CARLOS ALBERTO ALBUQUERQUERESPONSÁVEL PELO BLOG CONEXÃO REGIONAL

CARLOS ALBERTO ALBUQUERQUERESPONSÁVEL PELO BLOG CONEXÃO REGIONAL

quinta-feira, 6 de março de 2025

Após o boom, por que o setor de energias limpas enfrenta crise no Ceará


Segmento projeta uma recuperação plena apenas para 2027
Escrito por
Bruna Damascenobruna.damasceno@svm.com.br

06 de Março de 2025 - 09:00

Negócios
Legenda: Novos investimentos em parques eólicos podem ser destravados se ocorrerem leilões de transmissão
Foto: Kid Junior




O risco de fechamento da fábrica da Aeris no Ceará é sintomático: revela a crise dos setores de energias limpas, que se iniciou em meados de 2022 e se tornou mais evidente agora, em 2025. O questionamento levantado é: como um segmento em franca expansão, após a celebração de diversos memorandos de entendimento, sofreu declínio?


Veja também

Ingrid Coelho
Por que Fortaleza é a cidade do Nordeste com mais shopping centers?


Negócios
Sete rodovias estaduais que cortam 15 municípios cearenses serão duplicadas; veja locais




Diversos fatores contribuíram para essa mudança de cenário. No contexto brasileiro, destacam-se três elementos principais: a dificuldade de absorção da energia gerada pelas empresas, a lentidão na construção de linhas de transmissão para o escoamento e as restrições ao fornecimento.

Conforme o professor do departamento de Engenharia Elétrica da Universidade Federal do Ceará (UFC), Raphael Amaral, o maior gargalo é a transferência de energia produzida nos parques eólicos até os centros consumidores.


“A grande dificuldade da eletricidade é não ser possível armazená-la na forma em que é gerada. Se há geração, precisa-se consumi-la instantaneamente. Então, o Nordeste não tem demanda suficiente para receber a energia que está sendo gerada pelos parques eólicos”, dimensiona.



Por outro lado, aponta, a região Sudeste possui tal demanda energética, mas a ausência de novas linhas de transmissão impede a plena distribuição da energia concebida no Ceará e no Nordeste.

O professor acrescenta que a construção de um parque eólico ou solar demanda um período de três a quatro anos, enquanto a implementação de uma linha de transmissão pode estender-se por até oito anos, representando o dobro do tempo.

Além da questão da infraestrutura, após o apagão nacional de 2023, o Operador Nacional do Sistema (ONS) passou a limitar a geração das usinas. O mecanismo é chamado de “curtailment” (em português, seria corte de geração).

Ou seja, mesmo em condições climáticas favoráveis à geração de energia, o órgão regulador impõe restrições à produção das empresas, provocando prejuízos ao setor. Somente no ano passado, estima-se uma perda de R$ 1,6 bilhão, segundo levantamento realizado pela empresa de consultoria Volt Robotics.

Conforme o estudo, os cortes de geração sobre 1.445 usinas eólicas e solares corresponderam a 400 mil horas, o que equivale a 50 anos de produção de eletricidade. Os estados mais prejudicados foram o Ceará, Rio Grande do Norte e Bahia.

O Diário do Nordeste questionou o Ministério de Minas e Energia (MME) sobre a demora na execução de novas linhas de transmissão, bem como sobre as medidas em curso para mitigar a crise no setor. Até o momento da publicação desta matéria, não houve resposta.

Também indagamos ao ONS sobre ações para reduzir os efeitos negativos do curtailment, mas não houve retorno. Já a Empresa de Pesquisa Energética (EPE) foi questionada sobre o andamento dos estudos para o reforço das linhas de transmissão no Ceará, contudo, não houve resposta. Quando as entidades se pronunciarem esta matéria será atualizada.
Após 1ª crise no País, setor eólico projeta uma recuperação plena apenas para 2027


Legenda: Setor de energia eólica do Brasil vive a pior crise da história, segundo entidades
Foto: Thiago Gadelha



Conforme a presidente da Associação Brasileira de Energia Eólica e Novas Tecnologias (Abeeólica), Elbia Gannoum, esta é a primeira vez que o setor enfrenta uma crise no Brasil. A situação, segundo ela, iniciou-se na segunda metade de 2022 com a redução do acordo em seu contrato de compra e venda de energia de longo prazo, chamados de PPAs (sigla em inglês para Power Purchase Agreement).

“Hoje, mais de 90% do mercado de energia eólica é livre. Os leilões, há muito, eles estão deixando de ser relevantes para o Brasil por não estarem contratando grandes quantidades”, aponta. No Brasil, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) estipula as normas para a construção das linhas, fiscaliza o cumprimento dessas regras e promove certames para conceder a operação das estruturas.

“Essa crise, percebida na segunda metade de 2022, demora um pouco para trazer consequências no chão de fábrica. Por isso, começamos a perceber a crise da Aeris mais ali no fim de 2023 e 2024, porque a indústria tem esse período de dois anos, pois se contrata hoje para instalar daqui a dois anos", explica Elbia.

Os reflexos dos desafios enfrentados nos dois anos anteriores projetam um cenário de crise para o setor em 2025, com uma expectativa máxima de instalação de 3.3 GW de energia eólica. Em 2023, o setor energético estabeleceu um recorde ao atingir 5 GW, seguido pelo desempenho de 2024, registrando 3.3 GW de energia eólica.

Conforme Elbia, assim como a manifestação da crise se estende por aproximadamente dois anos, a recuperação também se processa em igual período. Consequentemente, os efeitos das decisões tomadas no presente ano serão observados somente em 2027.

"A crise de energia eólica teve seu aprofundamento durante o ano de 2024. Foi um ano muito difícil para a indústria, porque muitos fabricantes saíram do Brasil, outros desistiram de fabricar, deixaram as suas fábricas em stand-by”, diz.

Contudo, destaca, desde o fim de 2024, o mercado começou a apresentar sinais de reanimação, impulsionado pela celebração de contratos, sobretudo no mercado livre, e pela chegada de empresas ao País, atraídas pela competitividade da energia limpa.

Para ela, a regulamentação do Hidrogênio Verde (H₂V) e a abertura de negócios de tecnologia contribuirão para o início da recuperação.


"2025 ainda será muito desafiador, mas estamos vendo que está um pouco melhor que 2024, porque alguns contratos já estão sendo firmados. Quando esses contratos começarem, logo haverá pedidos para o chão de fábrica e a indústria começará a se reativar. No entanto, uma reativação efetiva será percebida por volta de 2027", completa.


Data centers podem ser a salvação para o setor no Ceará


Legenda: Foto do Data Center da Angola Cables, na Praia do Futuro, em Fortaleza. Os Data Centers são consumidores intensivos de energia.
Foto: José Leomar



Os projetos bilionários de data centers não apareceram no noticiário à toa. Diante da crise, a busca por essas empresas capazes de absorver o excedente energético produzido surge como uma solução estratégica para o setor eólico. Além da indústria do H₂V, os centros de dados, conhecidos por seu elevado consumo de energia, são uma saída.

Recentemente, a pedido de governadores do Nordeste, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) liberou o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, para preparar um decreto-lei para a construção de grandes centros de processamento abastecidos com energia solar e eólica, conforme noticiou a Folha de S. Paulo.

No Ceará, há a promessa de um data center de R$ 55 bilhões já começar a ser erguido neste ano. Segundo o secretário da Casa Civil, Chagas Vieira, um segundo empreendimento bilionário está sendon negociado com o investidores chineses, também na ordem de R$ 50 bilhões.

Já empresa Tecto deve entregar o Mega Lobster, seu terceiro data center em Fortaleza, no segundo semestre deste ano. Nesse caso, o capital é de R$ 550 milhões.

Além dos investimentos privados, o governador Elmano de Freitas (PT) já anunciou planos de implantar uma segunda Zona de Processamento de Exportação (ZPE) para abrigar essas companhias no Estado, a ser instalada na Praia do Futuro, em Fortaleza.

O projeto, ainda em etapa inicial de estudos, tem como objetivo desenvolver um espaço dedicado à economia digital, abrigando mais empresas do segmento de data center. Atualmente, o Estado possui uma ZPE no Complexo do Pecém (Cipp S/A), localizado na Região Metropolitana.

De acordo com o especialista Raphael Amaral, a implementação da indústria do H₂V e a instalação de data centers seriam suficientes para absorver a demanda energética existente, demandando, inclusive, a expansão da capacidade.


"A nossa demanda de energia atual do Estado do Ceará gira em torno de 1.5 a 1.7 gigawatts de potência. Data centers, por sua vez, trariam demandas na ordem de 8 a 10 gigawatts, ou seja, quase 10 vezes a nossa demanda atual, considerando somente o Ceará", exemplifica, ponderando ser um projeto de médio e longo prazo.


Ceará tenta construir a própria linha de transmissão para atrair data centers, diz governo


Legenda: Infraestrutura de transmissão de energia do Ceará deve ser reforçada nos próximos anos
Foto: Agência Brasil



O Governo do Ceará solicitou estudo para custear a construção de uma linha de transmissão, segundo o secretário da Casa Civil, Chagas Vieira, durante entrevista à Rádio Verdinha (92.5), no fim de fevereiro.

No último dia 27, durante a 32ª edição do evento Energia em Pauta, o secretário de Desenvolvimento Econômico (SDE), Domingos Filho, confirmou que o governo do estado planeja investir R$ 700 milhões nesse projeto. Questionado sobre a inviabilidade da execução da medida, pois apenas o Governo Federal possui competência para planejar e regulamentar tal infraestrutura, ele explicou:

“O governador disse o seguinte: 'Olha, eu preciso disso. O Ceará está precisando disso rapidamente, porque nós estamos instalando data centers. Como essas grandes indústrias vão se instalar se não houver segurança energética? Elas precisam ter a segurança de que terão energia. Então, eu preciso disso e topo, para isso, para dar um sinal para o mercado, para os investidores, dizendo que vai ter energia para dar logo uma tranquilidade. Com isso, se a União me delegar, eu faço pelo Estado”, afirma o secretário.

Nesse cenário, Luís Carlos Queiroz, presidente do Sindienergia-CE, ressalta a atuação do governo e o esforço conjunto para mitigar a crise. “O secretário Domingos Filho destacou que o Governo do Estado está atento à questão das linhas de transmissão, tendo inclusive proposto ao Governo Federal a construção de infraestrutura com recursos próprios do estado. A questão dos cortes também tem sido vista com atenção pelo Sindienergia desde o ano passado, em reuniões com o Governo do Estado e outras entidades”, observa.
O que é uma ZPE


Legenda: A Zona de Processamento de Exportação do Ceará (ZPE Ceará) faz parte do Complexo do Pecém (CIPP S/A), localizado na Região Metropolitana de Fortaleza
Foto: Divulgação



Na prática, as zonas de processamento são áreas de livre comércio com o Exterior, onde são instalados distritos industriais beneficiados com concessões tributárias, liberdade cambial e processos administrativos desburocratizados.

No Brasil, o Ceará e o Piauí são os únicos estados com uma ZPEs em pleno funcionamento no Brasil, apesar desse sistema constar na legislação desde a década de 1980.
O que é um data center


Legenda: Com um investimento de mais de R$ 500 milhões, a V.tal construirá seu segundo data center em Fortaleza
Foto: Divulgação



Um data center, conhecido também como centro de processamento de dados, é uma instalação destinada ao armazenamento e processamento massivo de informações digitais.

Nele, uma infraestrutura robusta composta por servidores, dispositivos de armazenamento e demais equipamentos de rede processa grandes volumes de dados, desde transações financeiras a conteúdos multimídia.
Como é o trâmite para construir uma linha de transmissão

O planejamento e a regulamentação de linhas de transmissão de energia são atribuições do Governo Federal. Cabe ao ministério de Minas e Energia (MME) planejar a expansão do sistema e definir se há necessidades de novas linhas para garantir o fornecimento de energia no País.

Em esforço conjunto, a Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL) estipula as normas para a construção das linhas, fiscaliza o cumprimento dessas regras e promove leilões para conceder a operação das estruturas.

Já o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) fica responsável por coordenar a operação do sistema, viabilizando equilíbrio entre a oferta e a demanda de energia.

Após esse tâmite, são as empresas privadas que vão construir as linhas de transmissão, a partir dos leilões promovidos pela Aneel. As vencedoras investem na construção das linhas e na manutenção durante o período da concessão.

Em nota, a Aneel enfatizou que “as expansões do sistema de transmissão do Brasil são determinadas pelo Poder Concedente, o Ministério de Minas e Energia (MME), por meio do Plano de Outorgas de Transmissão de Energia Elétrica (Potee)”.

“Este documento consolida os resultados dos Estudos de Planejamento da Transmissão, produzidos pela Empresa de Pesquisa Energética-EPE e pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), e define os equipamentos e instalações necessárias ao Sistema Interligado Nacional (SIN)”, completou.

Por fim, a Aneel sublinhou que cabe a ela “licitar ou autorizar as instalações de transmissão planejadas e indicadas pelos órgãos competentes”.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Equilibre sua tireoide: 5 alimentos aliados e quais evitar, segundo especialistas

CATRACA LIVRE História de  André Nicolau   3D Illustration Concept of Human Glands Lobes of Thyroid Gland Anatomy© Fornecido por Catraca Liv...