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quinta-feira, 21 de novembro de 2024

O que precisa mudar na formação dos médicos para dar conta de um Brasil cada vez mais idoso?


Especializações, como gerontólogos e odontogeriatras, têm de crescer, mas todos os profissionais necessitam lidar com esse público

Por Paulo Reda

De acordo com dados do último censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o total de pessoas com mais de 50 anos já ultrapassou a marca de 55 milhões, o que representa 26% da população brasileira. Um dos reflexos desse envelhecimento é a necessidade do sistema de Saúde se adaptar às peculiaridades no atendimento. Os cursos superiores de Saúde ainda enfrentam desafios e resistências.

De acordo com Patrícia Ferreira, coordenadora do programa de longevidade da Rede D’Or, o número de geriatras em atividade é insuficiente. “Uma das questões é que o Brasil envelheceu antes de enriquecer.”

Brasil possui 55 milhões de pessoas com mais de 50 anos, aponta o IBGE. Foto: interstid/Adobe Stock

Para ela, o País precisa investir na formação de gerontólogos e odontogeriatras, além de psicólogos e fisioterapeutas especializados nessa faixa etária. Ela esclarece que hoje a maioria das faculdades de Medicina já mantém um currículo específico. “A questão do envelhecimento atravessa quase todas as especialidades. É preciso melhorar a formação básica de todos os profissionais de Saúde para atender essa faixa etária e educá-los para essa situação.”

Patrícia observa que ainda existem dificuldades para atrair o interesse dos estudantes para essas especialidades. “Uma delas é a questão do tempo que o profissional precisa dedicar ao paciente. É também uma população que tem mais doenças crônicas, o que exige uma avaliação ampla. Na Rede D’Or, temos esse trabalho com profissionais de todas as áreas. É necessário acolher essa população, que não para de crescer e tem necessidades específicas.”

Outro aspecto que merece ser analisado com atenção é a concentração de geriatras nas regiões Sudeste e Sul do País. “Existem divergências econômicas e geográficas que precisam ser enfrentadas.”


Patrícia Ferreira, coordenadora do programa de longevidade da Rede D’Or, reforça que o Brasil precisa investir na formação de gerontólogos e odontogeriatras, além de psicólogos e fisioterapeutas. Foto: Divulgação

Luciana Machado Paschoal, geriatra e preceptora da residência de geriatria do Hospital Israelita Albert Einstein, acredita que durante a formação médica é importante destacar as peculiaridades das pessoas com mais de 50 anos. “É um desafio educacional. Todos os formandos precisam ter experiência para lidar com essa faixa etária, que geralmente convive com mais comorbidades e síndromes geriátricas, o que muitas vezes exige avaliação multidisciplinar.”

De acordo com ela, a Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia já oferece orientações específicas, mas nem todas as faculdades seguem. “Nos nossos cursos, a Saúde do Idoso já está incluída como disciplina do 3.º ano e os estudantes passam por estágios específicos.”

A existência de uma disciplina específica ajuda, pois reforça o trabalho com as particularidades e integra aspectos físicos, psicológicos e sociais. Luciana explica, porém, que o número de profissionais dedicados a esse segmento ainda não acompanha o crescimento da população mais idosa.

Conforme André Fattori, docente responsável pela área de Geriatria na Faculdade de Medicina da Unicamp, o que acontece de modo geral é que não existe uma legislação sobre incluir o cuidado com idosos na formação dos estudantes da área de Saúde. “Não conseguimos acompanhar o desenvolvimento dessa faixa etária. Estamos em uma fase de transição.”

De acordo com ele, o atendimento à população idosa é uma área para o futuro, mas que exige boa vontade pessoal dos profissionais, algo completamente diferente de uma rotina. “O paciente pode ter complicações físicas que dificultam a comunicação e a mobilidade. É preciso ter disponibilidade de tempo.”

Segundo Fattori, nos países de primeiro mundo o envelhecimento foi mais lento. “Eles se adaptaram melhor. Aqui estamos sendo atropelados. Daqui a alguns anos a população com mais de 65 anos pode superar a de crianças com menos de 10 anos.”


Por isso, existe uma insistência muito grande da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia na necessidade de supervisão qualificada dos novos profissionais que vão atuar com essa faixa etária e também com a reformulação dos currículos dos cursos superiores. “Enquanto isso não for institucionalizado, vamos sempre postergar essa formação.”

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Campanhas expõem preocupação com o diagnóstico de câncer

O público com mais de 50 anos tem até 11 vezes mais risco de desenvolver câncer, segundo a Comissão de Oncogeriatria da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia. Por isso, com marco nessa faixa etária, os cuidados com a Saúde se intensificam, o que faz com que campanhas sejam realizadas para diagnóstico e tratamento precoces, como o Outubro Rosa e o Novembro Azul.

De acordo com Renata Maciel, chefe da Divisão de Detecção Precoce do Instituto Nacional do Câncer, o aumento de procura por esses procedimentos ocorre durante a realização das campanhas, mas cuidados precisam ser adotados o ano inteiro e orientações podem ser obtidas em www.inca.gov.br.


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Ela ressalta que no caso do câncer de mama alguns cuidados podem ser tomados para evitar a ocorrência da doença, como reduzir o uso de álcool, ter uma alimentação saudável e realizar atividade física. No caso do tumor de próstata, “se for constatado qualquer sintoma em relação ao sistema urinário, como dificuldade em urinar, o homem deve procurar imediatamente um serviço de Saúde.”

Paulo Hoff, presidente da Oncologia da Rede D’Or, alerta que entre os cânceres que mais preocupam estão exatamente esses dois. “A política brasileira para se fazer a prevenção do câncer de mama é razoável, a de próstata ainda não.”

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