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quinta-feira, 18 de abril de 2024

Pecuária verde abrirá espaço para profissionais de economia e TI; faculdades enfrentam desafio


Profissionais devem ingressar no mercado com conhecimento da agenda verde e abertura para novidades; só graduação não vai resolver, diz especialista


Por Jayanne Rodrigues

As novas exigências ambientais estão levando os criadores de gado a rever suas práticas, como manejo do solo e medidas para o bem-estar animal. O cenário, ainda incipiente no Brasil, está impulsionando uma mudança no mercado de trabalho e exige uma formação multidisciplinar. Agora, além de o profissional ter habilidades técnicas, também precisa atender as demandas da chamada agenda verde.

“As grandes empresas estão preocupadas em melhorar a imagem e, ao mesmo tempo, regenerar pastos, porque os recursos naturais entraram em colapso. Então, os profissionais sentiram essa mudança de visão no mercado, até mesmo dentro dos cursos de graduação”, afirma Salete Moraes, pesquisadora de sistemas de produção animal sustentável da Embrapa Semiárido.
Na foto, a pesquisadora Salete Moraes em um dos laboratórios de pesquisa da Embrapa Semiárido, em Petrolina-PE • ADOLFO JUNIOR/ESTADÃO

Como a preparação começa no ensino superior, a tendência é de que as grades curriculares acompanhem a evolução da agenda sustentável, projeta Moraes.

Ela defende que as disciplinas acadêmicas que tratam da agricultura com baixa emissão de carbono e das mudanças climáticas são imprescindíveis nos cursos de agronomia, engenharia agrícola, engenharia florestal, medicina veterinária e zootecnia.


“Tem uma demanda e até uma certa preferência para uma atividade mais verde.”

Salete Moraes

pesquisadora de sistemas de produção animal sustentável da Embrapa Semiárido

O problema é que as universidades brasileiras esbarram no sistema burocrático que envolve a atualização de grade curricular. Com isso, nem sempre as instituições conseguem se nivelar, de forma imediata, com as mudanças aceleradas da sociedade e do mundo do trabalho.

“As universidades que estão antenadas vão inserir as mudanças aos poucos”, avalia Tania Casado, professora titular da FEA/USP. Os núcleos de pesquisa acabam sendo a alternativa mais palpável para os estudantes universitários se profissionalizarem conforme as novas exigências do mercado.
Carreiras de economia e TI se destacam na pecuária verde

Para além do radar dos cursos mais convencionais (engenharias, agronomia e zootecnia) que englobam a agropecuária, outras áreas também passam a ser demandadas na medida em que as tecnologias sustentáveis avançam, sugere Salete Moraes.



Confira abaixo as principais:

● Socioeconomista: organização das informações da produção da pecuária verde, incluindo avaliação econômica das novas tecnologias para que sejam acessíveis aos produtores rurais;

● Modelador de dados: mapeamento dados dos nutrientes do solo e pastagens nativas;

● Piloto de veículos não-tripulados: imagens aéreas e aplicação específica e mais eficiente de inseticidas;

● Sensoriamento remoto: interpretação e monitoramento de imagens para otimizar insumos agrícolas e reduzir impactos ambientais;

● Profissional especializado em IA: desenvolvimento de modelos que simulem processos biológicos dos animais, como desempenho e estimativas de ganho de peso. Profissionais de zootecnia podem usar IA para solução de problemas complexos na produção animal.





Dentro do leque de categorias, ainda não está claro se as empresas estão criando novas vagas para cargos da pecuária verde ou reaproveitando os talentos do mercado de trabalho ou da própria companhia para se adaptar ao cenário atual, ressalta a pesquisadora Salete Moraes.

“É fundamental a inserção dessas habilidades e conhecimentos interagindo para facilitar a tomada de decisões”, diz Moraes.
Além da redução de impactos climáticos, a pesquisadora Salete Moraes defende que a pecuária verde também corrobora para o bem-estar animal • ADOLFO JUNIOR/ESTADÃO

Profissionais interessados em trabalhar no setor devem estar preparados para atuar possivelmente com manejo de solo, melhoramento de espécies forrageiras (utilizadas para alimentar porcos e bois), agricultura de baixo carbono, captação de água do solo, sistemas agroflorestais, mecanização agrícola para novos espaços, fruticultura irrigada (captação de água) e agricultura biossalina (alternativa para o uso de águas salobras e solos afetados por sais na produção vegetal).
Escassez de mão-de-obra capacitada e salários

Embora o mercado tenha evoluído nos últimos anos no que diz respeito a profissões verdes, especialistas ponderam que ainda é cedo para moldar as carreiras. Uma coisa é certa: “a graduação não vai mais resolver sozinha. Temos que focar no aprendizado contínuo”, prevê Tania Casado, da FEA/USP.

A pesquisadora Salete Moraes destaca duas habilidades primordiais para atuar na área: não ser resistente a mudanças e evitar preconceitos pelo o que é novo.


“Apenas um em cada oito profissionais possuem uma ou mais competências verdes. Então, há uma aceleração do crescimento da oferta de empregos e também uma escassez de talentos.”

Guilherme Odri

editor-chefe do LinkedIn Notícias Brasil

A curto prazo, o mercado pode continuar enfrentando escassez de talentos e habilidades. Quem afirma é Guilherme Odri, editor-chefe do LinkedIn Notícias Brasil. “Apenas um em cada oito profissionais possuem uma ou mais competências verdes. Então, há uma aceleração do crescimento da oferta de empregos e também uma escassez de talentos”, aponta.

O piso de um profissional de agronomia e de engenharia agrícola no Brasil gira em torno de 5 a 8 salários mínimos. De acordo com Salete Moraes.

A depender da responsabilidade da atividade verde, a remuneração pode variar de R$ 4 mil a R$ 15 mil, com média de R$ 8 mil.

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