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sábado, 4 de março de 2017

INHAMUNS Família serve de exemplo para pequenos produtores do sertão



O segredo é simples: assistência técnica, visão empreendedora e muita dedicação dos horticultores



O sucesso do casal foi rápido, mas a história de empreendedorismo é marcada por dificuldades e foi vencida graças à persistência de Verônica ( Fotos: Honório Barbosa )
 Honório Barbosa - Colaborador


Quiterianópolis. Vem do sítio Monteiro, zona rural deste município, do Sertão dos Inhamuns, o exemplo de que é possível produzir hortaliças orgânicas e obter boa renda com a comercialização das folhas no mercado regional. Uma unidade agrícola familiar tornou-se referência e vem ampliando os negócios a cada ano. O segredo: assistência técnica, visão empreendedora e dedicação.

O casal, Jackson Lira, 48, e Verônica Gomes Lira, 42, começou com a atividade agrícola em uma pequena área, em torno de 1.700 metros quadrados, quando instalou, em 2009, os primeiros canteiros para produzir coentro e cebolinha, o cheiro-verde. De lá para cá, muita coisa mudou. A área foi ampliada para seis hectares e o faturamento familiar anual chega a R$ 200 mil.

Reconhecimento

O empreendedorismo familiar obteve destaque e, em dezembro do ano passado, a agricultora Verônica Gomes Lira recebeu da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Ceará (Ematerce) o prêmio de 'Agricultora Empreendedora'. "Foi uma alegria imensa, um frio na barriga e fiquei muito feliz, entusiasmada a continuar produzindo", disse. "Enfrentamos dificuldades, mas vencemos", completou e fez questão de agradecer à Ematerce pelo apoio recebido em cursos e assistência técnica.

Persistência

O sucesso do casal foi alcançado rapidamente, mas a curta história de empreendedorismo é marcada por dificuldades e foi vencida graças à persistência e vontade de Verônica Lira. Em 2008, ela participou, na localidade de São Pedro, no Assentamento Luar do Sertão, de um curso oferecido pela Ematerce de agricultura familiar e implantação de uma mandala, um sistema produtivo localizado e sustentável de hortaliças, frutas e peixe.

O incentivo veio do agente rural Douglas Mota, que viu na agricultora tradicional um potencial de desenvolvimento. No treinamento, durante um mês, foram dadas noções de associativismo, comercialização, irrigação localizada, produção orgânica. Cada participante recebeu um kit de irrigação, com canos, conexões, aspersores, bomba e motor.

"Nos primeiros anos, enfrentamos obstáculos por causa da escassez de água, perfuramos mais dois poços e deu certo", contou Verônica. Antes, porém, para implantar a mandala não havia terreno disponível. "A nossa área era muito pequena", contou. "O vizinho resolveu vender, após intermediação da Ematerce, e ampliamos para três hectares", explicou. Outros três hectares foram adquiridos pelo casal recentemente.

Evolução

Jackson inicialmente, em 2010, vendia as verduras na própria comunidade, a pé, percorrendo as casas. "Depois veio uma bicicleta e as coisas estavam melhorando", disse. "Criei coragem e passamos a produzir, além do coentro e cebolinha, cenoura, alface, beterraba, berinjela", acrescentou. O casal investiu cerca de R$ 90 mil na unidade produtiva, que se tornou modelo na região. "É uma referência e o grande diferencial aqui é a produção orgânica, sem agrotóxicos", observou Renato Carvalho, gerente regional da Ematerce. "Com produtos de qualidade, o mercado abre as portas", destacou.

Atualmente, o casal comercializa, em média, por mês, R$ 15 mil; e um supermercado em Crateús é um dos grandes compradores. Há ainda uma cota anual de R$ 9 mil para o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) e de R$ 1.600 mensais para o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE). A unidade produtiva conta com três empregados diretos e atende a revendedores de municípios vizinhos.

Duas vezes por semana, Jackson Lira, percorre 60Km até Crateús para vender de verduras em supermercado, padarias e feirantes. "A nossa mandala transformou-se em um quintal produtivo em expansão", disse Verônica Lira. "Agradeço o apoio do coordenador estadual de mandalas da Ematerce, José Ximenes. Ele sempre acreditou em mim", ressaltou. No início, houve também a orientação do agrônomo da Ematerce, Ítalo Capistrano.

Nas margens do Rio Poti, a propriedade da família é favorecida com água existente no subsolo. "Esse casal teve um foco, uma determinação. Tem vocação para o empreendedorismo", destacou o vereador Antônio Neto Lacerda. Ele observou que outras mandalas implantadas não deram certo. Douglas Mota reafirma: "Eles acreditaram, trabalham com afinco e aceitaram o uso de novas tecnologias de produção. Isso fez diferença".

O município de Quiterianópolis hoje é um dos centros de produção de hortifrutigranjeiros. Há uma associação de irrigantes do Vale do São Francisco. O agente rural Douglas Mota é um dos produtores de hortaliças. Além de orientar e dar assistência técnica às famílias, decidiu também produzir para ampliar a renda familiar.

Trajetória

Verônica e Jackson Lira têm origem comum em famílias de pequenos agricultores, que a cada ano enfrentavam o desafio de produzir cultura de sequeiro, que depende exclusivamente das chuvas. Seguiram a tradição local de começar a trabalhar cedo, na roça, ainda criança e adolescente, ajudando os pais.

Casaram em 1992 e dois anos depois, mediante a dificuldade de trabalho, resolveram ir para São Paulo. "Foi por causa da seca, do desemprego", conta a agricultora. Jackson trabalhava em uma fábrica de massas, mas, em 2003, sofreu um acidente doméstico, que lhe trouxe dores constantes.

Os dois resolveram retornar para o Ceará. "Viemos para a casa dos pais, mas quatro meses depois compramos um lote para construir a nossa casa", contou. De volta ao trabalho na roça, no primeiro ano, colheram 21 sacas de 60 quilos de feijão e 30 de milho.

Em 2008, ocorreu uma tragédia familiar. A filha de 15 anos, ao descer do transporte escolar, foi atropelada por um caminhão. Para ajudar a superar a dor, Verônica decidiu fazer o curso de empreendedorismo na agricultura familiar e investir na produção de hortaliças. "É uma dor inesquecível", disse.

O presidente da Ematerce, Antônio Amorim, nos últimos meses do ano passado, percorreu vários municípios do Estado do Ceará para planejar ações para 2017 e conhecer experiências exitosas. "Fiquei encantado com a determinação, o trabalho e o sucesso alcançado pela agricultora Verônica em parceria com o marido", frisou.

"É um exemplo para outros pequenos produtores que podem crescer na atividade", disse. Amorim frisou, ainda, que há dezenas de casos de êxito em diversas regiões do Estado. "Às vezes é preciso só orientação, organização", finalizou.

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