 31 de maio de 2024

Cortisol: o “hormônio do estresse” é mesmo o culpado por seus problemas de saúde?






Alguns minutos nas redes sociais e você pode acabar convencido de que seu corpo está inundado com altíssimos níveis de cortisol. Apelidado de “hormônio do estresse”, o cortisol desempenha um papel importante na maioria dos processos fisiológicos do corpo humano. No entanto, recentemente a substância tem ganhado fama de grande vilã, com dezenas de vídeos no Instagram e no TikTok culpando um suposto desequilíbrio hormonal por ganho de peso, exaustão, ansiedade, dores de cabeça e outros males. Afinal, o cortisol pode mesmo ser a causa desses sintomas comuns para tanta gente? A BBC News Brasil conversou com médicos endocrinologistas para entender quais podem ser as consequências das altas taxas desse hormônio, como combatê-las e quando é necessário procurar um médico.

O que é o cortisol?

O cortisol é um hormônio da família dos esteroides, produzido pela parte superior das glândulas suprarrenais, também conhecidas como adrenais.

Ele tem muitas funções no corpo humano, como mediar a resposta ao estresse, regular o metabolismo, a resposta inflamatória e a função imunológica.


Também funciona como um regulador de humor, da pressão arterial e da quantidade de açúcar no sangue.

Foi apelidado de “hormônio do estresse” porque é liberado na corrente sanguínea pelas glândulas suprarrenais em situações percebidas como de risco pelo nosso corpo.

Essa liberação aumenta a pressão arterial e a dispersão de glicose no sangue, resultando no aumento momentâneo da força muscular.


No passado, a estratégia era recurso recorrente de sobrevivência em situações de risco real de morte, mas com as mudanças de estilo de vida o hormônio também é liberado em momentos estressantes que não envolvem, por exemplo, fugir de um predador.

Nesses casos, pode elevar os níveis de glicose na corrente sanguínea, o uso da glicose pelo cérebro e a disponibilidade de substâncias que reparam os tecidos do corpo.

O cortisol também retarda funções que não seriam essenciais ou prejudiciais em uma situação de luta ou de fuga: altera as respostas do sistema imunológico e suprime o sistema digestivo, o sistema reprodutivo e os processos de crescimento.


O sistema de alarme natural também se comunica com as regiões do cérebro que controlam o humor, a motivação e o medo.

Como um dos reguladores dos níveis de açúcar no sangue e do metabolismo do nosso corpo, o cortisol também é responsável por manejar carboidratos, gorduras e proteínas.

Ele atua ainda no fortalecimento do sistema imunológico e possui atividade anti-inflamatória. Por isso, a cortisona (um corticoide sintético semelhante ao cortisol) pode ser receitada por médicos em situações de lesão ou inflamação.


No entanto, o fato de o cortisol ter capacidade de interferir no metabolismo, provocando cansaço, ganho de peso e ansiedade, em alguns casos, não significa que um desequilíbrio em seus níveis seja responsável pelas queixas frequentemente citadas pelos criadores de vídeos nas redes sociais.
Desequilíbrio hormonal?

Doenças que causam alterações graves nos níveis de cortisol no sangue são bastante raras, explica Alexandre Hohl, professor de Endocrinologia e Metabologia da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).

As estimativas variam, mas segundo o serviço de saúde dos Estados Unidos, cerca de 40 a 70 pessoas em cada 1 milhão de indivíduos apresentam a chamada doença de Cushing, relacionada à alta concentração de cortisona ou cortisol no organismo do paciente por um longo período de tempo.


Para efeito de comparação, segundo a Federação Internacional de Diabetes, 10,5% da população adulta mundial (entre 20 e 79 anos) tem algum tipo de diabete. Isto é, mais de 100 mil pessoas a cada 1 milhão de habitantes.

O quadro da doença de Cushing é geralmente causado pelo uso prolongado de medicamentos à base de cortisona ou pela produção anormal de cortisol pelo organismo, muitas vezes devido a um tumor.

Mas Hohl explica que os sintomas manifestados por pacientes que possuem esse distúrbio costumam ser bastante intensos.


Eles incluem ganho de peso, perceptível principalmente na região abdominal e por meio de bolsas de gordura na cervical e outras regiões do tronco, estrias bastante vermelhas, acne, desgaste muscular, fraqueza e cansaço extremos, entre outros.

Os acometidos pela doença geralmente apresentam o que os médicos chamam de “face em lua”, ou um rosto bastante arredondado e grande. Taxas elevadas de glicose e pressão alta também são bastante comuns.

Já a insuficiência adrenal, quando as glândulas adrenais não produzem o hormônio cortisol em quantidade suficiente, pode provocar cansaço com mais frequência que o normal, fraqueza, vômito, diarreia, pressão baixa, tontura e outros sintomas.


Os dois extremos, portanto, podem levar os pacientes a sentir cansaço extremo, diz o professor da UFSC.

Mas isso não significa que pessoas que estão experimentando esse sintoma tenham qualquer um dos distúrbios acima.

“Existem milhões de causas para o cansaço e, na grande maioria das vezes, o cortisol não é o culpado”, diz.


O estresse crônico também pode manter os níveis de cortisol elevados. Mas segundo o médico e presidente da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia Paulo Miranda, a interpretação de resultados de exames é extremamente complexa.

“Correlacionar níveis de cortisol pela manhã com o diagnóstico de estresse ou utilizá-lo como ferramenta de estresse é um grande equívoco”, diz o endocrinologista.

“Pessoas que têm estresse crônico podem apresentar cortisol alto, mas [pode] não existir uma correlação.”


Miranda afirma que é possível que algumas pessoas descubram alterações em seus níveis de cortisol por meio de exames de sangue, mas isso não necessariamente indica qualquer tipo de distúrbio.

A liberação de cortisol em nosso corpo segue o chamado ciclo circadiano: de forma resumida, os valores máximos são observados nas primeiras horas da manhã e os mínimos, à noite.

“Medir o cortisol basal, pela manhã, ou sem testes padronizados não vai nos ajudar a dar diagnóstico de nada”, diz o médico.


“A própria punção para coleta do sangue pode ser um mecanismo de elevação de cortisol, porque muitas pessoas têm medo ou ficam ansiosas, mas isso não quer dizer que tenham estresse crônico ou outra doença.”

Segundo o presidente da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia, quando há suspeita de alterações graves, os médicos devem receitar exames mais completos e fazer um diagnóstico individualizado, baseado em vários fatores.
Queixas comuns com causas diversas

Por isso mesmo, os especialistas recomendam cuidado ao consumir conteúdos postados nas redes sociais sobre o tema.


Alguns vídeos populares no aplicativo TikTok, por exemplo, apontam dores de cabeça, insônia, ansiedade, dificuldade de perder peso e baixa libido como sinais prováveis de níveis alterados de cortisol.

Outros são até mais enfáticos. “O cortisol é o hormônio do estresse e é ele que está fazendo você passar o dia todo se sentindo sobrecarregada, cansada, com a mente remoendo vários e vários pensamentos ansiosos”, diz um criador de conteúdo, que dá dicas sobre como evitar o consumo de açúcar, elevar o consumo de proteína e até “cantar no banho” para regularizar os níveis do hormônio.

Dormir e se alimentar de forma saudável e praticar exercícios são hábitos excelentes, mas não seriam suficientes, por exemplo, para tratar uma pessoa com um tumor adrenal, afirmam os médicos.


Ainda segundo Alexandre Hohl, algumas das queixas apresentadas nos vídeos, especialmente o cansaço, são bastante comuns para muitas pessoas atualmente e podem ter causas diversas.

Na maioria das vezes, estão relacionadas ao estilo de vida e não aos níveis de cortisol, de acordo com ele.

“Mais da metade das queixas inespecíficas de cansaço, fraqueza ou indisposição tem a ver com dormir mal”, diz. “Dormir mal gera um círculo vicioso de problemas na saúde. Então minha primeira pergunta para um paciente com essas queixas seria ‘você realmente já tentou melhorar a sua higiene do sono?'”


Paulo Miranda reforça a ideia de que os diagnósticos devem ser individualizados e que informações divulgadas de forma generalizada demais, de fontes muitas vezes pouco confiáveis, não devem ser motivo de preocupação extrema.

“Muitos dos vídeos nas redes sociais hoje são cheios de frases feitas que parecem saídas de uma campanha de marketing para convencer as pessoas daquilo que se está falando”, diz. “Mas a ciência não funciona dessa forma. A ciência tem as suas incertezas e esse tema é extremamente complexo, cheio de nuances.”
Quando procurar um médico?

Os médicos alertam, porém, que há casos em que um aconselhamento médico especializado deve ser procurado imediatamente.


Segundo Alexandre Hohl, o sinal de alerta deve ser sintomas combinados e persistentes, mesmo diante de mudança de hábitos.

Ou seja, um quadro completo de aumento abdominal, ganho de peso intenso, face arredondada característica, estrias avermelhadas, acne grave e pressão alta pode indicar hipercortisolismo e deve ser averiguado.

“E é o médico endocrinologista o mais qualificado para fazer a investigação, já que são necessários muitos exames de interpretação complexa.”


Em caso de diagnóstico, a solução para a doença de Cushing passa muitas vezes por cirurgia ou radioterapia para remover tumores. Em caso de insuficiência adrenal, o tratamento costuma ser por meio de medicamentos.



(*)com informação do Jornal CB

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