Escrito por Egídio Serpa, egidio.serpa@svm.com.br
Inflação em alta e gastos do governo levaram o Comitê de Política Monetária do Banco Central a elevar em 0,50% a taxa básica de juros Selic. Comprar a prazo ficará mais caro.
Legenda: A inflação está subindo e os gastos do governo, também. Resultado: o Copom do BC aumentou de novo a taxa de juros.
Foto: Fabiane de Paul / SVM
Egídio Serpa
Apertem os cintos, que o avião da economia brasileira está entrando numa zona de muita turbulência!.
Esta é a conclusão que se extrai do comunicado emitido pelo Comitê de Política Monetária, o Copom, do Banco Central, que ontem, como era previsto, aumentou de 10,75 pontos percentuais para 11,25 pontos percentuais a taxa básica de juros Selic.
Isto quer dizer que ficará bem mais caro comprar à prestação automóvel, refrigerador, fogão e, principalmente, a casa própria.
A culpa é da inflação e da política fiscal do governo.
Segundo o comunicado do Copom, a inflação no Brasil permanecerá acima da meta por mais tempo do que o estimado, ele parece ter razão: de acordo com o último Boletim Focus do Banco Central, divulgado segunda-feira, 8, o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), que é o índice oficial da inflação brasileira, fechará este 2024 em 4,55%, ou seja, acima da banda superior da meta, que é de 3%, podendo variar 1,5% para cima ou para baixo.
Economistas que analisaram o comunicado do Copom disseram ontem à noite que a elevação da taxa Selic, que ontem foi de 0,50% (meio ponto percentual), poderá chegar a 0,75 ponto percentual na reunião de dezembro.
A maioria das opiniões, porém, foi no sentido de que o Copom fará nova alta de meio ponto percentual em dezembro, devendo repeti-la nas próximas reuniões até maio do próximo ano.
Resumindo: os juros continuarão subindo como providência técnica para baixar a inflação. E mais: diante de juros mais altos, os investimentos privados serão reduzidos, porque será difícil investir diante das incertezas da economia e de financiamentos mais caros.
Mas esse roteiro sombrio pode ser mudado, se o governo do presidente Lula anunciar hoje, amanhã ou na próxima semana, como promete, um pacote robusto de ajuste fiscal que reduza suas despesas e permita o equilíbrio das contas públicas, que seguem perigosamente deterioradas, com déficits que só fazem crescer.
Esse pacote já deveria ter sido anunciado, mas foi atrasado porque surgiram graves divergências dentro do Palácio do Planalto e do PT: uma parte do governo e a cúpula do PT querem que se mantenham os gastos, principalmente na área social, onde está o grande eleitorado do Partido dos Trabalhadores.
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e sua colega do Planejamento, Simone Tebet estão, praticamente sozinhos, tentando elaborar o que o mercado chama de pacote fiscal robusto, ou seja, com cortes profundos no orçamento, inclusive atingindo – do que o verbo atingir tem de mais deletério – as dotações orçamentárias dos ministérios da Saúde e da Educação.
Para entornar o caldo, há o novo cenário externo que surgiu da eleição de Donald Trump para a presidência dos EUA. Ele ameaça taxar as importações da China em 60% e em 20% as dos demais países, inclusive o Brasil, o que significará a redução das vendas dos produtos brasileiros para a mais rica nação do mundo.
A cotação do dólar frente ao real, embora tenha caído ontem, segue muito alta, e isto terá reflexo direto na inflação, pois vão aumentar os preços de tudo o que é importado, a começar pelo trigo do pãozinho de cada dia e dos princípios ativos dos medicamentos que produz a indústria farmacêutica nacional.
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