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quinta-feira, 13 de junho de 2024

Opinião |Só faltava o arroz subsidiado ter a estampa de Lula e Janja na embalagem


Fracasso de leilão do produto destinado às vítimas no Rio Grande do Sul simboliza a mentalidade petista de governar



Por Fabiano Lana



O fracasso do leilão de 263 mil toneladas de arroz ao custo de R$ 1,3 bilhão para compensar a crise provocada pelas enchentes no Rio Grande do Sul simboliza, em um mesmo caso, toda a mentalidade petista de governar. Temos no cardápio tentativa de intervenção no mercado, populismo rastaquera em nome de causas humanitárias, oportunismo político, obsessão por melhores índices de popularidade e propaganda eleitoral às margens da lei. Por fim, como sobremesa, incompetência para levar à frente certos planos canhestros.

Que as chuvas torrenciais no Rio Grande do Sul exigiam ação firme do Estado, isso não resta nenhuma dúvida. É preciso ser um bolsonarista doidivanas para afirmar que a rede de auxílios ocorreu sem a presença dos governos federal, estadual e municipal, em conjunto. É preciso ser um petista sem coração com traços que beiram a psicopatia (ocorreram uns casos) para considerar que os gaúchos precisavam ser punidos pelas águas por causa do voto majoritário em Jair Bolsonaro nas últimas eleições presidenciais.

O presidente Lula e a primeira-dama Janja fizeram viagens ao Rio Grande do Sul após as enchentes. Foto: RICARDO STUCKERT/PRESIDENCIA DA REPUBLICA Foto: Ricardo Stuckert


Mas o governo federal resolveu transformar a tragédia numa janela de oportunidade para se recuperar junto à população, para ficar bem na fita. Até porque bons números na economia em períodos de guerras culturais não são mais suficientes para deixar os índices de aprovação lá em cima.

Para começar, foi comovente o esforço da primeira-dama Rosângela Lula da Silva, a Janja, de se tornar uma espécie de Evita Perón nacional junto aos atingidos pelas cheias. Seja adotando cachorros vira-latas ou posando em fotos instagramáveis com mantimentos no avião presidencial. O presidente Lula pelo menos, foi um pouco mais institucional, no começo, ao oferecer ajuda à região em dificuldade. Mas logo anteviu uma oportunidade política e nomeou o provável candidato petista ao governo do estado, o então secretário de Comunicação Paulo Pimenta como uma espécie de interventor no RS. É a natureza do escorpião político, não perde uma oportunidade.

Mas nada supera a questão do arroz. Para começar, a insistência em importar o cereal quando os produtores informavam que não havia tal necessidade. Pela razão alegada de que a maioria absoluta da safra já havia sido colhida. A consequência seria um desequilíbrio nos preços e prejuízos para o agricultor brasileiro.

A obsessão por intervir, entretanto, era apenas um pano de fundo. O tal arroz subsidiado ao preço de R$ 4 quilo teria um selo do governo federal para deixar claro quem seria o autor da benesse. É preciso um esforço monumental para pensar que se tratava apenas uma ação humanitária, sem qualquer interesse eleitoral. Os mais cínicos, por outro lado, devem ter pensado que a intenção oculta era vender os pacotes com a imagem do casal Lula-Janja na estampa. Mas talvez aí teria sido um pouco demais, apesar de que se não houvesse os limites institucionais essa situação de realismo mágico latino-americano não fosse inconcebível. Fica a ideia para quem ainda é autor nesse movimento literário com fortes raízes na atuação de nossos dirigentes reais.

Neste final antecipado da história, com o cancelamento da operação, prevaleceu certa incompetência de levar o plano à frente. Empresas tidas como incapazes venceram o leilão, como um pequeno estabelecimento que vende queijos mineiros no interior do Amapá, que arrematou R$ 736 milhões para 147,3 mil toneladas do produto – revelação deste Estadão, registre-se.

Havia entre os intermediadores do leilão também o advogado Robson França, ex-assessor de um ex-ministro da Dilma, Neri Geller, que chefiava a secretaria de Agricultura do ministério da Agricultura, pasta que conduziriam o processo. Esse ex-funcionário, Robson, é também sócio do filho de Geller (o nome remete a um ilusionista israelense que ficou famoso por entortar garfos e facas com a mente, o Uri Geller).

Enfim, os cozinheiros fizeram uma confusão, o arroz amargou, começou a cheirar mal e queimou. Restou ao chef Lula dar uma bronca em seus auxiliares, cancelarem o leilão (por enquanto), demitirem a autoridade responsável que estava por perto, o supracitado Geller. Resta agora esperar o novo plano infalível do governo para obter o aplauso popular. Logo os influencers de Janja poderão ter outra ideia.

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