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segunda-feira, 8 de julho de 2013

Demora da Funasa prejudica população


Os moradores da cidade de Aiuaba, a cerca de 600 quilômetros de Fortaleza, vivem um drama. Os cerca de dez mil moradores que residem na sede do município encravado em pleno Sertão dos Inhamuns estão consumindo água impropria para consumo humano. A reportagem esteve no local e constatou que a água usada pelo povo para beber é completamente insalubre, de cor esverdeada e cheiro forte – longe das características ideais do produto. O ex-prefeito Ramilsom Araújo Moraes denuncia que o problema da água na sede do município é de calamidade pública. “A água está trazendo doenças, principalmente, às crianças, que já estão sendo acometidas de diarreia, coceiras e outros problemas”, relata Moraes.

A doméstica Lívia Alencar também se mostrou indignada com a situação da água. “Essa água está com mau cheiro, não temos como cozinhar, como beber, e o absurdo maior é o fato de que estamos tendo que comprar água até para tomar banho”, relata a trabalhadora, que disse que problemas estomacais estão afetando a todos por conta dessa situação. “As crianças são as mais atingidas, sem falar que a nossa renda como assalariado está comprometida com a compra de água”. Lívia critica ainda o fato de que, com a elevada incidência de problemas de saúde, muitas pessoas não têm condições de transportar os doentes para unidades mais estruturadas em Tauá, Juazeiro do Norte e Arneiroz.

O servidor público Vicente Alves de Alencar, falando à reportagem, engrossou o coro de insatisfações. “É inadmissível estarmos consumindo essa água. Em minha casa, todas as vezes que abro a torneira, a água sai verde, com mau cheiro e barrenta. Estou indignado com esta situação porque eu não tenho condições de estar comprando água mineral para consumir”, denuncia. Ele afirmou temer uma epidemia com o uso contínuo do recurso contaminado. “Estamos deixando de tomar banho porque, quando utilizamos a água, ficamos nos coçando”.

O aposentado Amário de Araújo Nunes também está indignado. “A situação aqui é péssima, e, como não temos alternativa, temos que tomar banho com essa água podre. Ou isso, ou temos que comprar a água ao custo de 1,50 reais o balde para tomarmos banho, cozinhar e beber”. A doméstica Tatiane Araújo relata que, na torneira de sua casa, a água vem, além de esverdeada, com corpos estranhos. “A água -sai verde, está saindo até larva da água e, por não termos água tratada, o meu filho já começou a ter consequências, reclamando de coceiras e com manchas na pele. Também deve diarreia, e, quando eu o levei ao médico, ele disse que era consequência já do uso dessa água”.

Negligência

O ex-prefeito diz que a principal responsável pela atual situação de sofrimento pela qual passam os moradores de Aiuba é a Fundação Nacional de Saúde (Funasa). O órgão, vinculado ao Ministério da Saúde, é uma das instituições do Governo Federal responsável em promover ações de saneamento para prevenção e controle de doenças. É também a instituição responsável por formular e implementar ações de promoção e proteção à saúde relacionadas com as ações estabelecidas pelo Subsistema Nacional de Vigilância em Saúde Ambiental. Entre as atribuições da Funasa, está a realização de ações de prevenção e controle de doenças e agravos ocasionados pela falta ou inadequação nas condições de saneamento básico e a prestação de apoio técnico e/ou financeiro no combate, controle e redução da mortalidade infantil e da incidência de doenças de veiculação hídrica ou causadas pela falta de saneamento básico e ambiental. Ramilsom denuncia que a Funasa vem sendo negligente quanto à liberação de recursos para o melhoramento do sistema de abastecimento de água na cidade. Desde 2010, que o município aguarda uma resposta do órgão sobre essa verba. “A Funasa liberou recursos apenas para algumas comunidades da zona rural, e ficou faltando o investimento para sede do município”, relata. “Temos água para o abastecimento, mas nosso problema é que não temos um sistema que trate essa água”.

Recursos

Ele diz, ainda, que há uma emenda, no Ministério da Saúde, no valor de R$ 200 mil, para reformar e ampliar a estação de tratamento de água, um recurso que, se liberado, seria de fundamental importância para a melhoria da qualidade do recurso hídrico distribuído à população. Essa verba, diz o ex-prefeito, poderia ser usada, por exemplo, “na troca da tubulação, já velha e corroída pela ferrugem”. Ramilsom salienta também que, como água que vem do açude não atende a toda a população, “esses recursos da Fuanasa poderiam servir para aumentar a dimensão dos canos, a fim de possibilitar o aumento de vazão da água do açude, fazendo com que a água chegue a mais gente”. Mas, para tanto, é preciso que a água seja tratada, daí a importância da estação de tratamento. “Para isso, tem que ser feita uma reforma e ampliação do sistema de abastecimento, de modo a ampliar os filtros que limpam a água”.

Para a estação de tratamento, o ex-prefeito diz que seria necessário cerca de R$ 1 milhão. “O município possui R$ 200 mil garantidos pela Funasa. Outros R$ 250 mil podem vir através de uma emenda junto ao Departamento Nacional de Obras contra as Secas (Dnocs). Enquanto isso, a parte que compete à Funasa, que é a do sistema de tratamento de água, está engavetada”, relata.

Até hepatite

A secretária de Saúde do município, Katarine Severiano Feitosa, destaca que o problema da água está ocorrendo em função da falta de saneamento básico na cidade, bem como em função do período de estiagem, “que tem piorado consideravelmente a qualidade dá água”. Ela diz que o Açude dos Camarões, uma das principais fontes fornecedoras de água, está muito abaixo de sua capacidade normal, “e nossa maior preocupação está sendo com as pessoas que têm dado entrada no Hospital Municipal Nossa Senhora do Patrocínio, com casos de diarreia, micoses, problemas estomacais e dois casos de hepatite A”. Ela descartou a possiblidade de epidemia. “Ainda não são casos relevantes, estamos longe de um surto”, mas reconhece que a situação é preocupante. “Estamos trabalhando a conscientização das pessoas e distribuindo hipoclorito”. Katarine relata, por fim, que algumas pacientes mais graves já foram transferidas até para Fortaleza, dada a gravidade da situação. (com informações de Amaury Alencar)

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