COISAS DA MINHA TERRA – Um Morto Vivo
A espécie humana, habite ela em qualquer parte do planeta, caracteriza-se também pela diversidade dos seus comportamentos. De norte a sul, de leste a oeste, existem pessoas com condutas absolutamente distintas – de circunspectas a extrovertidas, de calmas, serenas a inquietas a extressadas, de jocosas, espirituosas, engraçadas a chatas, burlescos, caricatas ou carrancudas. Convivem essa diversidade de naturezas, desde as grandes cidades, aos menores povoados ou até mesmo no seio da própria comunidade familiar.
2. Eu já tive a oportunidade, em outros escritos, de expressar o meu sentimento em relação aos comportamentos do povo das cidadezinhas do interior, onde, talvez, pela própria ociosidade, a existência de pessoas interessantes, espirituosas, se nos afigura mais expressiva. E vejo que nossa Campos Sales (ex-Nova Roma), não foge à regra. Ao contrário, abriga e cultua uma verdadeira legião de humoristas!
3. Pois bem, há assim, a contrariedade de naturezas, como dissemos, na própria unidade familiar. Numa delas, por exemplo, cujo patrono de nome Chico João, que fixando moradia por aqui, vindo de Lavras da Mangabeira, na década de 50, produziu numerosa prole. De conduta ilibada, hoje octogenário, vê seus filhos, quase todos morando aqui, bem posicionados social e economicamente. Dentre tantos, dois se destacam pela contrariedade de naturezas; Zé Preto e Antonio Paz. Um, circunspeto, calmo, sereno, o outro extrovertido, inquieto, espirituoso.
4. Antonio Paz, o gaiato, então faz de tudo, joga em toda posição. Agricultor, criador de bode a patos, comerciante fixo e ambulante, propagandista, empresário de artista, “roleiro” etc etc. Há algum tempo, enquanto dono de uma casa de forró, contratou, como de costume, um cantor brega, na época muito em voga – Bartô Galeno - para uma apresentação no distrito de Carmelópolis . Antes de fechar o contrato para qualquer show, se apegava, sob promessas, com o santo de sua devoção a fim de evitar “catástrofes” –, tais como chuva, ou algo fortuito que inviabilizasse a sua realização
5. Casa lotada e duas filas enormes na bilheteria. O dinheiro apurado já pagava de sobra o cachê do artista. Saiu fora, e rindo à toa, com alegria estampada no rosto. Já fazia planos – um carro novo, reforma do prédio, uns dois dias de farra, ah! e suspirou: agora. Com carro novo e dinheiro conquistaria a sua “princesa” – O espaço escolhido não cabia mais ninguém. No improviso, conseguiu dois caminhões e os colocou colados à parede, permitindo que de cima, visualizasse o cantor, cobrando “meia entrada”. O som começa o ensaio – alô som, alô som....som, som....... E foi então que, enquanto guardava no veículo um pacote de dinheiro, uma senhora da localidade tocou-lhe as costas; - Moço, o senhor é o dono da festa? - E ele, presumindo um elogio = - Sou sim e estou sempre às suas ordens - E ela, Senhor eu venho lhe avisar que “fulano de tal” , acabou de MORRER !!!! Ora, “catástrofe” maior não poderia acontecer! Tratava-se de pessoa muito influente, já doente há muitos meses e jamais poderia haver qualquer manifestação de alegria no distrito! Enquanto isso, a noticia disseminada ouvido a ouvido já promovia uma revolução no interior do espaço, com as pessoas exigindo a devolução do valor do ingresso.
6. Deitado na calçada da igrejinha, levado que fora desmaiado, nos braços de alguns, e agora semi consciente sendo abanado por um enfermeiro improvisado e já com dois comprimidos de “isordil” sob a língua, o empresário Antonio Paz repetia sem parar ( enquanto pela sua visão turva se lhe passava a imagem do seu santo) - NÃO SENHORA, FULANO DE TAL NÃO MORREU, ELE NÃO MORREU, ELE SIMPLESMENTE DESCANSOU. QUEM ESTÁ MORTO SOU EU, QUEM ESTÁ MORTO DE SOU EU...
brazcortez-jun-18
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