Dois importantes espaços de preservação de espécies nativas do sertão cearense e do bioma caatinga, localizadas nesta região, sofrem graves ameaças: a Estação Ecológica de Aiuaba e a Reserva Natural Serra das Almas (RNSA), situada neste município. Ambas pedem soluções urgentes para as questões de segurança. Solicitam a instalação de uma unidade da Companhia de Polícia Militar Ambiental (CPMA) neste município para atuar e proteger toda a região.
A RNSA, gerenciada pela Associação Caatinga, está preocupada com a falta de segurança na sua área. Atualmente, conta com quatro guardas ambientais (guarda-parque), insuficientes para proteger a extensa área da Reserva, de 6.146 hectares no sertão de Crateús.
A apreensão é sentida pela comunidade local, que conhece bem de perto a rotina nessas áreas ambientais. A reserva em Crateús é um santuário ecológico no meio do sertão, reconhecida pela Unesco como o primeiro Posto Avançado da Reserva da Biosfera da Caatinga.
Caçadores
Ultimamente tem sofrido invasões de caçadores, que ameaçam as espécies nativas e até os pesquisadores, que vão ao local em busca de novas espécies e de estudos acadêmicos. No início deste ano, a gerência teve que acionar a Polícia quando um grupo de caçadores foi detido no local após a captura de animais.
"Estamos em estado de alerta e muito preocupados com essa situação, pois existe a legislação, mas algumas pessoas insistem em infringir. Aqui temos espécies nativas, que estão em estágio de extinção, além de pesquisadores que veem à Reserva para aprofundar suas observações e pesquisas, bem como estudantes e visitantes. Tudo isso precisa de segurança efetiva, maior do que a que temos atualmente. A região carece urgente de patrulhamento ambiental, de uma unidade situada aqui", salienta Ewerton Torres, gerente da Reserva Serra das Almas.
Segundo ele, as invasões por parte dos caçadores continuam frequentes. Eles entram portando armas, colocam armadilhas para capturar animais endêmicos da caatinga, como foi o caso em janeiro deste ano, que mataram 11 mocós. Chegam a ameaçar os guardas, os quais agem apenas orientando e conscientizando as pessoas que adentram a área.
A Associação já enviou ofícios e documentos a vários órgãos ambientais solicitando providências, segundo a gerência. "Os guardas não usam armas, não tem poder de policiamento, apenas orientam, então fica difícil manter a área protegida contra a ação contínua de caçadores", ressalta Torres.
Ele acrescenta que na região surgem novos espaços de proteção, como as reservas particulares, que também vão necessitar de uma ação policial ambiental.
O caso da Estação Ecológica de Aiuaba é ainda mais grave. Vai além da falta de segurança. A área de 11.525 hectares, uma das poucas áreas de caatinga preservadas na região Nordeste e no Ceará, sofre degradação padecendo de descaso e invasões. Está sem gerência desde 2012, fato já foi divulgado pelo Diário do Nordeste em julho do ano passado, após denúncia do Pacto Ambiental dos Sertões de Crateús e Inhamuns (Parisc).
Desprotegida
O Pacto, inclusive, realizará audiência pública em Aiuaba no próximo dia 27 para tratar do assunto e cobrar ações concretas por parte dos órgãos ambientais estaduais e federais.
"A Estação Ecológica de Aiuaba está entregue a própria sorte, desde dezembro de 2012 está sem gerente, o que está ocasionando danos irreparáveis à região dos Inhamuns e ao bioma caatinga. Os caçadores estão fazendo farra com a matança de pássaros e animais silvestres, além da derrubadas de árvores nativas centenárias. Na Reserva Serra das Almas, no município de Crateús, o problema da insegurança também é preocupante", destaca Jorge de Moura, secretário executivo do Pacto.
Segundo o Pacto, a Estação foi criada há 12 anos e atualmente é administrada pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), autarquia federal vinculada ao Ministério do Meio Ambiente. A sua área de entorno não é regularizada e isso praticamente inviabiliza a captação de recursos para investir em projetos de conservação da fauna e da flora daquela unidade.
Um acordo firmado no ano de 2000 prevê a desapropriação de uma área de dois mil hectares para ser incorporada à unidade como compensação pela perda de área original da Reserva em decorrência da construção do Açude Benguê, pelo Governo do Estado.
O acordo ainda não foi cumprido. Por conta disso, a Reserva não tem definição de sua área de entorno, não pode elaborar um plano de manejo e fica impedida de receber recursos. A indefinição prejudica a conservação e a pesquisa na unidade. A situação é precária", ressalta Moura.
fonte:Jornalista Silvânia Claudino - Diário do Nordeste
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