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segunda-feira, 22 de abril de 2024

Exploração de minerais ‘do futuro’ é oportunidade para Brasil em mundo que busca reduzir emissões


Apesar de também causar danos ambientais, mineração terá de aumentar para aquecimento global ser detido; tecnologias de energia limpa demandam mais minerais do que as baseadas em combustíveis fósseis


Por Beatriz Bulla e Luciana Dyniewicz


ENVIADA ESPECIAL A CANAÃ DOS CARAJÁS (PA)

ENVIADA ESPECIAL A NAZARENO (MG)

Opainel do pequeno saguão do aeroporto de Parauapebas, no sudeste do Pará, mostra quatro voos vindos de Belo Horizonte para cada aeronave que chega de outra cidade. O vai e vem é de trabalhadores que construíram a carreira na extração de ferro e ouro em Minas Gerais e migraram para o que promete ser um dos polos da mineração brasileira na era da transição energética.

A existência de minério em Carajás não é novidade. Mas, na última década, a região deu um salto em torno de uma nova riqueza: o cobre, um dos minerais do futuro. Encravada em área de floresta amazônica está a mina do Salobo, da Vale, uma das apostas do Brasil para se colocar entre os principais fornecedores de minério para energias limpas e se posicionar como um protagonista global na agenda de economia verde.

Um mundo que busca reduzir suas emissões de carbono precisará de um aumento significativo na mineração, dado que as tecnologias de energia limpa demandam mais minerais do que as baseadas em combustíveis fósseis. Plantas de energia eólica e solar vão precisar de recursos minerais, assim como baterias e linhas de transmissão, que terão de ser reforçadas com o aumento da demanda por energia elétrica.








Maior mina do Brasil para a extração de cobre, o Projeto Salobo, fica no meio de área da Floresta Amazônica no sudeste do Pará


O escoamento do cobre é feito de caminhão até Parauapebas e, de lá, de trem pela Estrada de Ferro Carajás até o Maranhão, onde parte para a Europa


Parte da área da terceira usina do Projeto Salobo, recém inaugurada, que expande a capacidade de beneficiamento de cobre no local


Área da floresta nacional de Carajás, onde está a mina do Salobo. Avanço da mineração na floresta expõe desafio de conciliar preservação e exploração


Primeira mina de cobre do País foi a do Sossego, também explorada pela Vale no sudeste do Pará desde 2004


Para substituir as frotas de carros e mudar a cara do transporte, os minerais também serão críticos. Enquanto um veículo movido à gasolina leva de 15 kg a 20 kg de cobre em sua composição, um elétrico precisa de algo entre 60 kg e 83 kg.

Parece um contrassenso ter de aumentar uma atividade com impactos ambientais significativos para reduzir as emissões, mas, segundo o professor da Universidade de São Paulo (USP) Luis Enrique Sánchez, que trabalha com mineração e meio ambiente, isso será necessário. “A comparação é difícil, porque os componentes do ambiente afetados são diferentes, mas diminuir o uso de combustíveis fósseis é urgente porque o impacto dele no clima é irreversível.” Pesquisas e ações para reduzir o impacto da mineração, no entanto, terão de ser reforçadas, além da reciclagem de metais como o cobre.

Diante dessa necessidade, o crescimento na aplicação de minerais na economia será elevado. Apenas as tecnologias de energia deverão usar anualmente, em 2050, 488% do que o mundo todo produzia de lítio em 2018. Isso se quisermos ter uma chance de 50% de limitar o aumento global da temperatura do planeta em 2°C até 2100. No mesmo cenário, a demanda anual média de minerais passará das atuais 40 milhões de toneladas para 160 milhões em 2050.

Alta procuraEstimativa da demanda média anual por minerais


“O Brasil é muito favorecido sob esse olhar, porque temos uma diversidade geológica muito grande, somos beneficiados tanto em termos de quantidade como de qualidade de substâncias”, afirma Vitor Saback, secretário de Geologia, Mineração e Transformação Mineral do Ministério de Minas e Energia.

Além do cobre - que é um ótimo metal para transmitir energia e, portanto, será usado intensivamente em carros elétricos e na distribuição de energia -, o lítio é outro mineral que o Brasil tem e que será essencial na economia verde. E a 70 quilômetros da histórica São João del Rei (MG), Nazareno – uma cidade com pouco mais de 8 mil habitantes – abriga a primeira mina do País a exportar lítio para a fabricação de baterias de carros elétricos.

Minerais-chaveMateriais que estão entre os mais importantes para a transição energética e cuja oferta precisa ser elevada de forma significativa


Em 2018, a AMG Brasil, uma subsidiária da companhia holandesa AMG, passou a produzir e vender no mercado internacional concentrado de lítio, uma das principais matérias-primas da transição energética. Agora, novas companhias – como a brasileira Sigma Lithium, a americana Atlas, a australiana Latin Resources e a canadense Lithium Ionic – se instalam em uma região mais ao norte de Minas Gerais, no Vale do Jequitinhonha, no que já ficou conhecido como “vale do lítio”.

Os anúncios de exploração indicam que a produção brasileira de lítio vai passar de 10 mil toneladas em 2022 para cem mil até 2030. Hoje, a produção de lítio brasileira está em linha com as reservas conhecidas do material. O País fornece atualmente 1% da oferta global do produto e tem o equivalente a 1% das reservas.



A mina em Nazareno está em expansão. Com um investimento de US$ 50 milhões (cerca de R$ 250 milhões), uma nova linha de processamento de lítio está sendo instalada no local, o que ampliará a capacidade em 45% e reduzirá o tempo em que será possível explorar a mina de 23 para 18 anos.

Até 2017, a AMG trabalhava apenas na mineração de estanho e tântalo, materiais usados em equipamentos eletrônicos e em semicondutores, respectivamente. O lítio que hoje é explorado ali costumava ficar nas montanhas de rejeitos. A demanda crescente pelo produto, sobretudo das montadoras de carros elétricos chineses, fez com que a empresa não só se voltasse ao material que antes era desprezado, como também ampliasse a operação de Nazareno.








Mina da AMG Brasil em Nazareno (MG), onde empresa extrai pegmatito, uma rocha multimineral que dá origem ao lítio





A mina está recebendo US$ 50 milhões em investimentos para ter nova linha de processamento de lítio





Com ampliação da capacidade de processamento, a mina deve se esgotar em 18 anos; sem as obras, tempo de exploração seria de 23 anos





Área de controle de qualidade, ensacamento e expedição de concentrado de espodumênio (matéria-prima do lítio)





Concentrado de espodumênio, material do qual se obtém o lítio



Ao lado da mina, máquinas também trabalham na terraplanagem do terreno onde vai ser instalada uma unidade de refino do concentrado de lítio, o que hoje é feito pela empresa na China. Deverão ser investidos no projeto mais US$ 250 milhões (R$ 1,2 bilhão) e, após a obras (previstas para acabarem no fim de 2025), a AMG deve reduzir as emissões de carbono do processo de fabricação do lítio. Isso porque não precisará enviar mais material para ser refinado na China – a fase final do processo, no entanto, ainda ocorrerá na Alemanha, como acontece hoje.


“Gostaríamos de fazer o refino final também aqui no Brasil. Mas, quando você termina os processos e tem o hidróxido de lítio, você não pode transportá-lo, porque ele perde as características, e as montadoras estão quase todas na Alemanha”

Fabiano Costa

Presidente da AMG no Brasil

Ainda assim, a empresa também terá no Brasil um produto de maior valor agregado. Hoje, ela vende, por exemplo, 700 kg de concentrado de lítio a US$ 1.750. Com esse mesmo volume de material, poderá produzir 100 kg de carbonato de lítio, que valem US$ 2.500, uma diferença de ganho de 43%.
Brasil x mundo

Em 2021, o US Geological Survey’s Mineral Commodity Summary, um relatório do governo dos Estados Unidos estimava que o mundo tinha 86 milhões de toneladas de lítio. Em 2023, o número foi revisado para 98 milhões de toneladas. O mesmo relatório diz que “a segurança do fornecimento de lítio tornou-se uma prioridade máxima para empresas de tecnologia na Europa, nos Estados Unidos e na Ásia”.

A Austrália, sozinha, produziu 40,8% do lítio mundial em 2022, segundo o MineSpans, da consultoria McKinsey. Atrás vieram Chile, China e Argentina. Já o Brasil, segundo o mesmo ranking, vinha em quinto lugar, com 1,6% da produção mundial.

A preocupação com lítio simboliza o problema enfrentado hoje mundialmente: reservas de minerais críticos para a transição energética estão concentradas em alguns países. Os europeus, por exemplo, tentam reduzir sua dependência da China. No ano passado, a Alemanha anunciou que planeja criar um fundo estatal de € 500 milhões (podendo chegar a € 1,1 bilhão) para apoiar iniciativas de mineração. A União Europeia olha com atenção países da América Latina, como o Brasil, que podem ajudar a diversificar o fornecimento dos minerais.



O mundo ainda corre o risco de não conseguir acelerar a oferta de materiais críticos para a transição energética de forma a responder às ambiciosas metas climáticas acordadas pelos países em fóruns multilaterais. Isso porque as minas demoram a sair do papel. Na mina da Vale do Sossego, no Pará, por exemplo, foram oito anos entre a pesquisa de viabilidade e o início da operação.

A China, além de buscar desenvolver suas próprias minas, colocou dinheiro em projetos ao redor do mundo. No Brasil, a chinesa BYD diz que estuda uma joint venture com a Sigma Lithium. O gigante asiático também concentra quase 60% da capacidade de processamento de lítio no mundo. Os Estados Unidos injetaram US$ 1,6 bilhão (o equivalente a R$ 8 bilhões) em 12 projetos ligados ao lítio que receberam recursos da Casa Branca.

Além da expansão da produção de lítio e cobre, já explorados na América Latina, estrangeiros veem na região oportunidade para produzir outros materiais como níquel.

O Brasil não costuma aparecer nos relatórios globais de consultorias e governos quando o tema são os maiores produtores da América Latina de cobre e lítio. O Chile aparece na frente, mas a qualidade do minério chileno tem caído, conforme a idade das minas avança. A Colômbia é apontada como um país da região onde o potencial não é totalmente explorado. Já outros países da região não possuem, segundo analistas e investidores, a estabilidade política, institucional e a infraestrutura já existentes no Brasil para ocupar essa posição rapidamente.
Crescimento

No Pará, o escoamento do cobre é feito de caminhão até Parauapebas e depois, de lá, de trem pela Estrada de Ferro Carajás até Ponta da Madeira, em São Luís do Maranhão, onde parte através do porto para o mercado europeu. O rejeito, que é também a sobra do material mas já após o processo de beneficiamento, é colocado em uma barragem.

A mina do Salobo é um buraco a céu aberto de 300 metros de profundidade e 4 quilômetros de diâmetro, completamente cinza, em meio ao verde da floresta. A previsão é de que chegue até 800 metros de profundidade. No entorno dos andares de pedra e areia por onde passam os caminhões que carregam o material até a usina de beneficiamento estão também as pilhas de estéril – o que sobra no primeiro processo de extração do metal.
Schettino, diretor de operações da mina Salobo: ‘No Chile, cada vez as minas ficam mais velhas. Vejo no Brasil uma oportunidade gigantesca’ • DANIEL TEIXEIRA/ESTADÃO

A Vale também trabalha na ampliação de suas minas no sudeste paraense – em um processo ainda maior que o da AMG. Foi há pouco mais de um ano, em dezembro de 2022, que a terceira usina do Projeto Salobo entrou em operação, para fazer o beneficiamento do cobre no local – após uma injeção de US$ 1,1 bilhão. Em fase de aumento de produção, ela deve fazer a empresa ampliar a capacidade de produção de cobre de 24 milhões de toneladas para 36 milhões por ano.

“A intenção é colocar a empresa entre as maiores produtoras de cobre do mundo”, afirma Antonio Padovezi, chefe de operações da Vale Metais Básicos. Com esse objetivo e diante do aumento da demanda pelo produto, a multinacional separou, no ano passado, sua operação de cobre e níquel na subsidiária Vale Base Metals (VBM), avaliada em US$ 26 bilhões e considerada, agora, a joia da coroa pela empresa.

A mineradora começou a operar no sudeste do Pará em 1985, focada na exploração do minério de ferro, quase vinte anos depois da descoberta do material na região. Em 2004, com a inauguração da Mina do Sossego, a multinacional estreou suas operações de cobre e atualmente conta com a maior mina do Brasil para a extração do minério, o Projeto Salobo.


“O desafio de operar na floresta é garantir capacitação da mão de obra local. Estamos desenvolvendo mão de obra. Quando você opera fora dos grandes centros, têm dificuldade de contratar. É preciso fazer a porta de entrada, contratar pessoas que não têm experiência com mineração e formar esses profissionais aqui dentro”

Vinicius Moreira Assis

Diretor de operações da Mina Sossego

“Provavelmente, em todo o futuro, continuará como a maior mina de cobre do Brasil”, afirma Antonio Schettino, diretor de operações da mina de Salobo. Hoje, o País é o segundo com maior potencial no segmento para a Vale, atrás da Indonésia.

“No Chile, cada vez as minas ficam mais velhas. Vejo no Brasil uma oportunidade gigantesca. Chamamos aqui, a região do Salobo, de Novo Carajás”, afirma Schettino, mineiro que mora no Pará.
Centro de Canaã dos Carajás, que registrou explosão populacional nos últimos anos em razão da exploração de cobre na região • DANIEL TEIXEIRA/ESTADÃO

No Censo de 2022, a cidade de Canaã dos Carajás, onde residem funcionários da Vale, foi a que registrou maior aumento populacional no Brasil em comparação com 2010. São 77 mil habitantes, 188% de crescimento. Parauapebas, outra cidade que reúne trabalhadores da mineradora, registrou aumento de 73% na população local, que chegou a 266 mil pessoas. É difícil encontrar quem não tenha alguma ligação com a atividade da Vale na região.

“Se compararmos o Brasil com o Chile, vemos que ainda estamos iniciando esse processo de produção do cobre. É um processo bem embrionário, mas com grande potencial de crescimento, por todo o potencial que temos nessa região do sudeste do Pará”, afirma Padovezi, chefe de operações da Vale Metais Básicos.

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