Entre as capitais, Fortaleza aparece na 18ª posição das localidades que oferecem condições ideias para a população
Escrito por Lucas Falconery , lucas.falconery@svm.com.br
Legenda: Estudo analisa possibilidades de desenvolvimento para a população
Foto: Nilton Alves
Eusébio, Juazeiro do Norte e Fortaleza, nesta ordem, são as 3 cidades com os maiores indicadores de qualidade de vida no Ceará, conforme o Índice de Progresso Social (IPS) Brasil 2024, divulgado neste mês. O relatório avaliou os dados de todos os municípios do País e aponta os principais desafios sociais das localidades.
Para elaborar a lista, são analisados 53 indicadores distribuídos em 3 grandes dimensões: Necessidades Humanas Básicas, como alimentação, segurança e saneamento; Fundamentos do Bem-Estar, incluindo saúde; e Oportunidades, como acesso à Educação Superior.
Com base em dados oficiais dos Ministério da Saúde e IBGE, por exemplo, são estabelecidas notas de 0 (pior) a 100 (melhor). De modo geral, o Ceará aparece com índice de 59,71, sendo o 3º melhor resultado entre os estados do Nordeste, atrás de Sergipe (61,20) e Paraíba (60,11).
CONFIRA O RANKING DAS 12 CIDADES COM MELHORES ÍNDICES DO CEARÁEusébio: 64,79
Juazeiro do Norte: 64,58
Fortaleza: 64,42
Crato: 62,86
Sobral: 62,51
Altaneira: 62,47
Granjeiro: 62,01
Pacujá: 61,49
Brejo Santo: 61,24
Iguatu: 61,1
Nova Olinda: 60,95
Icó: 60,72
O estudo foi desenvolvido pelo Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon) em parceria com Fundación Avina, Amazônia 2030, Anattá Pesquisa e Desenvolvimento, Centro de Empreendedorismo da Amazônia e Social Progress Imperative.
Alesandra Benevides, coordenadora do Laboratório de Estudos da Pobreza (LEP) do campus da Universidade Federal do Ceará (UFC) em Sobral, analisa que o País não está bem em relação a nações vizinhas, como a Argentina.
E, regionalmente, os resultados também não são animadores. Avaliando as capitais, Fortaleza está na 18ª posição. "Não adianta ter o maior PIB do Nordeste e ter uma péssima qualidade de vida", pondera.
CONFIRA OS FATORES ANALISADOSNecessidades humanas básicas: Nutrição e Cuidados Médicos Básicos; Água e Saneamento; Moradia; Segurança Pessoal
Fundamentos do Bem-Estar: Acesso ao Conhecimento Básico; Acesso à Informação e Comunicação; Saúde; Qualidade do Meio Ambiente
Oportunidades: Direitos Individuais; Liberdades Individuais e de Escolha; Inclusão Social; Acesso à Educação Superior
Os indicadores apresentados são relevantes porque não avaliam apenas a renda e produção de riquezas, mas fatores como Educação, Saúde e Meio Ambiente, como pontua Alesandra.
“De alguma forma, chama atenção dos gestores públicos para que se façam políticas públicas que melhorem esses índices. Nenhum prefeito com o seu município mal classificado vai gostar de ver a gestão avaliada desse jeito", acrescenta.
O geógrafo Alexandre Queiroz Pereira, membro da Rede Observatório das Metrópoles e colunista do Diário do Nordeste, contextualiza que os resultados também permitem acompanhar a situação individual do município e estabelecer comparativos.
“Esse tipo de informação é usada em estudos técnicos para avaliar se políticas de governo têm impacto na vida das pessoas. Com uma escala de tempo, dá para pensar nessas mudanças e reavaliar políticas públicas”, completa.
O QUE OS RESULTADOS MOSTRAM
Alexandre não vê com surpresa o fato de a capital cearense não estar em primeiro lugar no Estado. “Os índices consideram as desigualdades sociais e no nosso caso, essa heterogeneidade é marcada por uma desigualdade social e de renda que se reflete em oportunidades e nos estudos”, acrescenta.
Dessa forma, o recorte de pessoas vivendo em moradias precárias, com baixa escolaridade e na informalidade tem maior escala na capital também pela concentração de pessoas. “Qualquer percentual de Fortaleza equivale a milhares e até milhões de pessoas”, pontua Alexandre.
Já o Eusébio, na Região Metropolitana, passou a ser interessante para a classe média como uma alternativa de moradia no mercado imobiliário. “Eusébio cresceu numa lógica de homogeneidade social e isso provavelmente leva a que haja uma inflação desses índices sociais positivos”.
Legenda: Eusébio é a cidade mais bem colocada no índice entre os municípios cearenses
Foto: Kid Júnior
Além de um planejamento habitacional, as áreas verdes que estão ligadas à boa qualidade de vida também são mais abundantes nas cidades vizinhas à Capital.
Ao observar Juazeiro do Norte, na Região do Cariri, a cidade desponta pelo acesso à educação, como avalia Alexandre. “É uma das cidades que mais vem crescendo no conceito urbano no Nordeste. Nós falamos muito das romarias, mas há articulação com outras atividades como o Ensino Superior e Juazeiro é um dos maiores centros educacionais da Região”.
Legenda: Juazeiro é a principal cidade do Cariri
Foto: Antônio Rodrigues
ONDE É ‘PIOR’ DE VIVER NO CEARÁ
O Ceará não tem nenhum município no pior nível de pontuação do IPS, mas 4 estão na segunda pior classificação: Aratuba (47,67), Alto Santo (49), Choró (49,3) e Trairi (49,32).
“Nos pequenos municípios, talvez retirando os do litoral por causa da dinâmica do turismo e da energia, há um contexto econômico febril, da agricultura de subsistência. Muitos vão buscar essas necessidades em locais vizinhos ou cidades metropolitanas”, avalia Alexandre.
Legenda: Alto Santo aparece entre as cidades com menores índices de qualidade de vida no Ceará
Foto: Hermann Rabelo
Ainda assim, há vários desafios para o desenvolvimento pleno dessas pessoas. “A depender de cada pólo, ficam a mercê do que oferecem, essas outras cidades tem maioria da população rural e a falta dos serviços de ordem do saneamento básico”, completa.
COMO AVANÇAR?
Aumentar a qualidade de vida nos municípios cearenses depende de uma estrutura forte de governo, como avalia o geógrafo. “Uma estrutura social que pense em investimentos e recursos não numa lógica econômica, mas de correção dessas desigualdades”.
Alexandre exemplifica a rede de escolas públicas que consegue alcançar diversas localidades. “Precisamos consolidar escolas de municípios pequenos com bons resultados, é possível levar dinâmicas modernas para pequenas cidades, trabalhar as ciências produtoras de conhecimento”.
Nós temos muito cérebros e talvez muitas pessoas não descubram as próprias habilidadesAlexandre Queiroz Pereira
Geógrafo
Para Alesandra, os detalhamentos do estudo mostram que faltam políticas públicas para melhorar a qualidade de vida da população. “Dentro de um contexto eleitoral que vamos viver mais intensamente a partir do próximo mês, eu gostaria que esse tipo de índice fosse debatido entre os candidatos com ideias que funcionassem efetivamente”.
Legenda: Especialistas defendem investimentos em educação, saúde, segurança e meio ambiente para aumento da qualidade de vida
Foto: Fabiane de Paula
No Ceará, como analisa, existem 3 prioridades. “Precisamos melhorar a segurança pública, a parte nutricional, ambiental com o Estado em processo de desertificação e os gestores passam por cima desse problema, como se não fosse nos afetar”.
SOBRE O ESTUDO
O Índice de Progresso Social Brasil foi elaborado e lançado pela primeira vez em 2024 com avaliação da qualidade de vida e o desempenho socioambiental dos 5.570 municípios brasileiros.
A proposta é ser uma ferramenta de gestão territorial baseada em dados públicos, que identifica e apresenta, em uma mesma escala, se as pessoas têm o que precisam para prosperar;
Para isso, são avaliadas necessidades básicas como abrigo, alimentação e segurança, acesso à informação e comunicação, e se as pessoas são tratadas igualmente sem diferenciação por gênero, raça ou orientação.
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