COISAS
DA MINHA TERRA- Estranha Cirurgia
Outro
dia, enquanto ufanisticamente procurava enaltecer a minha terra, o atento
interlocutor, admirado, e querendo certificar-se da veracidade do relato, ante o entusiasmo
empregado na narração, acabou fulminando: - mas lá PRESTA| mesmo-? Não, respondi-lhe, contrariando toda a argumentação já feita. Mas, concluindo – NÃO. E LÁ SÓ É BOM PORQUE NÃO PRESTA!!! –
Força
de expressão, recurso de linguagem, frase de efeito,trocadilho, enfim,
artifício lingüístico qualquer para expressar a riqueza de fatos pitorescos que
inundam, de maneira muito singular, a história da minha terra, antiga Nova
Roma. Bonita e sugestiva designação, que a política de então, acabou por
substituir pela a atual, divorciando de sua origem italiana, protagonizada por
alguns imigrantes – Epifânio e Cortez – que, juntando-se aos nativos, ajudaram
a fundá-la. Dentre milhares de fatos, um agora, me ocorre lembrar.
Corria
a década de 60. Só existia um médico na
cidade.: Dr: Cícero Ferreira, potiguar de Pau dos Ferros, consorte de Dona Niva
Lima, filha do chefe político, Sr: Hélio Lima, de saudosa memória. Recém
formado, espalhou, mercê de sua extraordinária competência, justa fama em toda
região! Sério, lhano, atencioso, incansável, humano, sisudo, inteligentíssimo,
determinado, corajoso, montou sozinho uma precária Casa de Saúde. Lá, por imposição das circunstancias, fazia
de tudo. De parto, as mais complexas cirurgias. Não havia outro meio. Clinico,
pediatra, psicólogo, ginecologista, cirurgião, anestegista, etc, etc. Competentíssimo
e vocacionado, não se tem notícia de um erro médico sequer, nem de uma pessoa
que não a tenha socorrido!
Eis
que num determinado dia de domingo, tomba próximo ao Araripe, um caminhão “pau
de arara” que transportava um time de
futebol e seus torcedores, vitimando praticamente toda a lotação.Dr: Cícero,
ocupou-se dos mais graves,
evidentemente. Era uma correria só. Fraturas expostas, traumatismos de toda
ordem, vísceras dilaceradas... um cenário de guerra! O médico, então, delegou
ao seu “auxiliar”, Orlando Duarte que já, àépoca, o coadjuvava
em cirurgias, os trabalhos mais simples.
E eis que o nosso querido amigo Orlando, afilhado do meu avô Severo, espirituoso,
perspicaz, inteligentíssimo, deparou-se com um acidentado com enorme golpe nos
supercílios e claro sinal de ingestão da “onofrina”. Previdente e bem ensinado,
cuidou em desinfetar a região. E não
hesitou: Derramou na cavidade aberta, um inteiro vidro de álcool, e enquanto
realizava a costura,admoestava de forma muito particular e engraçada,
censurando a maneira do lazer escolhida pelo paciente, e dizia
- “ta vendo o que você ganhou? Se tivesse em casa com a família..... “ –
E sob os gritos de dor e farta incontinência urinária do vitimado, continuava a
“cirurgia”, sem proposital preocupação com a forma da costura, quando então,
concluída, foi indagado pelo
enfermo. - Pronto “doutor”-? - Dessa você está salvo! – respondeu o
improvisado doutor, já se preparando para um novo mister, quando
foi surpreendido: -“ Mas doutor e eu vou
ficar assim toda a vida?” – Assim como? – fingindo alheio ao fato, indagava
Orlando. – Assim.... com os olhos ABERTOS! –
dizia, com ar de preocupação “-
Vai ficar sim. O gafanhoto não “bate pestana” e nem por isso morre! Desse jeito,
você fica enxergando muito mais e
melhor., não? – sentenciou o cirurgião –Sim, até aí tudo bem. – respondeu o
conformado paciente, concluindo: - mas
como faço pra dormir com os olhos abertos?” E o nosso Orlando, jocosamente, mastigando de
forma muito particular, palavra, por palavra, fulminou: “ – É muito fácil. Basta você
colocar um pano preto no rosto!! –
Nisso, uma gostosa gargalhada ecoa no corredor da Casa! Era do sisudo doutor
Cícero....que como todos nós, já era também um admirador das “tiradas” dos nosso amigo
Orlando Duarte!
Brazcortez....
kkkkkkk... sensacional!
ResponderExcluirO escritor Braz Cortez, lembrando do Seu Orlando Duarte, pense em um cidadão cidadão de inteligência ímpar. E as tiradas dele, Seu Orlando, ficaram na história da nossa Nova Roma. Um forte abraço, professor Braz.
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