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quinta-feira, 6 de junho de 2024

Autismo, um alerta à sociedade


Escrito por Adalberto Barreto, ceara@svm.com.br 
Para entendermos o autismo temos que correlacionar com a ética e os valores que estruturam o desenvolvimento humano de nossas famílias e sociedades
Legenda: Para cada 36 crianças nascidas, um caso de autismo
Foto: Shutterstock

Adalberto Barreto



O autismo tem surgido em nossas sociedades como um meteorito iluminando o firmamento. Estima-se em mais de 6 milhões de autistas no mundo. Para cada 36 crianças nascidas, um caso de autismo. É raro a família que não convive com esta realidade.


Para entendermos um fenômeno, precisamos contextualizá-lo. Para entendermos a tragédia climática do Rio Grande do Sul, temos que correlacionar com o aquecimento global por conta de um modelo de desenvolvimento econômico predatório, comprometendo o futuro do planeta. Para entendermos o autismo temos que correlacionar com a ética e os valores que estruturam o desenvolvimento humano de nossas famílias e sociedades. Uma, pela poluição atmosférica e a outra, pela poluição das relações interpessoais.

Uma criança diagnosticada com o espectro autista é muito sensível aos ruídos. Apresenta dificuldade de comunicação, de fazer amigos, de interagir na família, na escola, ignora outras crianças, e até mesmo seus irmãos e vive em uma bolha de proteção contra o mundo exterior, visto como algo ameaçador à sua integridade. Sabemos que o autismo tem causas genéticas e ambientais. Quando se fala de causas ambientais, muitos se limitam a exposição de toxinas, medicamentos, infeções da mãe durante a gravidez, a idade avançada dos pais e complicações no parto ou no período neonatal, inseminação artificial. Sempre numa perspectiva de causalidade linear, material, física.



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Gostaria de chamar a atenção, sobre um outro aspecto da dimensão psicossocial, sistêmica do Distúrbio do Espectro Autista, nunca mencionado. Qual o contexto de nossa sociedade? Com a internet, o acesso à comunicação se intensificou, tanto em quantidade quanto em qualidade. Poluição na comunicação, onde verdades e mentiras confundem as pessoas. E isso em todos os setores.


No campo alimentar aparecem receitas e alertas a certos alimentos, os mesmos que condenados por uns, são aconselhados por outros. As redes sociais estão a cada instante trazendo notícias inquietantes e estressantes. Em quem acreditar? O estresse tóxico e a violência diária na família, pais que deveriam cuidar, proteger seus filhos, maltratam, violentam e os abandonam. Feminicídios diante dos próprios filhos, amizades desfeitas em famílias por questões religiosas ou ideológicas. Divórcios traumáticos, onde os filhos tornam-se moeda de exigências e pressão no processo de separação.

A família que deveria proteger seus filhos, torna-se espaço de negligência e maus-tratos. O ambiente toxico prolongado nas relações familiares compromete o desenvolvimento saudável de seus filhos. As escolas estimulando a competição entre os alunos geram estresse suplementar à vida escolar. A nível mundial as guerras obrigando famílias e populações inteiras a abandonar suas casas, suas terras, suas culturas. Pessoas mortas por expressarem uma fé diferente de outras. Fake News que alimentam o ódio fratricida. Tudo isso trazido pelas mídias globais para a cabeça de todos nós.


Como num ambiente de intolerância, violência e estresse tóxico, uma vida pode se desenvolver? Entre outros, não seria o comportamento do espectro autista uma reação a este contexto familiar e social tóxico, marcado por contradições e ambivalências? Isolar-se não seria uma estratégia de sobrevivência das crianças sensíveis?



Se eu olho e ouço eu sofro. Como não quero sofrer, me isolo, anestesio meus sentimentos, entro em minha bolha protetora. Se o segredo da vida é trocar energia, comunicar, quando me isolo, padeço da morte relacional. Será que nossos autistas se recusam a viver uma vida sem perspectiva de um futuro promissor? Seu silêncio seria uma maneira de não se engajar em uma comunicação barulhenta e desestruturante? Isolar-se dos irmãos em sua casa, não seria uma maneira de auto exclusão de conviver numa família tóxica? Ele desempenha um sacro+ofício, e sacrifica sua vida relacional e existencial, numa perspectiva de poder saná-la.

VALORES

Reduzir o autismo a uma doença genética ou bioquímica, limita o uso de recursos valiosos tanto no tratamento do autismo como no tratamento e promoção da vida de toda a sociedade e de toda a humanidade. A pesquisa científica deve aprimorar o tratamento medicamentoso, mas a família, a escola e a sociedade, precisam rever seus valores, suas metas.

O autista é o profeta dos tempos modernos que no seu silêncio eloquente, nos convida a repensar o futuro das relações interpessoais. Não seria uma das missões do autista, convidar a todos a repensar os valores de nossa civilização? Tenho testemunhado que a família que tem um autista, está saindo de seu gueto tóxico, pedindo ajuda e se humanizando.

A cura do autismo, a inserção dele, passa pela consciência da família, da escola e da sociedade que o afeto, o acolhimento e o amparo ao diferente é indispensável a todo ser vivo. Essa compreensão sistêmica, é imprescindível para se compreender os efeitos maléficos produzidos por uma sociedade competitiva e excludente.


Chegou o momento de rever nossos relacionamentos tanto na família na escola como na sociedade. Que nossa sociedade seja mais respeitosa e inclusiva. Que esta preocupação e amor que os pais dedicam a seus filhos autistas, seja traduzido em mudanças de comportamento e atitudes de toda a sociedade.

O tratamento deste distúrbio passa sobretudo por mudanças estruturais e ecossistêmicas. Precisamos tomar consciência que do mesmo jeito que geramos novas vidas, podemos destruí-las, assassiná-las, comprometer o futuro delas e de toda a humanidade. Não seria o autismo uma maneira da criança dizer: este mundo competitivo, desumano não me interessa, neste mundo não quero viver. Esta percepção sistêmica do autismo nos faz compreender que todos somos parte do problema e parte da solução.

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