Intenção é aplicar provas em 180 cidades para preencher cerca de 8 mil vagas em órgãos federais. Possível 'padronização de conteúdos' é o que mais atrai quem foca na carreira de servidor público.
Por Nat Coutinho*, g1 DF
27/08/2023 08h31 Atualizado há 2 horas
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Imagem mostra estudante escrevendo redação de concurso — Foto: Pexels/Reprodução
O Ministério da Gestão e Inovação em Serviços Públicos começou a discutir, nesta sexta-feira (25), a criação de um "concurso nacional unificado". De acordo com a pasta, a ideia é que a prova seja realizada em 180 cidades a fim de preencher cerca de 8 mil vagas em diversos órgãos federais.
O sistema seria similar ao Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), em que a nota do aluno é usada por faculdades e universidades em todo o Brasil. O g1 conversou com concurseiros e professores de cursos preparatórios sobre a possibilidade de mudança e como ela afetaria a rotina de estudos.
Para quem foca na carreira de servidor público, e para quem prepara os candidatos, a "padronização de conteúdos" pode ser um ganho (veja abaixo o que eles dizem). De acordo com o secretário de Gestão de Pessoas do Ministério da Gestão, José Celso Cardoso Jr., a ideia é realizar uma prova única para o preenchimento das vagas abertas no serviço público federal.
Segundo o secretário, a adesão dos ministérios ao Concurso Nacional Unificado é voluntária, e o edital deve ser publicado até dezembro. A aplicação da prova está prevista para 25 de fevereiro de 2024 (saiba mais abaixo).
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O que pensam os concurseiros
Marcos Montebello, de 24 anos, acredita que a proposta é positiva em relação a uma possível padronização de conteúdo. No entanto, para o estudante, o nível de cobrança provavelmente cresceria "devido ao aumento da concorrência".
"Como os conteúdos das provas estão ficando cada vez mais específicos e aprofundados de acordo com a área de serviço seria difícil conciliar todas essas áreas em uma prova só", avalia Marcos.
Marcos afirma que a rotina de estudos, apesar das possíveis mudanças, não sofreria alterações. "De um jeito ou de outro, o método para o concurseiro continuaria o mesmo: muitas horas de dedicação e estudo".
Ele acha que a ideia de um Concurso Nacional Unificado pode funcionar, mas é necessário planejamento.
"Pelo fato de ter uma dificílima implementação, é preciso ser feito com muita calma, planejamento e transparência. Por um lado seria bom, pois teria mais oferta de vagas e criaria um modelo-padrão de provas. Por outro lado, esse sistema poderia dar margem à inúmeras irregularidades", aponta ele.
Victor Mota, de 31 anos, acredita que o novo formato facilitaria o estudo. "Há muitos concurseiros, como eu, que objetivam aprovação em diferentes órgãos, considerando remuneração, localidade, escopo do trabalho. Para quem 'atira para diferentes lados' isso pode ser muito benéfico", diz o estudante.
Entretanto, ele acredita que, apesar de ser uma proposta positiva, é preciso ser bem elaborada "para que os níveis das provas sejam condizentes com os órgãos que serão lotados por meio delas". Victor ainda aponta para a segurança do processo.
"Lembro que o Enem teve alguns problemas em relação a isso. É de conhecimento que o concurso público também está sujeito a esse problema de segurança. Creio que o Enem amadureceu bastante desde que se tornou uma prova unificada para ingresso nas universidades e o concurso unificado pode aprender com esse exemplo", diz Victor.
A opinião de quem prepara candidatos
O professor Antônio Junior, diretor do IMP Concursos, afirma que a mudança facilitaria as aulas. "Acredito que com as disciplinas e seus respectivos conteúdos já pré-definidos facilita tanto para o aluno como para o professor. Acaba com aquela correria de se preparar em 45 dias", diz.
"Quando saem os editais com provas marcadas para 45 dias após o edital, em média, eliminam vários possíveis candidatos que precisariam estudar uma série de conteúdos em um tempo exíguo. Acredito que se democratiza mais o acesso ao cargo público e o futuro servidor se prepara mais a médio prazo", diz o professor.
Outro benefício observado por Antônio Junior é a qualidade do candidato selecionado, uma vez que o mais proficiente, em um universo maior, acabaria sendo convocado. Para ele, o concurso unificado "funcionaria muito bem".
"A ideia me agrada e acho que democratizaria o acesso ao cargo público, com mais economia, selecionando melhores candidatos, com risco-fraude e risco-judicialização bem mais baixos", diz o professor.
O que se sabe sobre a proposta do Concurso Nacional Unificado
De acordo com o Ministério da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos, a meta é realizar a prova em cerca de 180 cidades, simultaneamente. A data provável é 25 de fevereiro do ano que vem, e a prova seria dividida em duas partes, aplicadas no mesmo dia:
Provas objetivas com matriz comum a todos os candidatos
Provas específicas e dissertativas por blocos temáticos
A proposta é divulgar os resultados gerais da primeira fase até o final de abril, e o início dos cursos de formação seria entre junho e julho do ano que vem.
Ainda conforme o ministério, o certame será organizado a partir de uma Coordenação Geral composta pelo Ministério da Gestão e da Inovação (MGI), o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP), o Instituto de Pesquisa Econômico Aplicada (IPEA), a Escola Nacional de Administração Pública (ENAP) e a Advocacia Geral da União (AGU).
"Este arranjo prevê também a participação ativa das comissões setoriais de cada um dos órgãos envolvidos, cujos representantes formariam o Comitê Consultivo/Deliberativo", diz a pasta.
O Ministério da Gestão e da Inovação diz que pretende publicar os detalhes da estrutura de governança do concursos federal unificado até setembro. Na última sexta-feira (25), a pasta também lançou o Guia Referencial para Concursos Públicos, um documento que sistematiza as orientações para os processos de elaboração dos certames.
Veja aqui o guia
*Sob supervisão de Maria Helena Martinho.
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