Estranha fragrância...
> As gerações mais novas não imaginam quão
> provincial era a nossa Campos Sales há 50 anos. Basicamente
> duas ruas, as atuais, Julio Norões e Bárbara de Alencar,
> sem uma pedra de calçamento. A praça da Matriz e a Hélio
> Lima, o bar Caracol, na” bomba”, e o de Miguel
> Cortez ( meu pai) na praça da Matriz. Um recém instalado
> posto de gasolina de Antonio Cassimiro, e a ponte sobre o
> riacho caldeirão se constituíam em atrações para
> as visitas e passeios das moças
> “soçaites” ao final da tarde!
>
> Festas na cidade, longe uma das outras, ocorriam na
> Prefeitura, ou no próprio bar do Sr: Miguel,
> transformado em clube. No interior do município os
> “forrós”, então chamados de “sambas” eram raros.
> Quando havia, eram animados por sanfoneiros da região, que
> dentre muitos, se destaca o famoso Chico Triunfo, que tanto
> tocava bem quanto bebia muito. A noticia de “samba”
> corria os quatro cantos do município, de boca em boca e, ao
> contrário de hoje, tinha início logo ao escurecer e
> findava com o raiar do sol, sob tênue iluminação de
> candeeiros e puxado a muita bebida “quente”,
> preferentemente, conhaque “São João da Barra” e a
> “Rabo de Galo” ( mistura de cachaça com o vermute
> Cinzano).
>
> Anunciada há muitos dias, só se falava num “samba” que
> iria acontecer nos “Inhamuns”, reduto da
> tradicional e importante família Feitosa, conquanto
> envolvia dois atrativos extras: o toque do sanfoneiro
> Chico Triunfo e a relativa segurança proporcionada pela
> respeitada família. O deslocamento se dava através de
> cavalos, à pé, e os mais abastados, de jeep, meio de
> transporte, com os quais a cidade contava com três ou
> quatro exemplares, um dos quais, à época, de aluguel,
> pertencia ao saudoso Toinzinho Simão, era sempre
> requisitado para o transporte dos sanfoneiros, em face da
> responsabilidade e pericia demonstradas pelo proprietário e
> “choufer”, submetido a várias horas de viagem em
> estrada da pior qualidade.
>
> Tudo pronto. Veículo revisado e abastecido com bebida para
> o sanfoneiro e auxiliares e na comitiva, o sempre presente o
> também saudoso Salim Simão, comerciante e pessoa muito
> querida na cidade e irmão do Sr: Toinzinho.
> Saíram cedo, e no declínio do sol estavam sendo
> recepcionados por muito festeiros espalhados pelo terreiro
> da casa.
>
>
> Ao escurecer, sob gritos de alegria dos presentes,
> ecoou serra a dentro o ronco dos 120
> baixos interpretando conhecida melodia do
> Rei do Baião. E logo a espaçosa sala de barro batido e
> aguado se encheu de pares dançando. Donzelas
> rodopiavam fogosas no salão. O cheiro do perfume barato
> misturava-se ao aroma da bebida evaporada. Era muito
> suor e muito mais alegria. Chico Triunfo caprichava Tocava
> Luiz Gonzaga, intercalando alguma marchinha de campanha
> política O cheiro forte do cigarro brabo tomava conta do
> salão.
>
> Lá pras tantas, uma desavença. No terreiro escuro, salvo o
> espaço correspondente à porta, iluminado pela tênue luz
> das lamparinas da sala, lâminas de facas,
> espelhavam no preto da noite. E eis que de repente,
> estampidos de rabo-de-égua (pistola calibre 22 de dois
> tiros) cortam o silêncio da encosta da serra, provocando
> incontrolável alvoroço.
>
> Salim, a esta altura e logo na primeira
> escaramuça, marcou lugar para se abrigar. Era
> deficiente físico e por isso, precavido, marcara uma cerca
> próxima para se proteger que ao transpor com
> dificuldade, escorregou numa vara lisa de marmeleiro, indo
> cair da outro lado , no exato momento em que novo
> tiro, agora de espingarda lazarina ressoa sobre sua cabeça.
>
>
> Contidos os brigões, após alguns minutos, volta a sanfona
> a tocar. Salim, porém, trêmulo e em estado de choque grita
> desesperado pelo seu irmão. – Toinzinho!.....
> Toinzinho!!!.... E este ao responder e buscando localizar o
> autor dos gritos, foi se aproximando no escuro.
> Próximo da “vítima” interroga – O que foi
> Salim? - E Salim aos berros: - Meu irmão,
> meu irmão, diga-me logo..... sangue fede a
> m...........? E Toinzinho, de pronto – Fede, sim porque?
> – E Salim ainda deitado...... pois corra
> logo e me socorra com pressa ... me leve pra Dr: Meton
> pois estou todo ferido!!!
Braz Cortez.
O professor Braz não escreve, desenha com as letras, a história de nossa querida Campos Sales. ZW.
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