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segunda-feira, 8 de abril de 2024

Mulheres já são quase metade dos médicos do País e passarão a ser maioria na profissão em 2024


Nova edição da pesquisa Demografia Médica, do CFM, mostra que 49,92% dos profissionais são do sexo feminino; veja como maior participação feminina pode alterar o cuidado com o paciente


Por Fabiana Cambricoli
08/04/2024 | 05h00

Pela primeira vez na história do País, o número de mulheres médicas já é quase metade do total de profissionais do País e elas devem superar a quantidade de homens e se tornar maioria na profissão ainda neste ano, conforme mostram dados da nova edição do estudo Demografia Médica, divulgada nesta segunda-feira, 8, pelo Conselho Federal de Medicina (CFM).

De acordo com a pesquisa, que reúne dados atualizados até janeiro deste ano, as mulheres já representam 49,92% dos profissionais, enquanto os homens somam 50,08% do total. Em 1990, somente 30% dos médicos brasileiros eram do sexo feminino.

Há localidades do País em que as mulheres já são maioria, como na cidade de São Paulo, onde elas representam 51,04% da força trabalho da profissão, com 39.721 profissionais.

Segundo o CFM, a ligeira vantagem masculina ainda existente no cenário nacional deverá ser superada neste ano porque, desde 2009, as mulheres já são maioria entre as egressas das faculdades médicas. Entre os profissionais com menos de 40 anos, ela já são 58%. E considerando apenas os médicos que ingressaram no mercado em 2023, 60% eram do sexo feminino.

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“A minha turma da faculdade era composta majoritariamente por mulheres. De 40 alunos, só sete eram homens”, conta a clínica-geral Laura Gomes Flores, de 29 anos, que se formou em 2019 e é médica da retaguarda clínica do plano de saúde Alice.

O relato contrasta com o da oftalmologista Wilma Lelis Barboza, de 57 anos. Formada na década de 1990, a médica e atual presidente do Conselho Brasileiro de Oftalmologia, conta que, na sua turma, 70% dos estudantes eram do sexo masculino. “Havia um predomínio absoluto de homens e essa era a regra para todas as faculdades de Medicina na época”, conta. “Na oftalmologia, quando ia a congressos e reuniões científicas, as mulheres eram 2%, 3%”, diz.

Como alta de mulheres na Medicina muda o cuidado com o paciente

Especialistas e representantes da categoria destacam que a mudança no perfil dos médicos brasileiros tem repercussões também para os pacientes. No estudo divulgado nesta segunda, o CFM ressalta que a evolução na composição de gênero na Medicina “traz consigo novas perspectivas e abordagens para o atendimento à saúde, potencialmente enriquecendo a profissão com experiências e habilidades diversificadas”.

Diz ainda que a prática médica pode sofrer transformações “nas áreas de especialização preferidas, abordagens ao atendimento ao paciente e dinâmicas no local de trabalho”.

Com relação às áreas de especialização, vale lembrar que, embora o País esteja atingindo um equilíbrio de gênero no número total de médicos, há especialidades que ainda mantêm amplo predomínio feminino ou masculino.

Estudo de 2023 conduzido pela Associação Médica Brasileira (AMB) e pela Faculdade de Medicina da USP (FMUSP) mostrou que, em dermatologia, pediatria e endocrinologia, as mulheres somam mais de 70% dos especialistas. Já em áreas como urologia, ortopedia e neurocirurgia, os homens representam mais de 90% dos profissionais. Além disso, apenas 25% dos médicos que atuam em especialidades cirúrgicas são do sexo feminino.

Para Lígia Bahia, médica e professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), a chamada feminização da Medicina é um fenômeno mundial impulsionado pela maior participação das mulheres no mercado de trabalho como um todo e traz um impacto positivo para o paciente ao elevar o número de profissionais que costumam ter mais habilidades relacionais, como a empatia.

“Mulheres são dedicadas, costumam privilegiar a solidez e a qualidade do trabalho em detrimento da competição e valores elevados de remuneração. A presença feminina costuma ser acompanhada por compromisso e maior tempo de permanência com os pacientes”, diz a especialista.

Médicas contam que, de fato, o tabu sobre alguns problemas de saúde e até o medo das pacientes de sofrerem assédio fazem com que algumas mulheres sintam-se mais confortáveis quando atendidas por alguém do mesmo sexo.

“Na minha especialidade, recebo muitas mulheres que contam que estavam em busca de uma médica mulher por sentirem vergonha de passar em um homem”, diz Margareth Fernandes, de 57 anos, cirurgiã geral, proctologista e diretora do serviço de cirurgia geral do Hospital do Servidor Público Estadual de São Paulo.

A cirurgiã e proctologista Margareth Fernandes, diretora do serviço de cirurgia geral do Hospital do Servidor Público Estadual de SP Foto: Nay Santos Foto e Filme

Como mostrou o Estadão, o machismo afeta a saúde das mulheres ao ser reproduzido na Medicina. Estudos já mostraram, por exemplo, que pacientes mulheres têm piores desfechos clínicos se forem operadas por um homem em comparação com aquelas que foram atendidas por uma cirurgiã mulher.

Cargos de liderança ainda são ocupados majoritariamente por homens

Margareth, como cirurgiã e diretora em um hospital de referência, e Wilma, como presidente de uma sociedade médico-científica, são exceções nas posições que ocupam. Isso porque, apesar da paridade de gênero no número de profissionais, os cargos de liderança e de gestão na saúde ainda são majoritariamente ocupados por homens. E mulheres, mesmo que tenham boa formação e títulos acadêmicos, ainda relatam sofrer desconfiança e preconceito.

“A situação melhorou, mas, ainda hoje, a impressão é que a gente precisa ter a melhor formação e o domínio de vários conteúdos para conseguir estar nesses espaços, enquanto os homens podem chegar a esses cargos de liderança com uma carreira média. Parece que somos sempre mais testadas”, diz Wilma.

“Temos que estar muito bem preparadas, fazer todas as especializações para isso não ser usado como argumento contra nós. Eu fui buscar um doutorado para que eu não sofresse nenhum tipo de preconceito por ser mulher”, conta Margareth.

Levantamento feito pelo Estadão mostra que, das 55 sociedades de especialidades filiadas à Associação Médica Brasileira (AMB), só 11 delas (ou 20%) têm mulheres na presidência.
Wilma Lelis Barboza é presidente do Conselho Brasileiro de Oftalmologia, uma das poucas sociedades de especialidades que têm uma mulher na presidência Foto: Arquivo pessoal

No ambiente acadêmico, a predominância masculina também persiste. Laura, por exemplo, conta que, na faculdade em que se formou, o perfil dos professores destoava do dos estudantes - a grande maioria dos docentes eram homens. E relata que, em empregos anteriores, já sofreu preconceito de colegas e pacientes.

Para a médica, a discriminação ocorre de maneira sutil, mas pode ter impacto na carreira e autoestima das profissionais. “Um exemplo desse preconceito é quando o familiar do paciente deseja uma segunda opinião um médico mais velho e do sexo masculino ou então situações que tive empregos negados por estar em idade fértil e com pretensão de engravidar”, conta.

A médica Lilian Cristina Meneguzzo, de 29 anos, também relata ter passado por situações em que se sentiu menosprezada, mas a dificuldade não a afastou de seguir o sonho de atuar em uma especialidade predominantemente masculina: a ortopedia. Ela foi a primeira mulher a fazer residência na área no Hospital Policlínica Pato Branco, no Paraná.

“Às vezes a gente tem que se impor ou falar mais, se explicar mais porque muitas vezes não somos levadas tão a sério. Por outro lado, já tive muitos elogios e agradecimentos por ser uma mulher que estava atendendo porque o paciente precisava de um toque mais sutil”, diz Lilian.

Uma pesquisa feita pelo Research Center, núcleo de pesquisa da Afya, com 254 médicas brasileiras, mostrou que 40% das participantes relataram já ter sofrido assédio moral de colegas, chefes, pacientes ou familiares deles. Cerca de um terço (36%) relatou ainda ter enfrentando desconfiança ao dar um diagnóstico. Em um dos depoimentos dados aos pesquisadores, uma médica participante contou, sob anonimato: “Faço visita como intensivista e sempre perguntam que horas o doutor passa.”

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Tripla jornada feminina é barreira para ascensão na carreira

O maior nível de exigência com as mulheres pode ser um impeditivo para que elas cresçam profissionalmente já que, muitas vezes, a busca por mais experiência e especializações esbarra na dificuldade de conciliar a carreira com a vida pessoal, casamento e maternidade. As dificuldades da tripla jornada feminina são apontadas como uma das razões que as fazem buscar especialidades clínicas e com rotina mais regular.

“Um dos maiores gargalos para maior inclusão é a conciliação entre trabalho, casamento, filhos e cuidados com os pais, que requerem tempo e esforços ainda invisíveis das mulheres. Quando se observa a participação ainda pequena das médicas em algumas especialidades que exigem plantões e múltiplos vínculos, isso fica nítido”, destaca Lígia.

“Algumas alunas minhas falam que me veem como um exemplo, mas que não vão seguir em cirurgia porque não poderiam ter filhos, não poderia ter sua vida. Eu falo que, se é isso que querem, devem seguir e tentar buscar um equilíbrio”, conta Margareth.

A mesma pesquisa do Research Center, da Afya, também perguntou às médicas participantes quais eram os pontos mais prejudiciais para seu crescimento profissional. Em primeiro lugar, com 70% de menções, apareceu justamente a sobrecarga vinda da tentativa de alinhar a vida profissional com a pessoal. Dificuldades para conciliar o emprego com a maternidade e a rotina da profissão também ficaram entre os pontos mais citados.

Para Lígia, para enfrentar a situação, que também ocorre em outras profissões, “é necessário romper padrões para tornar a profissão compatível com namorar, ter lazer, férias e trabalho digno e estável”.

O CFM, por sua vez, diz no estudo que o cenário “desafia as estruturas tradicionais e as normas de gênero na Medicina, abrindo caminho para um ambiente mais inclusivo e diversificado” e “pode servir como um catalisador para abordar questões mais amplas de equidade de gênero no setor de saúde”.

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