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terça-feira, 19 de março de 2024

Dia de São José: como estão as nuvens no 19 de março e por que as chuvas são atribuídas ao santo


Escrito por Ednardo Rodrigues, ceara@svm.com.br 
O dia foi instituído pelo Papa IX em 1870, mas ele não disse nada sobre chuva
Legenda: Zona de Convergência Intertropical um dia antes do Dia de São José
Foto: GOES-16/INPE

Ednardo Rodrigues



Um dos meus dias favoritos, o Dia de São José está cercado de mistérios a serem esclarecidos. O dia foi instituído pelo Papa IX em 1870 para ser comemorado no dia 19 de março, mas ele não disse nada sobre chuva. Todos sabemos que o santo associado à chuva é São Pedro, que teria a chave dos céus, não São José. Bom, caro leitor, eu conheço bem o processo de formação de nuvens e, para se formarem, é necessário umidade, partículas de poeira minúsculas (chamadas aerossóis) e baixa temperatura.


Não é necessário nenhuma chave que esteja com Pedro ou José, dois nomes muito populares usados em problemas de matemática do sexto ano. A chave é apenas um símbolo, como tudo na religião que usa uma linguagem poética. Apesar de não ser literal, é cheia de significado.

É provável que durante as festas de São José a céu aberto, as pessoas tenham prestado atenção se o tempo estava chuvoso ou não. Meses depois de trabalhar no campo, as pessoas procuravam alguma explicação para a safra ter sido boa ou ruim. É fácil de lembrar se choveu durante uma festa, assim deve ter ocorrido a primeira associação entre São José e as chuvas. Se tivesse chovido no dia de São José, a colheita seria boa, devido às chuvas seguintes; caso contrário, seria ruim, devido à seca.


Na ciência da computação, chamamos isso de caixa preta, a qual você observa apenas as variáveis de entrada (choveu ou não no dia de São José) e de saída (safra boa ou ruim), sem se preocupar com uma explicação. Podemos aplicar algoritmos de computador chamados de redes neurais baseadas nos neurônios humanos.



Hoje, graças às ciências aeroespaciais, podemos acompanhar a formação de nuvens do espaço por meio de satélites geoestacionários e desvendar este mistério. Um satélite geoestacionário custa cerca 1 bilhão de dólares para ser produzido e colocado em órbita a cerca de 34 mil quilômetros de altitude (cabem mais de cinco planetas Terra dentro desta distância). Eles acompanham a rotação da Terra e parecem estar parados no céu. Por isso são perfeitos para monitorar o clima terrestre.


Vejamos como está a formação de nuvens vista do mais famoso dos satélites geoestacionário, o GOES 16. Eu marquei com um retângulo vermelho, na imagem de capa, em uma região horizontal onde se encontram muitas nuvens. Essa região é chamada de Zona de Convergência Intertropical (ZCIT) e ela muda de posição durante o ano. Observe que ela se encontra bem próxima à Linha do Equador.


Animação do momento das nuvens registradas pelo satélite GOES-16 aos 18 de março de 2024. Créditos: GOES-16/INPE


Estamos nos aproximando do equinócio de outono, no dia 20 de março, ou seja, um dia depois do Dia de São José. O equinócio é quando o Sol está sobre a linha do Equador, aquecendo mais aquela região e promovendo mais evaporação da água, aumentando a umidade e promovendo mais formação de nuvens. Às vezes, o aquecimento das águas do pacífico leva essa zona para muito mais ao norte do Ceará e aqui não chove, chamamos isso de El Niño.



Então, muito provavelmente, quando não chove no dia de São José, é porque coincide com o El Niño.



Repare que ainda vemos nuvens sobre o Ceará, mas Pernambuco quase não está apresentando nuvens. Pois é, a Zona está quase nos deixando, com tendência de redução das chuvas. É muita coragem minha dizer isso, uma vez que passamos por vários alagamentos nos últimos dias, mas é justamente porque essa zona ainda está aqui.

É questão de tempo para o nome José ser incorporado aos livros didáticos de geografia e meteorologia. O nome El Niño também tem influência religiosa associado ao nascimento do menino Jesus. Não vejo problema desde que não seja feito misticismo, contudo, esclarecimento é sempre bem vindo.

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