CARLOS ALBERTO ALBUQUERQUERESPONSÁVEL PELO BLOG CONEXÃO REGIONAL

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quinta-feira, 27 de fevereiro de 2025

'R$ 50 não dá para fazer nada': alta no preço dos alimentos corrói orçamento de famílias em Fortaleza


Alimentação subiu 7% em 2024 e corresponde a quase 25% do orçamento familiar
Escrito por
Mariana Lemosmariana.lemos@svm.com.br

27 de Fevereiro de 2025 - 14:00

Negócios
Legenda: Com baixas na produção agropecuária e alta do dólar, alimentos tiveram alta de preço em todo o Brasil
Foto: Thiago Gadelha




Parcelar eletrodomésticos em mais prestações. Postergar a compra de uma roupa ou calçado. Deixar o aniversário do filho 'passar em branco', sem grandes comemorações. Esses são alguns dos impactos da alta do preço dos alimentos no orçamento da manicure Dayane Marques da Silva, moradora do Serviluz, em Fortaleza.


“Tá tudo muito caro. O café tá horrível, e a gente não pode viver sem café. A gente compra uma marca que agora está R$ 14, então mudamos para uma marca mais baratinha. Tá tudo 'um absurdo', com R$ 50 não dá para fazer nada”, comenta.

Dayane e o marido, pais de um menino de dez anos, são autônomos e precisam lutar pela renda familiar diariamente. Ela aponta que o aumento do custo de vida tem impactado todas as famílias de sua comunidade.



“A gente tem que ter saúde para trabalhar. Porque se a gente não trabalhar, a gente não tem o que comer. Temos que ir para a rua, encarar a vida. Tem que ter dinheiro todo dia e priorizar, principalmente, os alimentos”, avalia.

A alta nos alimentos impacta intensamente a renda porque a alimentação é o item que tem maior peso nas despesas mensais. Em Fortaleza, os gastos com alimentos e bebidas representam quase 25% do orçamento familiar, segundo dados do IBGE.

O peso dos alimentos para as famílias fortalezenses é maior que na média nacional, que é de 21,6%. Em contrapartida, os fortalezenses gastam menos com despesas pessoais que a média brasileira.


O segundo item que mais pesa o orçamento dos fortalezenses é o transporte — cerca de 19% das despesas mensais são para locomoção. Os gastos com habitação aparecem em seguida, com cerca de 16% do total.

O economista Allisson Martins destaca que é um padrão a alimentação ser o grupo maior peso do orçamento, com peso sempre acima de 20%. “Esse aumento nos preços dos alimentos representa um problema sério para o orçamento das famílias, uma vez que a participação dos gastos com alimentos e bebidas é bastante significativa”, aponta.

A alimentação em Fortaleza foi o segundo item com maior inflação — os preços subiram 6,72% no acumulado de doze meses, conforme o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), a inflação oficial do País. O único item com inflação superior foi a educação, que acumulou alta de 7,98%.

Os itens que ficaram mais caros em 2024 foram laranja (62,64%), café moído (42,85%), alho (31,75%), patinho (24,61%) e acém (23,78%).
ALTA DA ALIMENTAÇÃO EM TODO O PAÍS


A alta na alimentação não se restringiu a locais específicos, como Fortaleza, e pressiona a população de todo o País. O grupo de Alimentação e Bebidas foi o que mais impactou a inflação de 2024, com alta de 7,69% em doze meses.



Isadora Osterno, pesquisadora do FGV/IBRE e Conselheira do Corecon, explica que a alta nos preços se deve a uma menor oferta de produtos. A produção agropecuária brasileira teve uma queda acentuada em 2024, devido a fenômenos climáticos, como El Niño e La Niña.

“Além disso, fatores macroeconômicos que propiciaram a desvalorização do real frente ao dólar favoreceu as exportações de commodities, limitando ainda mais a oferta no mercado interno”, aponta.


Legenda: Alta nos alimentos atinge sobretudo famílias mais pobres
Foto: Fabiane de Paula



A especialista comenta que há sinais de baixas nos preços ao longo de 2025, mesmo que projeções do mercado indiquem que o setor deve pressionar a inflação também este ano.

“O principal fator para isso é a expectativa de recuperação do setor agropecuário, com uma safra esperada mais robusta, o que ampliaria a oferta de algumas commodities agrícolas e ajudaria a reduzir a pressão sobre os preços”, diz.

Não é possível esperar, entretanto, uma queda generalizada nos preços nos supermercados. A economista projeta uma inflação menor do que as projeções atuais do mercado indicam.
SALÁRIO NÃO ACOMPANHA PREÇOS MAIS ALTOS

A situação é ainda mais greve porque há um descompasso entre a alta do preço dos alimentos e o reajuste dos salários dos trabalhos, destaca Reginaldo Aguiar, supervisor técnico do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese).

“Com relação à variação anual, a cesta básica ficou só 13,28% mais cara, um problema grave porque o salário mínimo aumentou só 7,5%”, aponta. Ele reitera o impacto maior para as famílias mais pobres. Aumento da remuneração mínima, que passou para R$ 1.518, é liquidado pela elevação maior no preço dos alimentos.

O Dieese estima que o salário mínimo necessário para uma família de dois adultos e duas crianças deveria ser de R$ 7.156 - quase cinco vezes mais que o mínimo vigente.

Isadora Osterno aponta que, para garantir as compras de itens essenciais, as famílias precisam adotar estratégias de administração do orçamento — em que cada pequena mudança pode gerar uma economia significativa no fim do mês.

“O primeiro passo é a pesquisa de preços. Com a inflação afetando de forma generalizada o setor alimentício, comparar valores entre supermercados, feiras e atacados pode gerar economias significativas.”, orienta.

A especialista aponta ainda que é indispensável separar uma parcela fixa da renda para alimentação, priorizando itens essenciais. “Criar listas antes de ir às compras e reduzir a frequência de idas ao mercado ajudam a manter o controle dos gastos e evitam a aquisição de produtos desnecessários”, aponta.

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