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segunda-feira, 6 de junho de 2022

BRAZ CORTEZ: COISAS DA MINHA – O Sonho sob um Vexame


O nordestino pobre que nasce, cresce e morre sem conhecer, sem trabalhar em São Paulo, foge a regra, e é possível que sem esse passaporte, encontre alguma dificuldade na entrevista com São Pedro. Há, com certeza que bem justificar, essa ausência. Aquela metrópole, centro financeiro do país, de pujante economia, colonizada pelo europeu e japonês principalmente, surfou à frente de todos, e hoje, se independente fosse, seria bem colocado no rancing, entre os quase 200 países que compõem a terra. Essa é a realidade. A nossa dívida para com São Paulo é porém de mão dupla. Se lhe devemos o terno de casimira, o dente de ouro, ou trocados economizados, além do aprendizado de um dialeto burguês, a servir tanto de admiração quanto de deboche, às vezes, o construímos também, ou melhor, coadjuvamos na sua construção. Oferecemos mão de obra barata e profícua...

2. Campos Sales (Ce) como já tive oportunidade de enfatizar em alguns escritos, é celeiro de pessoas espirituosas, engraçadas, vivazes. Dentre tantos, há o famoso Antonio Paz, sempre presente. Aliás, como diz Marcondes Figueredo, “se quiser ver Antonio Paz, bote uma ceva de comida, um espetinho de churrasco, de graça....” Pois bem, esse cara, filho de Chico João, integra uma numerosa família, a maioria homens. Desse modo, então, a cada ano, ao completar 18 anos seguia a normalidade – viajava para São Paulo. Nessa época era costume consolidado a condução de um ”frito”, preparado a rigor pela mãe, e se constituía de um capão cevado, frito na gordura e envolvido com farinha de mandioca, acondicionado numa lata. Servia de alimento pelo menos durante uns dois dias, se consumido normalmente....O preparo, feito no dia anterior ao da viagem, inundava toda a casa do cheiro forte da fritura, motivando o menino Antonio a arriscar uma olhadela, na expectativa de fisgar um pedacinho da iguaria. Sorrateiro empurrou levemente a porta da cozinha, e encontrou, porém, a mão da sua mãe no seu rosto, a censurá-lo, “Pra fora moleque, não vês que o capão é pro irmão que vai pra São Paulo” - Passou, então, a partir daí, a contar os dias que faltavam pra completar 18 anos.... e eram muitos.....Agora não era um sonho só, mas dois: conhecer São Paulo e comer o “frito”

3. Espera enfadonha. Até que enfim completa a idade razão – 18 anos. Marcada a viagem, de passagem na mão, aguarda ansioso a realização do primeiro sonho, pra ele, mais importante até – comer o “frito” de um capão, sozinho.

4. Despedidas usuais, choro e recomendações, além do “agnus dei” oculto na carteira, posto pela cuidadosa mãe, embarca com essa lata contendo o “frito” sob o braço, sem dela desgrudar-se. Encoberto o ônibus na última casa da cidade, o viajante, nervoso, realiza o seu sonho e antes de atingir o “Caldeirão” localidade a 5 km de Campos Sales, joga fora a lata vazia, absolutamente vazia e, realizado o primeiro sonho, suspira aliviado!!!

5. Não havia naquela época banheiro nos coletivos. As necessidade eram satisfeitas por ocasião das paradas.... Aliviado? Ledo engano. Eis que, pouco a pouco, se espalha um odor estranho, característico, em todo o ônibus, motivando justas reclamações dos passageiros ao motorista. Insuportável já, o condutor para o veículo. Vexatória situação. -- Facilmente identificado, “o sonhador” é conduzido gentilmente pelo motorista, o levando até a uma lagoa próxima para necessária assepsia. Ainda hoje reclama, não do vexame em si, mas da perda da calça nova, necessariamente substituída......




Brazcortez/03.06.22...


Um comentário:

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