COISAS DA MINHA TERRA... Estranha coincidência
Enganam-se os que pensam que as roupas pré-fabricadas (confecções) existem há um tempo em que a nossa memória não alcança. Quem sobrevive há mais de meio século, lembra muito bem, de que nossas roupas eram feitas sob encomenda, com a compra e entrega do “corte” ao alfaiate, quando não “costuradas” pela própria dona da casa, nas folgas da labuta diária, ou no silêncio da noite, enquanto a família dormia.
Um desses alfaiates - prestigiados profissionais - era o Sr: Doca Costa que residia, exatamente em frente a casa do meu avô Severo Cortez, hoje a Loja ZENIR. Homem probo, de tradicional família, não fugia a regra: era pai de numerosa prole, obedecendo a uma “escadinha” com intervalos de pouco mais de ano, de um filho para o outro. Esta comum situação o obrigava a um labor diuturno a fim de “criar” – como o fez –todos os filhos dignamente, valendo-se de suas ajuda, adequando, conforme a idade, o trabalho de cada um.
Um deles, Chagas, meu amigo, já adolescente, era o encarregado das compras de botões, linhas, etc., Certo dia, ao cumprir a sua missão, tornara o seu pai impaciente ante a incomum e injustificável demora. Finalmente, já após esgotado o limite de tolerância patriarcal, eis que o portador sobe os dois degraus, indo fazer no assoalho de madeira da sala, onde eram realizados os serviços, estranho barulho. O Seu Doca, olhando por cima dos óculos, vislumbra o estado do seu preposto, identificando de pronto, inconfundível embriaguez. De “metro” na mão, passou a inquiri-lo com a autoridade de um pai daquela época: “...Oh!, mas que diacho é isto? Que capeta te pregou tamanha peça, moleque. Cadê os botões e o troco....e que situação é esta?” - “Pai, pai não bata n’eu, pois não tenho culpa, não tenho culpa”, repetia apressadamente. –“Mas como não tens culpa, seu...”- gritava o Seu Doca perplexo – “Pai, pai, me ouça ....eu ia passando na calçada do bar do Seu Miguel Cortez....” dizia com dificuldade – “Sim, sim e daí, que tem Miguel com isso” – insistia impaciente. – “Pai...eu fui passando e fui olhando pra dentro do bar....e nesta hora fui dando um espirro” – resmungava Chagas. “ Onde tu quer chegar, moleque safado... me diz ” – “.....sim e na hora do espirro, o ‘Chico da Onça’, foi jogando um resto de cachaça na rua...e caiu dentro da minha boca, pai, ...eu juro por Deus...” E seu Doca, atônito ante tão inusitada coincidência, gritou – “E por que você não cuspiu ?” E Chagas, concluindo -“...Pai, pai eu não pude cuspir porque a cachaça já caiu depois do pinguelo da garganta!”
A reação não podia ser outra. Mas, ao baixar a arma ( o “metro”) no espinhaço do depoente, encontrou a providencial mão da esposa, amparando-a. A mãe, sempre a mãe, com a sua ingênua bondade e peculiar misericórdia!: – “Doca, não faça isso, quem sabe se você não está cometendo uma injustiça!”. E agarrando o filho, o conduziu a um bom banho frio de cuia, no quintal da casa!!!
Brazcortez:04.08.2012
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