Matéria 08:38:00
O visitante mais atento que passa por Campos Sales, distante cerca de 150 km de Juazeiro do Norte, percebe que espalhadas pelos bairros há diversas caixas d´águas, pelas ruas caminhões carregam outros tantos vasilhames cheios e, vez ou outra, alguém passa carregando alguns baldes.
A cena é comum na cidade do Cariri Oeste, por ali o problema da falta e da qualidade da água é antigo, e data pelo menos de 15 anos. Com cerca de 30 mil habitantes, Campos Sales também é conhecida como Princesinha, como o Crato. Por lá bate um vento bom e constante, que ajuda na lida em épocas quentes.
Tem jeito de cidade pequena, mas respira com pretensões de gente grande. Mantém um comércio agitado, o Centro já oferece algumas ruas largas, bem sinalizadas - como muita gente gostaria de ver em Juazeiro, por exemplo. As praças são grandes campos abertos, como a da Matriz de Nossa Senhora da Penha.
AÇUDE VAZIO
Como toda cidade do interior, Campos Sales sofre com a estiagem. A chuva que tarda a cair faz sofrer os moradores, que assistiram com tristeza o nível do Açude Poço de Pedra (com capacidade para 52 milhões de m³ )descer tanto até secar no final de maio. "O açude era o passeio de muitas famílias aos domingos, uma imensidão de água e as pessoas passavam o dia banhando", diz Eliane Távora, moradora da rua Valdemar Falcão, no Centro.
Sobre o assunto, a Cagece diz que informa que diante da situação de volume morto executou os serviços de instalação de poços e a construção de adutora, como previsto. Com a utilização, os poços passaram a apresentar baixa vazão, mesmo assim, continuam abastecendo o município.
OPÇÕES
Eliane diz ainda que os moradores passaram a comprar água dos carros que, com a demanda, agora oferecem o produto armazenado na carroceria. Um reservatório de 1000 litros, por exemplo, custa R$ 20,00, a mangueira vai direto do caminhão para dentro de casa - a maneira mais prática, comparado com baldes e mais baldes que seriam necessários.
"A frequência que compramos água varia de acordo com os gastos: comprava de três em três dias, mas passei a reutilizar a água da lavagem de louças e roupa, e hoje compro a cada semana", diz ainda a moradora.
CAIXA D´ÁGUA VAZIA
Este tipo de negócio passou a ser frequente depois que o convênio com caminhões-pipa foi paralisado. Eram eles que abasteciam as caixas d´água espalhadas pela cidade construídas pela Defesa Civil, de onde a população enchia os baldes para lavar louça, tomar banho e etc.
"São essas mesmas caixas que hoje, literalmente, voam quando bate o vento forte". É o que diz o prefeito, Moésio Loiola, que reconhece o problema crônico pelo qual passa a cidade, e admite um colapso na falta de água. "A água que a população usa, é a mesma que chega em minha casa", diz. Houve um mutirão de perfuração de 200 poços em Campos Sales, "a cada cinco, dois não tinham água", relembra o prefeito.
RESISTÊNCIA
Nesse sentido, há um estudo feito por um geólogo do estado, através da Companhia de Gestão de Recursos Hídricos, que, de acordo com Moésio, mantém o suporte. "A gente reconhece que a água não é 100% de qualidade, tanto que a Cegece suspendeu a cobrança há pelo menos três meses.
Apesar de lhe faltar em casa um item básico para qualquer atividade diária, Moésio afirma que há mais do que compreensão, uma "bondade" por parte dos moradores, que reconhecem a gravidade da situação, apesar da gestão municipal.
Os açudes mais próximos e que poderiam atender Campos Sales seriam os de Antonina do Norte ou Assaré, "mas os dois estão com menos de 10% da capacidade, destaca o gestor.
O visitante mais atento que passa por Campos Sales, verá tudo isso e muito mais. Vai ver uma cidade que resiste, como os sertanejos fortes de Euclides da Cunha, mas que nada têm de retirantes; fincaram o pé na terra onde descansa Bárbara de Alencar, mulher forte da história de um povo que luta e vence, todos os dias. (Site Miséria)
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