COISAS DA MINHA TERRA ----Aguçado sentimento!
O tempo passa muito devagar nas cidadezinhas do interior. Os dias são muito longos, e mais ainda, na minha Campos Sales ( que insisto em reverenciá-la com o seu antigo e sugestivo nome de Nova Roma), onde o “não ter o que fazer” agrupa cotidianamente, em volta da banca de revistas do “cego Ita” (onde a mercadoria principal é bebida; de “ita” não tem nada e de cego muito menos!), um batalhão de desocupados a bebericar ou simplesmente trocar informações e “fuxicos” do cotidiano social envolvendo desde “aquele” comerciante que está “ruim das pernas” (em dificuldades financeiras), até o fulano que está sendo “fantasiado” ( traído pela consorte).
Orlando Duarte (de saudosa memória), lendária figura, com os seus noventa e seis anos, é presença garantida nos três expedientes. Fazendo-se distante, cabeça baixa, ouve tudo e de quando em vez, tira de sua computadorizada memória, uma história, um fato, algo sempre interessante ocorrido, que contado com o seu jeito peculiar, descontrai e colore o ambiente de um humor contagiante!
Ao apelo da idade, imprime disciplina aos horários de suas necessidades de alimentação e repouso. E então, no cumprimento de uma dessas, levanta e se dirige para sua casa que fica próxima. Cuidadoso, aguarda a passagem de motos e carros, antes de atravessar a rua.
O álcool, como é cediço, encerra uma série de malefícios, mas pelo menos um beneficio - aguça o sentimento -. Batista, meu parente e amigo, assíduo freqüentador da roda, já havia ingerido algumas “onofrinas”, ao lado do inseparável companheiro Luiz Cueca. De repente, ao observar a precaução do Seu Orlando, de pronto larga o copo, e acompanhado pelo amigo, com extrema e exagerada delicadeza - sentimento de solidariedade aguçado -, ambos cambaleando, segura o idoso pelo braço e quase deitando sob o protegido, assegura: “....não se preocupe não Seu Orlando, nós atravessaremos a rua com o senhor....” Nós quem? Indaga o idoso, olhando de soslaio, por sobre o ombro - Eu e o Luiz Cueca. Ah!, sim, e fico muito agradecido.... mas cadê a outra? – pergunta Orlando. – Mas que outra? –indaga com dificuldade o solicito bêbado - Ao que fulmina Orlando: A OUTRA PESSOA PARA TRAZER VOCÊS DE VOLTA!? E assim, ao desvincular-se deles, ainda assistiu ao tombo dos dois, que foram se ter próximo ao local de onde saíram! Neste ínterim, generaliza-=se estrondosas gargalhadas na banca do “cego ita”!!!! (brazcortez)
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